Debate sobre meta de inflação piora expectativas, diz Campos Neto
“O Banco Central entende que mudar a meta de inflação agora para cima não geraria flexibilidade”, afirma Roberto Campos Neto
atualizado
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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira (22/5) que os rumores de que a meta de inflação brasileira pode ser modificada gera incerteza no mercado e leva à piora das expectativas de inflação de longo prazo.
O chefe da autoridade monetária participou de um seminário promovido pelo jornal Folha de S.Paulo sobre a autonomia do BC.
“Há uma incerteza em relação a qual seria a nova meta de inflação. O ruído entre o governo e o BC também gerou uma incerteza em relação à capacidade do BC de atingir os seus objetivos”, afirmou Campos Neto ao tratar das expectativas de inflação.
“O componente da incerteza sobre a meta (de inflação) é predominante hoje. Precisamos ver como isso vai se desenvolver. Mas temos elementos para começar a ver essa expectativa de inflação caindo em algum momento”, completou o presidente do BC.
“Eu acho que mudar a meta hoje pode ter grande chance de não ganhar flexibilidade e, ao contrário, até perder flexibilidade. Entendo que é um debate que existe. O BC entende que mudar a meta agora para cima não geraria flexibilidade.”
Campos Neto destacou que a inflação no país está em processo de desaceleração, mas chamou atenção para os núcleos inflacionários ainda estarem altos.
“As inflações, em geral, estão caindo. Mas, quando a gente olha alguns países do mundo desenvolvido, o núcleo de inflação não só não caiu como ele voltou a subir. Na América Latina, ele está caindo, mas muito pouco”, afirmou.
“Vemos uma desaceleração grande da inflação. O núcleo tem desacelerado, mas ainda está em 7,3%, muito alto, muito acima da meta”, completou Campos Neto, sobre a situação no Brasil.
Em relação à diminuição da estimativa de inflação para 2023, de 6,03% para 5,8%, de acordo com o Relatório Focus do BC, divulgado nesta manhã, Campos Neto atribuiu o resultado “à redução nos preços dos combustíveis”.
Segundo o presidente do BC, é possível vislumbrar um cenário de queda de juros em alguns países da América Latina. “Os países que fizeram antes um trabalho, principalmente na América Latina, tem uma precificação de queda de juros. Isso mostra que o processo já está funcionando, em parte, e que em algum momento os bancos centrais vão reduzir juros”, disse.
Autonomia do BC
Durante o seminário, Roberto Campos Neto voltou a defender a importância da autonomia do BC.
“Se não tivéssemos autonomia, no período de eleição no Brasil teríamos tido maior volatilidade nos mercados. É importante separar o ciclo político do ciclo econômico”, disse. “Precisamos ter harmonia entre o fiscal e o monetário, mas nem sempre eles têm o mesmo ciclo. O tempo é diferente.”
Para Campos Neto, “a autonomia faz com que a inflação seja mais baixa”. “Quanto mais autonomia você tem, menos volatilidade você tem”, completou.
Marco fiscal
O chefe da autoridade monetária também falou sobre o projeto do novo marco fiscal, que deve ser votado nesta semana pela Câmara dos Deputados. Para Campos Neto, a preocupação do mercado envolve o crescimento da despesa nos próximos anos.
“O mercado tem uma preocupação grande com o crescimento de gastos e despesas em termos reais. O mercado tem focado em entender qual é a dinâmica de despesas daqui para frente”, afirmou.