Consumo de álcool custa R$ 18,8 bilhões por ano e mata 12 por hora
É o que indica uma pesquisa realizada pela Fiocruz, que faz parte de campanha para a adoção de imposto seletivo para bebidas alcoólicas
atualizado
Compartilhar notícia
O consumo de bebidas alcoólicas representou um custo de R$ 18,8 bilhões para o Brasil em 2019. Tal valor é resultado, por exemplo, de despesas diretas com hospitalizações e procedimentos ambulatoriais, além de gastos indiretos da Previdência Social, como licença médica e aposentadoria. Além disso, o álcool provocou 104,8 mil mortes no mesmo ano, o equivalente a 12 óbitos por hora.
Essas são as conclusões do estudo “Estimação dos Custos Diretos e Indiretos atribuíveis ao Consumo do Álcool no Brasil”, realizado pela Fiocruz, a pedido das organizações Vital Strategies e ACT Promoção da Saúde. O trabalho faz parte da iniciativa Reset Álcool.
Dos R$ 18,8 bilhões, uma parcela de R$ 1,1 bilhão refere-se a custos federais diretos com hospitalizações e procedimentos ambulatoriais no Sistema Único de Saúde (SUS). Os custos indiretos atribuíveis ao consumo do álcool, por sua vez, compreenderam R$ 17,7 bilhões e incluem as perdas de produtividade pela mortalidade prematura, licenças e aposentadorias precoces decorrentes de doenças associadas ao consumo de álcool, perda de dias de trabalho por internação hospitalar e licença médica previdenciárias.
O levantamento usou como base estimativas de mortes atribuíveis ao álcool feitas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e levou em consideração para o cálculo um total de 104,8 mil falecimentos em 2019 no Brasil, o equivalente a 12 óbitos por hora.
Homens morrem mais
Os homens são as principais vítimas e representaram 86% das mortes, das quais quase a metade foi resultado de doenças cardiovasculares, acidentes e violência. No público feminino, que responde por 14% dos registros fatais, doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer representaram mais de 60% dos registros.
O custo do SUS com a hospitalização de mulheres relacionada a problemas decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas responde por 20% do total. Isso ocorre porque a prevalência de consumo de álcool pelas mulheres é menor, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019), na qual cerca de 31% das pesquisadas relataram ter consumido álcool nos 30 dias anteriores à pesquisa, enquanto o percentual masculino ficou em 63%.
Segundo a pesquisa, outra razão dessa disparidade refere-se ao fato de que as mulheres procuram mais os serviços de saúde e realizam exames de rotina. Isso faz com que sejam tratadas antes que as complicações mais graves de saúde se manifestem. “Quando os homens procuram o serviço de saúde possivelmente já estão numa situação pior, o que acarreta mais hospitalizações”, diz Eduardo Nilson, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pelo estudo.
Já quando se trata de custos relacionados ao atendimento ambulatorial atribuível à ingestão de álcool, a diferença entre os públicos masculino e feminino cai significativamente, considerando que 51,6% dos gastos se referem ao público masculino. Em relação à faixa etária, a incidência maior no atendimento ambulatorial ocorre nas pessoas entre 40 e 60 anos, sendo que 55% dos custos referem-se às mulheres e 47,1% aos homens.
Mulheres avançam
Embora os maiores custos decorrentes do consumo de álcool sejam relacionados aos homens, dados do Vigitel mostram que, entre 2006 e 2023, a ocorrência de episódios de consumo abusivo de álcool (quatro ou mais drinques numa mesma ocasião) quase dobrou entre as mulheres.
A tendência de aumento de consumo entre elas também é comprovada pela PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) de 2019. Ela mostrou que, enquanto 60% dos adolescentes do sexo masculino já tinham experimentado álcool antes dos 17 anos, 67% das meninas já tinham registrado o mesmo comportamento nessa faixa etária.
Para Pedro de Paula, diretor executivo da Vital Strategies, organização presente em 80 países, esse cenário indica a “necessidade de adoção de medidas como o imposto seletivo sobre bebidas alcoólicas”. “Essa é uma das ações recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para reduzir o consumo de álcool e, consequentemente, seu impacto negativo”, diz. “Com a redução do consumo, podemos salvar vidas e reduzir os impactos sociais do álcool, poupando bilhões de reais todos os anos.”