Condenado, fundador da FTX pode pegar mais de 100 anos de prisão
O empresário Sam Bankman-Fried, fundador da corretora de criptomoedas FTX, que foi à falência, terá sua sentença anunciada em março de 2024
atualizado
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A condenação do fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, de 31 anos, pelo tribunal de júri, encerrou um julgamento que durou mais de um mês e sacramentou a derrocada do empresário que já foi chamado de “rei das criptomoedas”.
Como noticiado pelo Metrópoles na quinta-feira (1º/11), Bankman-Fried foi considerado culpado das sete acusações de fraude, conspiração, associação criminosa e desvio de fundos às quais respondia. A decisão foi tomada pelos jurados de um tribunal federal de Nova York depois de cerca de cinco horas de deliberação.
A sentença do fundador da FTX será anunciada pelo juiz Lewis Kaplan no dia 28 de março de 2024.
O ex-CEO da FTX pode pegar 20 anos de prisão por cada acusação de fraude eletrônica e lavagem de dinheiro, além de cinco anos por cada fraude no mercado de valores mobiliários e no financiamento de campanhas políticas. Ele pode pegar uma pena total de até 110 anos de prisão.
Após a condenação, o procurador de Nova York Damian Williams afirmou que Bankman-Fried perpetrou “uma das maiores fraudes financeiras da história americana”.
“A indústria de criptomoedas pode ser nova. Jogadores como Bankman-Fried podem ser novos. Mas esse tipo de fraude, esse tipo de corrupção, é tão antigo quanto o tempo”, disse o procurador.
De pé, com as mãos à frente e olhando para os jurados, o empresário ouviu a decisão e, em seguida, foi levado para fora do tribunal, sem demonstrar nenhuma reação. Seus pais acompanharam o julgamento da primeira fila.
O advogado de Bankman-Fried, Mark Cohen, afirmou que respeitava a decisão do júri, mas anunciou que vai recorrer.
“Estamos muito decepcionados com o resultado. O senhor Bankman-Fried mantém a sua inocência e continuará lutando vigorosamente contra essas injustas acusações”, afirmou o advogado.
Entenda o caso
Segundo a Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio dos EUA, o fundador da FTX orquestrou “uma fraude massiva, desviando bilhões de dólares dos fundos de clientes da plataforma de negociação para seu próprio benefício pessoal e para ajudar a aumentar seu império criptográfico”.
De acordo com a investigação, as fraudes na FTX podem ter causado um prejuízo estimado em US$ 8,7 bilhões a investidores em todo o mundo. A Promotoria dos Estados Unidos reuniu mais de 1,3 mil provas de crimes praticados por Bankman-Fried.
Os promotores alegaram que Bankman-Fried teria tentado intimidar uma das testemunhas no processo, Caroline Ellison, ex-CEO da Alameda Research, braço de investimentos da FTX, e ex-namorada do empresário.
Em dezembro do ano passado, Ellison afirmou, em depoimento, que a FTX tinha plena consciência de que estava enganando credores e utilizando dinheiro dos investidores para inúmeras operações de crédito e outras negociações. Ela se declarou culpada nas acusações de fraude e passou a colaborar com os promotores federais de Manhattan.
Investigações apontaram que o dinheiro recebido por Bankman-Fried se misturava aos fundos da Alameda Research e era usado para financiar investimentos em vários empreendimentos, além de compra de imóveis e doações políticas – tudo isso sem o conhecimento dos investidores.
Em novo depoimento, no início de outubro, já durante o julgamento, Ellison disse que Bankman-Fried teria ordenado um desvio de cerca de US$ 14 bilhões (mais de R$ 70 bilhões) dos clientes da corretora, pouco antes da falência da empresa. “Ele era o chefe da Alameda e me deu instruções para cometer crimes”, afirmou.
Idas e vindas na prisão
No fim de 2022, Bankman-Fried, que havia sido preso, foi solto pela Justiça após pagar fiança de US$ 250 milhões (o equivalente a quase R$ 1,3 bilhão). O acordo tomou como base a parte de Bankman-Fried na casa da família, em Palo Alto, além de uma longa lista de requisitos para que o acusado permanecesse em liberdade no decorrer do processo.
Em agosto, a Justiça americana determinou a volta de Bankman-Fried à prisão. Ele cumpria prisão domiciliar na residência de seus pais, em Palo Alto, na Califórnia, desde dezembro do ano passado.
O colapso da FTX
Em novembro de 2022, a FTX estava avaliada em US$ 32 bilhões. O patrimônio de Bankman-Fried era estimado em US$ 16 bilhões. Em poucos dias, a empresa mergulhou em uma crise sem precedentes que a levou à falência com uma velocidade espantosa, o que contaminou grande parte do mercado global de criptomoedas.
Uma reportagem publicada no ano passado pelo site CoinDesk revelou que a FTX passava por uma delicada situação financeira. O balanço patrimonial da Alameda Research (empresa-irmã da FTX) tinha 75% de ativos não líquidos – que não podem ser negociados rapidamente.
Os outros 25% desses ativos eram compostos pelo token FTT, um tipo de criptoativo emitido pela própria FTX. Ficou claro que a companhia teria de vender muitos desses tokens no mercado, o que derrubaria a cotação do ativo.
Quando a reportagem foi publicada, a corretora sofreu uma corrida de saques. A situação piorou depois que o CEO da Binance, Changpeng Zhao, afirmou que também venderia todos os tokens emitidos pela concorrente que estavam em sua carteira, o que correspondia a mais de US$ 2 bilhões.
Na prática, a FTX quebrou após utilizar dinheiro dos clientes em operações de crédito e acumular um passivo estimado em US$ 10 bilhões com cerca de 1 milhão de credores, inclusive brasileiros. Com a corrida por saques, as cotações desabaram e o ativo derreteu. Na época, O episódio causou uma crise de confiança generalizada no mercado cripto.