CVM examina fundo do Pátria que desvalorizou 3.000%
A Comissão de Valores Mobiliários analisa ainda um problema ocorrido com outro fundo da gestora, cujo valor da cota caiu quase 100% em 2020
atualizado
Compartilhar notícia
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está analisando o ajuste negativo de quase 3.000% no preço da cota do fundo Pátria Special Opportunities II, administrado pelo Pátria Investimentos. A CVM já vinha examinando um problema similar, ocorrido com outro fundo, o Pátria Special Opportunities I, que, em 2020, registrou uma queda de 100%.
O anúncio do reajuste negativo do fundo foi feito nessa quarta-feira pelo Pátria, que possui US$ 27,3 bilhões sob gestão. Por meio da divulgação de fato relevante, o Pátria informou que o valor da cota do Pátria Special Opportunities II havia sido reduzido de R$ 10,5 negativos para R$ 301 negativos.
“Custos da transação”
No fato relevante, a gestora informa que o reajuste foi feito depois da venda da holding Portfólio Centro-Sul e de seus quatro shopping centers, em Taubaté (SP), Lages (SC), Varginha (MG) e Bragança Paulista (SP). “No âmbito da referida transação, os fundos de investimento envolvidos na operação tiveram suas cotas impactadas em decorrência dos custos envolvidos, os quais inclusive demandaram aporte na companhia para viabilizar a operação”, diz o texto.
O Instituto Ibero-Americano da Empresa, uma associação civil que defende direitos de acionistas minoritários em diversas ações – como no caso da Americanas, por exemplo – informou na quinta-feira (27/7) que tem recebido consultas de diversos cotistas inconformados.
“Pesadelo”
“Os investidores estão acordando do pesadelo da depreciação do seu patrimônio e estamos esclarecendo quais são os seus direitos”, disse o presidente do instituto, Eduardo Silva. “São muitas consultas, mas não há ainda uma deliberação sobre os próximos passos.”
Silva observou que o fundo pode exigir um aporte dos cotistas. “Isso ainda não aconteceu e talvez, mesmo diante do quadro caótico, não venha a acontecer”, afirmou. “Mas, antes mesmo de uma eventual cobrança, os investidores devem promover medidas de proteção e de um eventual ressarcimento caso se comprove que houve erros ou inadequação da gestão.”
Problema antigo
Em 2012, a gestora fundada por Alexandre Saigh, Olimpio Matarazzo e Otavio Castello Branco lançou o Pátria Special Opportunities I. O fundo levantou R$ 1 bilhão com investidores e captou outro R$ 1 bi em dívidas, para investir em shopping centers.
Os negócios, que incluíam o controle de 13 shoppings e a administração de outros três, foram bem até 2016, com valorização similar a aplicações como o CDI. Em janeiro de 2020, porém, os shoppings foram reavaliados e o valor das cotas reduzido em 40%. No meio da pandemia, ele desabou quase 100%. O valor da cota reajustada do Pátria Special Opportunities I saiu de R$ 1 mil para R$ 4. É esse episódio que também está sob análise da CVM.
Alto risco
Assim como o primeiro, o Pátria Special Opportunities II é um fundo de participações, ou private equity. Nessa modalidade de investimento, a gestora compra empresas (no caso, shoppings outra vez), com o objetivo de melhorar o seu desempenho, para tentar vendê-las com lucro, ou para lançar ações da companhia no mercado de capitais. Tais fundos são classificados como investimentos de alto risco porque a gestora pode adquirir empresas de capital fechado sobre as quais existem poucas informações disponíveis.
De qualquer forma, é incomum que uma mesma gestora dê prejuízos tão grandes e seguidos a cotistas dos seus fundos. É por esse motivo que a CVM decidiu examinar o que ocorreu no Pátria.