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Como o último Focus retrata o estrago do cenário econômico no Brasil

No boletim divulgado pelo BC, as projeções pioraram para indicadores como juros, câmbio e inflação. Mas será que a deterioração já acabou?

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1 de 1 Imagem de painel da Bolsa de Valores do Brasil - Metrópoles - Foto: Cris Faga/NurPhoto via Getty Images

A última edição do Relatório Focus, divulgado nesta terça-feira (23/4) pelo Banco Central (BC), pode ser visto como uma testemunha da deterioração do cenário econômico no Brasil, registrada de forma mais intensa – e especialmente veloz – nas últimas três semanas.

O boletim traz projeções para diversos indicadores econômicos, feitas por cerca de 150 agentes do mercado – entre economistas e analistas. Na última versão da pesquisa realizada pelo BC, três dos quatro principais itens avaliados apresentaram resultados negativos simultaneamente, o que é incomum.

Um deles foi a taxa básica de juros do país, a Selic. O mercado, agora, estima que ela chegará a 9,50% no fim deste ano. Na semana anterior, esse número era de 9,13%. O detalhe é que a previsão vinha sendo mantida em 9% nas 16 semanas anteriores, desde 22 de dezembro. Ou seja, a elevação da Selic quebrou uma expectativa que vinha sendo mantida havia quatro meses. Para 2025, o número igualmente subiu, o que não acontecia desde 1º de dezembro. Ele passou de 8,50% para 9%.

A projeção do dólar também embicou para cima – e isso para os próximos três anos. Os especialistas consultados pelo BC acreditam que a moeda americana vai fechar em R$ 5,00 em 2024 (na semana anterior essa estimativa era de R$ 4,97), em R$ 5,05 em 2025 (antes estava em R$ 5,00) e em R$ 5,10 em 2026 (contra R$ 5,03).

Por fim, a perspectiva para a inflação também sofreu um baque, ainda que pequeno até o momento. De qualquer forma, ela reverteu uma tendência de queda presente nos últimos boletins e subiu. Isso tanto para 2024, quando a projeção do IPCA passou de 3,71% para 3,73%, como para 2025, com estimativa de alta de 3,56% para 3,60%.

Razões da piora

Emerson Marçal, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), observa que dois fatores tiveram especial peso na deterioração desses indicadores. São eles a perspectiva de manutenção dos juros altos por mais tempo nos Estados Unidos e a questão fiscal no Brasil. 

No primeiro caso, os juros elevados tornam mais atrativos investimentos nos títulos do Tesouro americano, considerados os ativos mais seguros do mundo, o que drena recursos de outras aplicações, como as ações negociadas em Bolsa, principalmente em países emergentes, caso do Brasil.

Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos, economista-chefe da Messem Investimentos, observa que, “não sem grande excesso de otimismo”, o mercado acreditava piamente que as taxas nos  EUA, hoje fixadas no intervalo entre 5,25% e 5,50%, iriam começar a cair em março. “Agora, essa previsão já passou para setembro e, em alguns casos, foi estendida para dezembro”, diz. “Ou seja, o fato é que o quadro atual não vai mudar tão cedo.”

Turbulência fiscal

A turbulência fiscal encorpou na semana passada, quando o governo federal anunciou a revisão da meta para os anos de 2025 e 2026. Para o próximo ano, em vez de superávit primário (o saldo positivo das contas públicas, antes do pagamento de juros) de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o alvo passou a ser um empate de zero a zero entre receitas e despesas, ou mesmo, eventual déficit de 0,25%. Para 2026, o superávit inicialmente projetado para 1% agora encolheu para 0,25% do PIB.

Bertotti considera, porém, que não foi só a troca de meta que causou rebuliço entre os agentes econômicos, o que ajudou na deterioração do cenário. Para ele, fatos como a intervenção do governo na Petrobras, na discussão sobre o pagamento de dividendos extraordinários a acionistas, e tentativa de influenciar a sucessão do novo presidente da Vale, também contribuíram para a mudança de humor do mercado. “Tudo isso atua para mudar o balanço de riscos e faz a percepção de investidores e empresários piorar”, diz.

Guerra e sinais do BC

Os economistas acrescentam que, somado a esses fatores – e embora por enquanto com menor peso – o agravamento do conflito no Oriente Médio, com o ataque do Irã a Israel, colaborou para entornar o caldo do cenário econômico mundial e teve impacto no Brasil.

Além disso, diz Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Inside, o Banco Central sinalizou na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), de março, que poderia reduzir o ritmo de queda da Selic. No documento, havia a previsão de apenas mais um corte de 0,5 ponto percentual da taxa, hoje em 10,75% ao ano, e isso se mantidas as condições de temperatura e pressão da economia global e interna. Para Silvestre, as comunicações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, também seguiram a mesma toada. “Isso alterou a expectativa dos agentes”, afirma o analista.

O que pode acontecer

E os indicadores econômicos podem piorar nas próximas edições do Focus? Para Marçal, da FGV EESP, a resposta é sim, mas contando que surja uma nova surpresa negativa nos EUA e que o governo brasileiro não cumpra o que prometeu. “O país não pode deixar de obter superávit primário de maneira impune e indefinidamente”, diz. “Isso tem custos de inflação e crescimento.”

No que diz respeito à taxa Selic, notam os especialistas, as projeção do Focus têm consideráveis chances de deteriorar. Isso porque parte do mercado já trabalha com uma previsão de 10% para o fim deste ano.

Como ressalva, acrescente-se que, no boletim divulgado nesta segunda, entre os quatro principais indicadores econômicos avaliados pelos analistas, apenas a projeção do PIB para 2024 pode ser considerada positiva. Ela aumentou pela décima vez seguida, passando de 1,95% para 2,02%.

Além disso, registraram uma boa evolução as previsões para a Balança Comercial (exportações menos importações) e o Investimento Direto no País. Em contrapartida, houve piora na previsão da dívida líquida do setor público. Ela registrou leve alta, passando de 63,77% para 63,85%,

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