De avião a iate: a vida de luxo do dono de faculdade preso como bicheiro
Investigação mostra vida de luxo de Jeferson Valadares, dono da faculdade Novo Milênio, no Espírito Santo, acusado de chefiar jogo do bicho
atualizado
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Na última quinta-feira (27/7), a Guarda Civil de Serra, município de 500 mil habitantes no Espírito Santo, próximo de Vitória, apreendeu uma Porsche Panamera, avaliada em R$ 1,2 milhão, que circulava durante o dia pela cidade. A ação fazia parte de uma força-tarefa para capturar o patrimônio do empresário Jeferson Valadares, dono de uma conhecida rede de ensino no estado. Ele foi preso pela Polícia Federal (PF) em junho e denunciado como um dos chefes de um esquema milionário de lavagem de dinheiro do jogo do bicho.
Os investigadores ainda penam para apreender artigos de luxo ligados ao empresário que estão espalhados nas mãos de supostos laranjas ou que já foram vendidos a terceiros. A vida de ostentação de Valadares motivou o batismo da operação que o levou à prisão: Frisson — nome de um iate avaliado em R$ 3 milhões e usado pelo grupo de Valadares para festas e passeios.
Assim como a Porsche e o iate Frisson, um avião Cirrus SR22, ano 2006, avaliado em R$ 2 milhões, um helicóptero Robinson 66, que pode custar até R$ 10 milhões, e outros carros e barcos, eram usados pelo empresário e por sua família como se fossem deles, embora estivessem registrados em nome de laranjas, segundo os investigadores.
Parte dos veículos estava em nome da esposa de um dos investigados e de um braço direito da organização que tem apenas o ensino médio e histórico de auxiliar de escritório. A Justiça determinou o bloqueio de 51 imóveis, e calcula que o grupo lavou R$ 60 milhões do jogo do bicho — parte em artigos de luxo.
Valadares e seus amigos esbanjavam a vida de ostentação nas redes sociais. “Pensa numa galera animada”, disse o empresário em uma das publicações, com a foto de uma festa em um iate.
Em quebras de sigilo de WhatsApp, investigadores descobriram que a Frisson, por exemplo, dá nome a um grupo em que os reais donos dela discutem seu uso compartilhado.
A embarcação está em nome de uma empresa de um bicheiro investigado. Eles esbanjavam tanto que despertaram até a ganância de funcionários, segundo registros juntados à investigação. “Fiquei só o ódio ontem. Fui pedir pra Jeferson aumentar meu salário, e aí ele falou: aumentar salário nessa crise? Fdp de iate, helicóptero, bancando puta pra todo lado”, disse um deles.
Faculdade
A vida de fachada de Valadares, segundo os investigadores, é na condição de dono da rede de ensino Faculdade Novo Milênio, conhecida no Espírito Santo. Documentos reunidos pela investigação mostram, contudo, que ele elevou seu padrão de vida atuando como um dos chefes do jogo do bicho no estado.
Com Valadares, foram apreendidos documentos de contabilidade, como fechamento de caixa com valores de arrecadação, e até mesmo a pagamentos discriminados recolhidos por motoboys ligados ao grupo. Em seu celular, investigadores encontraram diversas conversas que mostravam, segundo o Ministério Público, “detalhes da atividade ilegal e não deixam dúvidas de que o jogo do bicho é a principal fonte de renda”.
Nas quebras de sigilo bancário, um festival de saques e depósitos em espécie. Somente Valadares recebeu, em conta, depósitos de 3,5 mil cheques – que somam R$ 5,7 milhões –, em um período de três anos, entre 2018 e 2021. Nem mesmo a rede de faculdades escapou de aparecer nos relatórios do Coaf sobre movimentações suspeitas. Uma associação de ensino superior recebeu, por exemplo, R$ 3,7 milhões em dinheiro vivo durante esse intervalo. A entidade é sediada no mesmo endereço das redes de faculdade de Valadares.
Valadares também é dono de um terminal ferroviário, cuja titularidade foi repassada a um laranja, segundo o Ministério Público. Somente essa empresa teve giro de R$ 40 milhões em quatro anos, dos quais R$ 3,6 milhões em espécie.
Além de girar rios de dinheiro, o terminal está enrolado em cobranças na Justiça que supostamente envolvem o uso de laranjas. Em uma ação privada, uma multinacional afirma ter tomado um calote de R$ 1 milhão na venda de uma carregadeira que envolve um esquema ligado a Valadares. A multinacional vendeu o maquinário a uma outra empresa, que, depois, se descobriu que está em nome de um técnico de ar-condicionado condenado por tráfico – a sede fica em um local abandonado. A carregadeira foi vendida, em seguida, para uma outra empresa em nome de uma merendeira, que locou a máquina para a empresa de Terminal Ferroviário de Valadares. A multinacional afirma à Justiça que Valadares é financiador e beneficiário do esquema para ficar com o equipamento milionário e sumir com ele.
O Metrópoles tenta contato com a defesa de Valadares. O espaço segue aberto para manifestação.