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Americanas: “Não sabemos se bancos são vítimas ou cúmplices”, diz presidente da CPI

Deputado Gustinho Ribeiro, presidente da CPI, afirma que comissão ouvirá ex-CEO da Americanas e empresas de auditoria já no início de agosto

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Imagem do deputado federal Gustinho Ribeiro, no plenário da Câmara. Ele veste um terno azul, uma camisa branca e usa gravata azul
1 de 1 Imagem do deputado federal Gustinho Ribeiro, no plenário da Câmara. Ele veste um terno azul, uma camisa branca e usa gravata azul - Foto: Divulgação

Deputado federal em seu segundo mandato, Luiz Augusto Carvalho Ribeiro Filho, conhecido como Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE), de 41 anos, está à frente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga aquela que, para muitos, pode ser a maior fraude corporativa da história do país: o escândalo financeiro envolvendo a Americanas, uma das marcas mais emblemáticas do varejo brasileiro.

Em janeiro deste ano, veio à tona um rombo contábil bilionário nos balanços da empresa, hoje estimado em R$ 25 bilhões. Recentemente, a nova direção da Americanas passou a se referir ao episódio como “fraude”. A companhia está em recuperação judicial e negocia um plano de pagamento a credores – muitos dos quais insatisfeitos com os termos apresentados.

Em entrevista ao Metrópoles, o presidente da CPI da Americanas diz que ainda não é possível saber se os bancos são “vítimas ou cúmplices” nessa história. Em depoimento à comissão, o atual CEO da varejista, Leonardo Coelho Pereira, exibiu supostas mensagens nas quais bancos privados teriam alterado a redação de cartas de circularização – documento de apoio aos trabalhos de auditoria – após contato com diretores da empresa. Itaú e Santander, citados por Coelho, negaram, enfaticamente, qualquer irregularidade.

“Temos um cuidado grande com essa vertente da investigação porque ainda não sabemos se os bancos são vítimas ou cúmplices. Temos de atuar de forma muito equilibrada, responsável e serena para não prejudicarmos a economia brasileira e grandes companhias que atuam no país”, afirma Ribeiro.

O deputado anuncia que, assim que as atividades legislativas forem retomadas, em agosto, a CPI colherá os depoimentos do ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez e de representantes das empresas de auditoria, que não detectaram o rombo nas contas da varejista. “Há algo aí que precisa ser bastante investigado”, diz. “O que chama atenção é que são empresas reconhecidas mundialmente, que têm uma larga experiência na área e, mesmo assim, não foram capazes de detectar um rombo tão grande.”

Em relação ao trio de acionistas de referência da Americanas – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira –, Gustinho Ribeiro adota um tom mais cauteloso, embora afirme que a CPI não deixará de convocar “quem quer que seja”. “Não se pode começar a investigação pelo fim. Caso seja necessário, os acionistas de referência serão ouvidos”, diz. “Temos de ter cautela, responsabilidade e compromisso com a economia do país.”

Leia os principais trechos da entrevista concedida pelo deputado Gustinho Ribeiro ao Metrópoles:

Qual é o balanço que o senhor faz do início dos trabalhos da CPI da Americanas?

O balanço é extremamente positivo até o momento. Nós estamos seguindo, passo a passo, aquilo que foi definido pelo plano de trabalho apresentado pelo relator (deputado Carlos Chiodini, do MDB de Santa Catarina) e aprovado pelo plenário da comissão. Já recebemos várias informações e documentos relevantes. Os próximos passos serão as oitivas com os ex-diretores da Americanas e as empresas de auditoria.

Em depoimento à CPI, o atual CEO da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, classificou o episódio como “fraude” e atribuiu as supostas ilegalidades à antiga diretoria e a um grupo de funcionários da empresa. A CPI foi adiante nessa linha de investigação?

A fala do atual CEO da Americanas realmente chamou atenção. Ele praticamente fez uma denúncia pública e trouxe alguns dados que indicam que essa denúncia faz sentido. Por isso, a CPI está se aprofundando naquilo que foi dito por ele, principalmente sobre o possível envolvimento de ex-diretores e um vasto número de funcionários do alto escalão da companhia. Vamos seguir nessa linha. É uma obrigação da CPI seguir por esse caminho, até para não cometer nenhum tipo de prevaricação.

Quando a CPI ouvirá o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez e as empresas de auditoria?

As atividades das comissões da Câmara foram praticamente suspensas antes mesmo do recesso parlamentar, em um esforço concentrado para que votássemos algumas matérias em plenário. Porém, logo no primeiro dia de sessão depois da retomada dos trabalhos, no início de agosto, vamos interrogar o senhor Gutierrez, que já foi convocado pela comissão. Além dele, ouviremos o ex-diretor Fábio Abrate (ex-diretor financeiro) e as empresas de auditoria. Nossa previsão é a de que ouçamos todos eles no dia 1º de agosto.

Os acionistas de referência da Americanas já não deveriam ter sido ouvidos pela CPI? Quando isso ocorrerá?

Temos um pensamento majoritário dentro da comissão de que não se pode começar a investigação pelo fim. Caso seja necessário, os acionistas de referência serão ouvidos, sem problema nenhum. A CPI ouvirá quem quer que seja. Agora, precisamos ter muita responsabilidade e serenidade para não criarmos pânico no mercado de capitais, no mercado financeiro e na economia do país. A coisa tem de ser feita passo a passo. Nós não podemos transformar a CPI em palanque midiático ou em uma tentativa de ganharmos visibilidade na imprensa. Sabemos que esses acionistas são vinculados também a outras empresas, de modo que isso pode gerar uma movimentação ruim no mercado. Temos de ter cautela, responsabilidade e compromisso com a economia do país. Caso seja necessário, repito, a CPI não se furtará a convocar e a ouvir quem quer que seja.

O senhor acredita que os acionistas de referência ou a antiga diretoria da Americanas não sabiam do rombo contábil?

Como presidente de uma comissão de investigação, eu preciso ter um posicionamento de magistrado. Não posso emitir qualquer juízo de valor nem antecipar os passos de uma investigação. Temos cautela e responsabilidade com esse trabalho, mas vamos apurar tudo. É, realmente, algo que chamou atenção do país inteiro: uma possível fraude, denunciada e revelada pelo mercado e pela imprensa, de um rombo de mais de R$ 20 bilhões. Precisamos aprofundar as investigações, para chegarmos àqueles que causaram essa suposta fraude e um prejuízo enorme aos milhares de investidores que aplicaram suas reservas em ações da empresa.

Pode ter havido conluio entre a antiga diretoria da Americanas e as empresas de auditoria?

Esse ponto foi abordado pelo atual CEO da Americanas, que citou uma espécie de conluio entre as auditorias e ex-diretores da empresa, principalmente visando a uma série de bonificações que existem dentro dessas companhias quando são atingidas determinadas metas de lucro. Há algo aí que precisa ser bastante investigado. Temos de ir nessa direção. Não vou antecipar aqui detalhes sobre a investigação nem prejulgar ninguém, mas essa é uma das linhas de trabalho da CPI. O que chama atenção é que são empresas reconhecidas mundialmente, que têm uma larga experiência na área e, mesmo assim, não foram capazes de detectar um rombo tão grande.

E os bancos? Também podem ser convocados a prestar algum esclarecimento sobre a relação com a Americanas?

Temos acompanhado isso de perto. É um outro ponto muito importante da investigação envolvendo a Americanas. Temos um cuidado grande com essa vertente da investigação porque ainda não sabemos se os bancos são vítimas ou cúmplices. Temos de atuar de forma muito equilibrada, responsável e serena para não prejudicarmos a economia brasileira e grandes companhias que atuam no país. E, principalmente, devemos garantir que o Brasil tenha a sua imagem preservada em relação ao mercado financeiro e ao mercado de capitais. Não iremos acobertar nenhuma prática ilegal.

Os principais bancos credores da Americanas se opuseram ao plano de recuperação judicial apresentado. O senhor considera que há risco de o acordo não sair?

A recuperação judicial da Americanas precisa garantir segurança aos credores. Temos de assegurar que o trabalho da CPI sirva não apenas para punir aqueles que possivelmente praticaram fraudes, mas para criar soluções legislativas que protejam o país desse tipo de golpe. Afinal, caso se comprove que houve fraude, os próprios bancos podem ter sido lesados. Não podemos transformar vítimas em culpados ou culpados em vítimas.

Haverá punições efetivas aos possíveis envolvidos na fraude?

Sem dúvida. O Brasil tem uma legislação que garante punição para esse tipo de crime. O trabalho da CPI vai caminhar firmemente nesse propósito de encontrar os culpados e aqueles que possivelmente praticaram crimes. Iremos encaminhar todo o conteúdo da investigação para as autoridades competentes, para que as pessoas que tenham cometido ilegalidades sejam efetivamente responsabilizadas.

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