“Declarações de Lula contra o BC só fazem juros subir”, diz economista
Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC), ataques assustam agentes econômicos e criam espiral negativa de expectativas
atualizado
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As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feitas nesta segunda-feira (6/2), contra os juros fixados pelo Banco Central (BC) têm um efeito imediato na economia – e contrário ao pretendido. Na prática, só servem para pressionar ainda mais os juros para cima. Essa é a avaliação do consultor e economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor o BC.
Hoje, durante a posse do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, Lula disse: “É uma vergonha esse aumento de juro”. O presidente afirmou ainda que não há justificativa para que a taxa básica de juros do país, a Selic, esteja no atual patamar de 13,75% ao ano.
Na avaliação de Schwartsman, porém, esse tipo de declaração faz com que cresça o receito de que o BC seja obrigado a reduzir a Selic sem que a inflação esteja em queda, ou mesmo, sob controle. “Em tal cenário, tanto trabalhadores, na barganha salarial, como empresas, determinando preços para seus clientes, incorporam que a inflação à frente será mais alta”, afirma Schwartsman. “Eles fazem isso porque temem que o BC possa ser submisso aos interesses do Executivo.”
O ex-diretor do BC observa que esse conflito faz com que a inflação de agora se acelere, em resposta ao medo de uma taxa mais alta no futuro. Ocorre, portanto, uma espécie de espiral negativa com base na expectativa dos agentes econômicos.
Schwartsman lembra que, em 2016, o então presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, cedeu a pressões da presidente Dilma Rousseff para não promover uma alta de 0,5 ponto percentual da Selic. “E isso nos custou uma inflação de dois dígitos e juros idem”, nota o economista. “Quem não aprende com a história está condenado a repeti-la.”