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Conheça os bastidores da investigação do Itaú contra ex-diretor

Banco entrou com ação na Justiça paulista contra Alexsandro Broedel, que teria recebido R$ 4,8 milhões “indevidamente”. Executivo nega

atualizado

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Itaú/Divulgação
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As investigações do Itaú contra Alexsandro Broedel, ex-diretor financeiro da instituição, começaram em julho de 2024. Na ocasião, o banco foi informado que o executivo supostamente prestava serviços de parecerista e consultor ao mercado, enquanto ainda era administrador da companhia. “Tal informação gerou alerta de atuação em desconformidade com o código de ética”, diz a ação movida pelo banco na Justiça paulista.

Alexsandro Broedel Lopes atuou como diretor do Itaú Unibanco entre maio de 2012 a julho de 2024, quando, a seu pedido, assumiu um cargo de gestão na sede global do Santander, na Espanha. Continuou, porém, vinculado ao banco, como “administrador licenciado, conforme as políticas internas de desincompatibilização”.

Segundo o Itaú, a investigação interna apontou que, desde 2012, o ex-diretor financeiro era sócio de Eliseu Martins, um renomado especialista em contabilidade, na empresa Broedel Consultores. Tal sociedade não foi declarada aos controles internos da instituição, “apesar de Martins ser fornecedor de serviços” do banco.

A apuração indicou que, entre junho de 2019 a junho de 2024, Broedel contratou 40 pareceres junto à Care (sociedade cujos sócios são Eliseu Martins e seu filho, Eric Martins). “Por conta de tais contratações, foram realizados 21 pagamentos”. Eles somaram R$ 13,2 milhões.

Aval do diretor

De acordo com a ação, “todos os pagamentos foram aprovados por Broedel junto aos sistemas mantidos pelo banco, utilizando-se das alçadas do seu cargo, conferidas pela política interna de ‘compras delegadas’”.

“Foram ainda localizadas 21 notas fiscais, todas emitidas pela Care, que suportam os pagamentos realizados, e com eles se conciliam, mas não foram encontrados contratos de prestação de serviços”, acrescenta o Itaú. Do total de pareceres, 24 deles foram pagos “em lote”, de forma antecipada à sua entrega.

Mais pagamentos que serviços

Ainda segundo o banco, Broedel “deu por recebido, junto aos controles internos”, 36 pareceres do total dos 40 contratados. Os quatro documentos restantes são parte da última antecipação e não foram realizados. Nos arquivos do Itaú, “considerados em conjunto com a análise dos documentos enviados por Martins, foram localizados apenas 20 pareceres emitidos, dos 36 dados por recebidos por Broedel”.

De acordo com a ação do Itaú, Broedel e Martins foram questionados sobre os pareceres não localizados. Eles argumentaram, segundo o banco, “que a contratação abrangia também serviços de consultoria”.

Sobre esse assunto, frisou o Itaú na Justiça: “No entanto, falham em evidenciar tal pretensa consultoria, e não conseguem explicar de forma fundamentada a razão pela qual, em nenhuma das 21 Notas Fiscais emitidas, há menção a serviços de consultoria (essas notas fiscais, em seu campo de discriminação, fazem menção a ‘honorários por parecer técnico contábil emitido’”. Isso à exceção de duas notas: uma delas trata de “honorários por nota técnica complementar” e outra de “honorários por cinco trabalhos técnicos”.

Transferências em série

O Itaú aponta que, “dada a gravidade dos fatos, o aprofundamento das apurações envolveu a revisão das movimentações financeiras em conta corrente, para fins de verificação de indícios” de outros crimes previstos, para uma “eventual comunicação às autoridades competentes”.

Essas apurações, frisa o banco, “evidenciaram” que, desde janeiro de 2019, a Care (a sociedade de Martins e Broedel) e outra empresa, a Evam, cujos sócios são Martins e dois de seus filhos, efetuaram 56 transferências em benefício de Alexandro Broedel Lopes e da Broedel Consultores, das quais “23 guardam estrita correspondência com pagamentos realizados pelo requerente (o Itaú) à Care”. Essas 23 transferências correspondem ao valor de R$ 4,86 milhões, “57% do total transferido por Care e Evam a Broedel no período analisado”.

Para a instituição financeira, “por conta dessas 23 transferências, é possível inferir-se uma participação da ordem de 40% de Alexsandro Broedel Lopes nos pagamentos realizados pelo requerente (Itáu) à Care”.

Questionamentos

Na ação, o banco afirma ter questionado Broedel e Martins sobre as transferências. Diz o documento encaminhado à Justiça paulista que eles “afirmaram tratar-se de ‘transferências entre sócios’”, que se comprovariam pelo fato de Broedel também ter efetuado transferências em favor da Evam. Porém, o Itaú contestou essa versão: “Nenhum documento relativo a tais ‘transferências entre sócios’ (declarações de Imposto de Renda Pessoa Física ou Jurídica, planilhas de cálculo, documentos de rateio etc.) foi apresentado”.

Além disso, “nenhum documento que comprovasse que tais acertos não guardam relação com pagamentos realizados pelo Itaú para a Care foi apresentado e as transferências realizadas por Broedel em favor da Evam são de valor muito menor aos totais recebidos pelo ex-diretor, em sete transferências, cinco realizadas após o seu desligamento”.

“Conflito de interesses”

Na ação, o Itaú apresenta algumas conclusões sobre o episódio. Diz que Broedel “estava em situação de grave conflito de interesses” em relação a Martins e, apesar disso, manteve-se na gestão do relacionamento da Care como fornecedora do banco. A instituição também acusa o ex-executivo de ter obtido “vantagem indevida em decorrência do seu cargo”.

“Esquema sofisticado”

O banco indicou ainda que foi utilizado um “esquema sofisticado para dissimular as transferências”. Isso porque, diz o Itaú na ação, a Evam era utilizada como “interposta pessoa”. “O requerente (banco) fazia os pagamentos para a Care, que repassava os valores para a Evam, que os transferia para Broedel”. A ação assinala ainda que a maioria das transferências foram realizadas para contas mantidas junto ao Santander, “inclusive várias para a Broedel Consultores”.

Indenização

Na Justiça paulista, o Itaú também quer ser indenizado pelas supostas irregularidades que afirma ter constatado. O valor total do pedido seria da ordem de R$ 10 milhões, sem correção, mas pode chegar a R$ 12 milhões.

Em relação à Care, isso vale para 16 pareceres dados por recebidos e não localizados (que, conforme os levantamentos do banco, somam o valor histórico de R$ 5,1 milhões), bem como do valor correspondente aos quatro pareceres pagos por antecipação e não entregues (de R$ 1,5 milhão), “tudo com os devidos acréscimos legais”.

No caso de Broedel, a quantia seria referente aos R$ 4,8 milhões que o banco afirma que o executivo recebeu.

Nota de contestação

Por meio da assessoria de comunicação, Broedel refutou as acusações feitas pelo Itaú. A seguir, a íntegra da nota do executivo:

“Sobre acusações infundadas e sem sentido feitas pelo Itaú a Alexsandro Broedel, informamos que:

“Alexsandro Broedel sempre se conduziu de forma ética e transparente em todas as atividades ao longo dos seus 12 anos no banco – algo nunca contestado pelo Itaú, que tem uma rigorosa e abrangente estrutura de controle e compliance, própria de um grupo financeiro com seu porte e importância na economia brasileira.

“O parecerista mencionado pelo Itaú já prestava serviços ao banco há décadas, muito antes de Broedel ser convidado para a diretoria da instituição. Os serviços mencionados eram do conhecimento do Itaú e requeridos por diferentes áreas do banco.

“Causa profunda estranheza que o Itaú levante a suspeita sobre supostas condutas impróprias somente depois de Broedel ter apresentado a renúncia aos seus cargos no banco para assumir uma posição global em um dos seus principais concorrentes, cumprindo o período de quarentena definido pelo banco.

“Alexsandro Broedel tomará as medidas judiciais cabíveis neste caso.”

 

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