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Desaba a chance de novo corte da Selic em junho; entenda por quê

Economistas acreditam que contínuas projeções de aumentos da inflação para os próximos anos detonam possibilidade de redução dos juros

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Imagem de uma mão mexendo com dados em que aparecem símbolos de porcentagem e o nome "Selic", em alusão à taxa de juros - Metrópoles
1 de 1 Imagem de uma mão mexendo com dados em que aparecem símbolos de porcentagem e o nome "Selic", em alusão à taxa de juros - Metrópoles - Foto: Getty Images

Entre especialistas, estão ruindo velozmente as previsões de um novo corte da taxa básica de juros do país, a Selic, nos dias 18 e 19 de junho, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Um novo golpe em tais expectativas foi dado nesta segunda-feira (3/6), com a divulgação do Relatório Focus, o levantamento semanal feito pelo BC com analistas de mercado.

Isso porque a pesquisa trouxe novas projeções de avanços do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2024, 2025 e 2026. E o que a estimativa de alta nos preços tem a ver com a Selic? Tudo. O Banco Central usa os juros básicos como o principal instrumento de política monetária para conter a inflação. 

O economista André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), é um dos especialistas que não acredita em uma nova redução da Selic neste mês. “O cenário econômico possui muitas incertezas e isso deve evitar as chances de um novo corte no momento”, diz Braz.

Entre essas “incertezas”, ele destaca a questão fiscal, cuja meta foi alterada pelo governo em abril, a persistência da inflação nos Estados Unidos e a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul (RS), que promete ter impacto negativo sobre o preço dos alimentos. “Assim, é natural que a gente veja o Focus em aceleração”, afirma.]

“Pouca cautela”

Para Braz, contudo, o Banco Central “está preparado para dar uma resposta” a esse quadro. “Inicialmente, deve parar de cortar as taxas de juros e observar os desdobramentos desse cenário”, diz. “Ainda é cedo para pouca cautela”. Antes de mexer na Selic, Braz considera necessário que o BC acompanhe os índices de inflação não só de maio, mas de junho também. E acrescenta: “Só assim teremos uma visão nítida dos danos causados pelas chuvas na agricultura no Sul.”

Marcelo Kfoury Muinhos, coordenador do MacroLab da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), vê no ambiente econômico doméstico outro fator que engrossa o caldo das incertezas. Nesse caso, é a troca do presidente do BC, que vai ocorrer no fim deste ano, com o término do mandato de Roberto Campos Neto. A expectativa é que o novo nome de um substituto seja anunciado pelo governo entre setembro e outubro.

Sequelas do racha

Muinhos lembra que a última reunião do Copom terminou com um racha. Todos os diretores do BC indicados pelo atual governo votaram por um corte de 0,50 ponto percentual da Selic. Os demais integrantes do órgão, que já estavam no Copom antes da posse do presidente Lula, optaram pela redução de 0,25 ponto percentual. “Isso criou uma expectativa negativa no mercado sobre o que pode acontecer com a política monetária no futuro”, diz o professor da FGV EESP.

Além disso, Muinhos afirma que ninguém no mercado tem um modelo eficiente para prever de quanto vai ser a inflação nos próximos anos. “Mas, se o BC tem credibilidade, todo mundo vai acreditar que ela vai ficar na meta por exemplo em 2026”, diz. “Como ela está fora da meta (de 3%), isso quer dizer que o BC não está com essa credibilidade toda.” Ainda assim, o economista acredita que o Copom poderá diminuir a Selic em 0,25 ponto na próxima reunião. “Pode reduzir e ao mesmo tempo anunciar que vai parar com os cortes”, afirma.

Piora do balanço de riscos

Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos, destaca que o mercado vem aumentando a estimativa da inflação para 2024 há quatro semanas. “Portanto, não é de agora que o balanço de risco, tanto interno como externo, vem piorando”, diz. 

Entre os temas que contribuíram para a mudança das projeções nesse período, ele destaca, no campo interno, ações como a intervenção do governo na Petrobras, que resultou na troca do comando da empresa, e a já mencionada questão fiscal – que trata das receitas e despesas da União. “Além disso, e entre outros fatores, o mercado de trabalho também continua forte, criando empregos acima das expectativas”, diz. “Isso aumenta a renda das pessoas, o que pressiona o consumo e pode resultar em mais inflação.” 

Bertotti acredita que o BC será mais precavido na próxima reunião e não deve cortar a Selic. “Hoje, 80% do mercado já aposta na manutenção da taxa nos atuais 10,50% ao ano e também acredito nisso”, afirma. “O pior cenário seria o Banco Central cortar os juros e depois ter de aumentá-los de novo. Um erro na condução da política monetária tem um custo muito alto.”

Desafio do momento

Emerson Marçal, coordenador do Centros de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), nota que a inflação de maio deve vir mais alta do que o esperado e o Focus já está refletindo essa perspectiva. Ele acredita que ainda há espaço para mais um corte de 0,25 ponto da Selic, mas observa que o momento impõe desafios. “O medo é que o BC acomode os choques e demore muito para trazer a inflação de volta à meta”, afirma.

Mudança no Focus

Em relação às estimativas de inflação, o último Focus projetou uma alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 pela quarta vez seguida. Nesta semana, a previsão passou de 3,86% para 3,88%. 

Para 2025, os analistas elevaram a estimativa pela quinta vez consecutiva. Da última vez, ela foi de 3,75% para 3,77%. No caso de 2026, o número chegou a 3,60%, registrando uma sequência de duas altas. Antes desse movimento, a expectativa do IPCA para daqui a dois anos estava estável havia 46 semanas.

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