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Desenrola ajuda, mas não basta contra inadimplência, dizem economistas

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles elogiam programa de renegociação de dívidas, mas alertam para juros altos e necessidade de alta adesão

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Depois de muitas idas e vindas, o governo federal finalmente lançou o Desenrola, programa de renegociação de dívidas que, segundo o Ministério da Fazenda, deve beneficiar até 70 milhões de pessoas. A medida provisória que cria o programa foi publicada nesta terça-feira (6/6).

O Desenrola é voltado para pessoas físicas e o público atendido será dividido em duas faixas: quem recebe até dois salários mínimos ou está inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (faixa 1); e quem tem dívidas no banco, que poderá ser beneficiado com a possibilidade de uma renegociação de forma direta (faixa 2).

O programa será executado em três etapas: publicação da MP (já efetuada); adesão dos credores e realização de leilão; e adesão dos devedores e período de renegociação. A previsão é que as renegociações comecem em julho, quando os credores poderão se cadastrar em uma plataforma digital.

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles elogiaram as diretrizes divulgadas pelo governo e classificaram o Desenrola, em linhas gerais, como um bom ponto de partida para a redução da inadimplência no Brasil. Entretanto, dizem os analistas, o programa não será suficiente para uma mudança estrutural significativa, se não vier acompanhado por outras medidas.

“O governo vai ajudar a limpar o nome das pessoas para que voltem a contratar crédito ou ter acesso a outros serviços, mas não podemos esquecer que há um processo de empobrecimento da população brasileira”, afirma André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

Para o economista, o problema “conjuntural” vai muito além do Desenrola. “Embora o programa ofereça benefícios aos bancos que aderirem, como maior liquidez, continuamos com uma taxa de juros muito elevada, o que desestimula os bancos a emprestarem dinheiro via crédito ou financiamento”, diz. “Além disso, há um excesso de recuperações judiciais e falências no Brasil, o que faz com que os bancos diminuam sua exposição ao risco. Ou seja, não necessariamente é algo que provocará uma mudança significativa do ponto de vista estrutural.”

Adesão será o maior desafio

Para Carla Beni Menezes de Aguiar, professora de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), o maior desafio do Desenrola será a adesão dos inadimplentes ao programa, sobretudo das pessoas físicas.

“Para que isso funcione, será preciso haver uma grande adesão tanto das pessoas quanto das empresas. O grande desafio será conseguir a adesão das pessoas”, afirma. “Acredito que as empresas serão as primeiras a ter interesse. Agora, para as pessoas aderirem, é necessário um trabalho maior de divulgação. Você precisará usar um celular porque serão feitos leilões com os credores, tudo de forma digital.”

Carla observa, no entanto, que é possível haver uma surpresa em relação ao nível de engajamento dos cidadãos – como ocorreu com o Pix, sistema de transferências e pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central (BC). “Como nós temos dados surpreendentes de adesão de Pix, por exemplo, é possível que as pessoas, até por necessidade e urgência, façam essa adesão e busquem uma solução”, projeta.

Educação financeira

De acordo com o Ministério da Fazenda, os beneficiários do Desenrola serão incentivados a realizar um curso de educação financeira, que estará disponível no momento da habilitação ao programa. Para os economistas, a medida é positiva.

“A educação financeira é fundamental. Existe um tabu no Brasil para se falar sobre dinheiro. Quando você paga alguém, normalmente a pessoa não confere o dinheiro na sua frente porque, socialmente, seria como se houvesse uma desconfiança da parte dela. É uma construção social. Nós não trabalhamos com a ideia de que o dinheiro foi feito para ser contado”, explica Carla.

Apesar de elogiar a iniciativa, André Galhardo afirma que “os problemas vão além” da educação financeira. “O problema não é só a conscientização. É claro que todo curso é bem-vindo, mas a pessoa que toma crédito no cheque especial para pagar contas do dia a dia está pagando uma taxa de juros totalmente proibitiva”, diz. “Se ela ficar inadimplente, isso vira uma bola de neve impagável. Os programas de conscientização são importantes, mas é preciso muito mais do que isso.”

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