Dados de emprego nos EUA e “bombeiro” de Lula reforçam alta da Bolsa

O Ibovespa opera em alta de cerca de 1% no início da tarde desta sexta-feira (6/1). O principal índice da Bolsa de Valores brasileira alcançou os 108.702 pontos, mas os ganhos de hoje e das últimas duas sessões ainda não foram suficientes, e o mercado caminha para encerrar a semana no vermelho.

No noticiário internacional, os dados de emprego nos Estados Unidos nortearam os rumos dos mercados durante a manhã. O payroll (indicador que mede a criação de vagas no país) marcou 223.000 novas vagas em dezembro, um resultado acima das expectativas. Com isso, a taxa de desemprego nos EUA chegou a 3,5%.

Os investidores estão atentos aos dados do mercado de trabalho americano, pois esse é um dos indicadores observados pelo Banco Central dos Estados Unidos (o Federal Reserve) para formular a política de juros. Nos últimos meses, a alta da inflação e a queda do desemprego motivou uma alta da taxa básica de juros pelo Fed.

Juros mais elevados nos Estados Unidos têm impactos negativos para mercados emergentes, como o Brasil. A tendência é de uma saída de recursos da Bolsa brasileira e de um fortalecimento do dólar frente ao real.

Embora os dados americanos de emprego divulgados hoje representem, de forma indireta, um cenário mais desafiador para o mercado local, os investidores estão olhando para uma fotografia mais completa.

“Vale destacar, que as medições de outubro e novembro foram revisadas para baixo, resultando em 28.000 a menos do que o relatado anteriormente. Sendo assim, o indicador de mercado de trabalho oficial, considerado pelo Fed para tomada de decisão, se observado juntamente com os PMIs [índices de produção econômica] divulgados recentemente, apresentam uma queda do nível de atividade norte-americana em 2022″, avalia a economista Ariane Benedito.

Um eventual diagnóstico de economia desacelerando seria suficiente para o Fed tirar o pé do acelerador na política de juros, o que é, em última instância, um bom sinal para o mercado brasileiro.

Rui Costa “bombeiro”

No cenário local, as principais notícias estão relacionadas à reunião ministerial do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os 37 ministros de Estado foram convocados para uma conversa no Palácio do Planalto na manhã desta sexta-feira.

Nos últimos dias, algumas falas de representantes dos ministérios reforçaram o clima pessimista dos investidores em relação à responsabilidade fiscal do novo governo.

O ministro da Previdência, Carlos Lupi, dedicou boa parte do seu discurso de posse, nesta semana, para negar o déficit nas contas de aposentadoria e pensão. O discurso contradiz os próprios dados oficiais do Orçamento, que estimam um déficit de R$ 350 bilhões na Previdência do INSS, servidores públicos e militares em 2023.

Lupi foi expressamente desautorizado na manhã de hoje, em uma entrevista dada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, ao jornal Valor Econômico.

“Claro que tem déficit previdenciário, negar isso é negar a realidade. Vamos ter um negacionista dentro do nosso governo? O déficit da Previdência pública é enorme, continua enorme apesar de todas as reformas”, disse Costa.

Na entrevista, o ministro-chefe da Casa Civil disse, ainda, que recomendou que Lupi “jogasse a gasolina dele fora” e que foi convocado com “extintores” para apagar o incêndio causado pela fala do representante da pasta da Previdência.

O papel de “bombeiro” desempenhado pelo braço-direito de Lula ajudou a apaziguar os ânimos do mercado. O dólar opera em forte queda, de mais de 1%, chegando aos R$ 5,25 no início da tarde.