Como uma mudança tecnológica derrubou em 40% a produção de caminhões
Novos equipamentos e softwares usados para reduzir a emissão de poluentes encareceram em até 20% os veículos pesados no Brasil
atualizado
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A produção de caminhões está desabando nos últimos meses no Brasil. Entre março e abril deste ano, a redução foi de 41,1%, mais que o dobro do registado entre veículos leves, cuja queda ficou em 19,4%. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o baque dos “grandalhões” não foi tão estrondoso, mas, ainda assim, fez barulho. Alcançou 28%.
Eis a pergunta que fica: o que está por trás dessa queda? Em que pesem os fatores econômicos – e eles pesam –, neste caso, trata-se da adoção de um conjunto de tecnologias, usadas para a redução de emissão de poluentes, que passaram a ser incorporadas aos caminhões fabricados no país desde o início deste ano. Essas mudanças elevaram o preço desses veículos pesados em até 20% – e os mais caros podem custar R$ 1 milhão. Com isso, a freguesia desapareceu.
As novas tecnologias foram implementadas em todos nos caminhões de todas as marcas. Elas seguem determinações da oitava etapa do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve), instituído no país em maio de 1986. Não foi a primeira vez, portanto, que esse tipo de guinada ocorreu e, em todas as ocasiões, provocou consequências similares tanto no Brasil como no mundo. Em 2023, porém, foi diferente.
Sem pré-compra
De acordo com Gustavo Bonini, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), nessas situações, em geral, os clientes antecipam a compra dos veículos para fugir do aumento de preço. “Isso aconteceu, por exemplo, entre 2011 e 2012, quando outra mudança desse tipo ocorreu. Mas não tivemos essa antecipação em 2023.”
Com o resultado da redução de vendas, as montadoras, observa Bonini, estão acomodando a produção à demanda, que míngua. Para isso, reduzem turnos no chão das fábricas, emendam feriados e antecipam férias coletivas. “Quase todas fizeram alguma adequação desse tipo desde fevereiro”, afirma. Entre as empresas do ramo que fazem parte da Anfavea, estão Scania, Volvo, Volkswagen, Mercedes, Iveco e DAF.
A nova tecnologia
Bonini observa que as novas tecnologias exigidas pelo Proconve 8 (ou P8) criam uma espécie de “usina” para reduzir a dispersão de poluentes, que atua na sequência do motor. Dispositivos eletrônicos fazem ainda um acompanhamento do nível de gases e partículas liberadas ao longo da vida útil desses veículos, por até 700 mil quilômetros.
“Esses sistemas também fazem um monitoramento permanente dos poluentes e são capazes de reduzir a potência do caminhão quando detectam que as emissões atingiram um nível elevado”, diz o vice-presidente da Anfavea.
A atual fase do programa foca na redução das emissões de gases de escapamento de veículos pesados. Essa queda deve alcançar 80% no caso de óxidos de nitrogênio e 50% para material particulado.