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Copom fala em “confiança” para queda dos juros e projeta novos cortes

Em ata da última reunião, Copom indica que o ritmo de corte de 0,5 ponto percentual na Selic deve se manter em próximos encontros do comitê

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Seis dias depois de reduzir em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), de 13,75% para 13,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulgou, nesta terça-feira (8/8), a ata da última reunião do colegiado.

Na semana passada, o comitê decidiu, por 5 votos a 4, reduzir os juros básicos para 13,25% ao ano. O “voto de minerva”, que sacramentou a redução de 0,5 ponto percentual, foi dado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Quatro votos foram pela redução de 0,25 ponto percentual.

Foi a primeira reunião do Copom da qual participaram os dois novos integrantes do comitê, indicados pelo governo: o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Gabriel Galípolo, que assumiu a Diretoria de Política Monetária do BC, e Ailton de Aquino Santos, que atua na Diretoria de Fiscalização. Ambos votaram pela queda da Selic em 0,5 ponto percentual.

Segundo a ata divulgada, nesta terça, pelo Copom, “a evolução do cenário desde a última reunião permitiu acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária”.

“A redução das expectativas de inflação, assim como das medidas de inflação implícita nos ativos de mercado, reduz o custo da desinflação e tem impacto sobre o juro real ex ante da economia, como já anteriormente alertado pelo Copom. Em segundo lugar, houve clara melhora nos índices de inflação cheia, enquanto a inflação de serviços segue desacelerando na margem”, afirma o comitê.

Na ata, o Copom diz ainda que julgou “haver mérito tanto na opção de reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual como em 0,50 ponto percentual”. “Qualquer que fosse a decisão, era consensual que um cenário com expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial, núcleos de inflação ainda acima da meta, inflação de serviços acima do patamar compatível com a meta para a inflação e atividade econômica resiliente requer uma postura mais conservadora ao longo do ciclo de flexibilização da política monetária”, diz o colegiado.

“Mais ainda, ambas as opções, a depender do ciclo empreendido, seriam compatíveis com a convergência da inflação para a meta tanto nos cenários de referência do comitê, como em outros cenários apresentados na reunião.”

A ata do Copom citou a divisão do colegiado, com um grupo defendendo um corte de juros mais comedido, de 0,25 ponto percentual. “Um grupo defendeu uma redução da taxa de juros mais parcimoniosa. Para esse grupo, a própria sinalização do comitê já enfatizava a cautela e a parcimônia em tal conjuntura e, na opinião desses membros, não se observaram alterações relevantes no cenário ou projeções do comitê que justificassem uma reavaliação dessa sinalização”, diz a ata.

“Outro grupo considerou que a postura de política monetária em patamar significativamente contracionista permite um início do ciclo já no ritmo moderado considerado para as próximas reuniões, sem detrimento do comprometimento com a meta e a credibilidade da política monetária. Esse grupo enfatizou alguns desenvolvimentos desde a última reunião, como a dinâmica recente de inflação mais benigna do que era esperado, a reancoragem parcial relativamente célere após a definição da meta pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e a adequação de recalibrar a taxa de juros real em função dos movimentos nas expectativas de inflação.”

Assim como o comunicado do Copom que acompanhou o anúncio da decisão, na semana passada, a ata do órgão indica que o ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual na taxa Selic deve se manter nas próximas reuniões.

“Os membros do comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. Tal ritmo conjuga, de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência”, diz a ata.

“O comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva. Tal confiança viria apenas com uma alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação, tais como uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços.”

Desaceleração da atividade econômica

A ata divulgada pelo Copom afirma que a atividade econômica do país dá sinais de desaceleração.

“No âmbito doméstico, o conjunto de indicadores recentes sugere um cenário de desaceleração gradual da atividade. À parte o forte desempenho da agricultura, concentrado no primeiro trimestre, o ritmo de crescimento da atividade segue corroborando o cenário antecipado pelo comitê. De modo geral, observa-se alguma retração no setor de comércio, estabilidade na indústria e certa acomodação no setor de serviços, após ritmo mais forte nos trimestres anteriores. O mercado de trabalho segue resiliente, mas com alguma moderação na margem”, diz o Copom.

De acordo com o colegiado, “a inflação ao consumidor segue com uma dinâmica corrente mais benigna, em particular nos componentes referentes a bens industriais e alimentos”. “Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram queda, mas mantêm-se acima da meta para a inflação”, afirma o Copom.

Inflação de serviços

A resiliência da inflação de serviços no país também foi discutida pelos integrantes do comitê durante a reunião.

“Ainda na discussão sobre o comportamento inflacionário, debateu-se de forma profunda o atual estágio do processo desinflacionário e o recente comportamento da inflação de serviços. Notou-se que os indicadores desse segmento apontam para uma continuidade na trajetória de desinflação do período recente, a despeito de alguma oscilação em níveis ainda acima do patamar compatível com a meta”, diz a ata.

“Em tal discussão, enfatizou-se que é mais relevante focar nos seus fundamentos subjacentes, citando-se, particularmente, possíveis mudanças no mercado de trabalho e na dinâmica da atividade, do que de movimentos pontuais da inflação de serviços, relativos a algum componente ou algum período.”

Ainda segundo o Copom, é necessário “perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.

Conjuntura internacional “incerta”

O Copom classifica como “incerta” a conjuntura internacional neste momento. “O comitê notou a resiliência da atividade e do mercado de trabalho nas economias avançadas, ainda que se observe alguma acomodação na margem, assim como um menor crescimento projetado para a economia chinesa. Neste contexto, alguns membros atribuem maior probabilidade a uma moderação suave na atividade das principais economias, ainda que não se descarte uma desaceleração mais brusca”, diz a ata.

“Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, seja dando continuidade a seus ciclos de aperto monetário, seja sinalizando um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias. Tal postura segue demandando maior cautela na condução das políticas econômicas particularmente por parte de países emergentes.”

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