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Como o novo desastre em Maceió dificulta ainda mais a venda da Braskem

Desabamento neste domingo (10/12) em mina sob lagoa da capital de Alagoas reaviva discussão sobre custo do problema para a petroquímica

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Casas abandonadas após bairro do Pinheiro, em Maceió, ter solo afundado pelo trabalho de mineração da Braskem - Metrópoles
1 de 1 Casas abandonadas após bairro do Pinheiro, em Maceió, ter solo afundado pelo trabalho de mineração da Braskem - Metrópoles - Foto: Orlando Costa/Especial Metrópoles

O desabamento ocorrido neste domingo (10/12) na mina 18, operada pela Braskem, em Maceió (AL), reavivou uma dúvida que já pairava no mercado desde o início do mês, quando veio à tona a possibilidade de colapso da cavidade. A grande questão é saber se a petroquímica terá de fazer novas reservas – no jargão, provisões – para enfrentar o agravamento do problema e suas eventuais consequências, como novas indenizações. 

A resposta a essa pergunta tem grande peso na definição do rumo das negociações da venda de parte da Braskem, cujas primeiras propostas começaram a surgir em 2019. Hoje, a lista de interessados em adquirir a parcela que a Novonor, a ex-Odebrecht, detém na companhia inclui a Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc), a Unipar e a J&F.

Na avaliação de João Daronco, analista da Suno Research, reservas mais polpudas, se necessárias, podem “machucar” os resultados financeiros da empresa. “Um aumento da provisão teria um impacto negativo na capacidade de geração de caixa da companhia”, diz. “E isso aconteceria num momento em que o setor petroquímico passa por um forte ciclo de baixa, quando os spreads (a diferença entre o preço de venda de produtos e o dos insumos) ficam mais apertados.”

E esses “machucados”, que podem piorar, já vinham ocorrendo. O tema foi abordado pelo vice-presidente de finanças, suprimentos e relações institucionais da Braskem, Pedro Freitas. Durante evento com investidores, no fim de novembro, o executivo afirmou que a empresa tem reportado elevado consumo de caixa nos últimos trimestres, justamente por causa dos dispêndios feitos em Alagoas.

O tamanho da conta

A petroquímica afirma que reservou R$ 14,4 bilhões para despesas com o problema de Maceió. Desse total, R$ 9,2 bilhões foram gastos. A maior parte do dinheiro, diz a empresa, foi usado para pagar indenizações a famílias e a empresários dos bairros esvaziados na capital de Alagoas, quando, em 2018, foi constatada a ameaça de desabamento do solo. Nessas regiões, a empresa operava um total de 35 minas de sal-gema, material usado na produção de PVC e soda cáustica.

Em entrevista ao Metrópoles, porém, a secretária da Fazenda de Alagoas, Renata Santos, afirma que estudos encomendados pelo estado mostram que o impacto do problema socioambiental pode variar de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões, dependendo do cenário considerado.

Esses números contemplam os efeitos do desastre em áreas que vão de danos ao patrimônio a prejuízos com a arrecadação, passando por entraves de mobilidade e perdas de boa parte da Região Metropolitana de Maceió. Renata define o problema, que atinge cerca de 20% da capital de Alagoas e já provocou a remoção de 60 mil pessoas de suas casas, como uma tragédia.  

Ação bilionária

A Braskem também é alvo de ações na Justiça, cujos resultados são imprevisíveis no momento. No fim de novembro, por exemplo, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) e a Defensoria Pública da União (DPU) ajuizaram uma ação civil pública contra a empresa no valor de R$ 1 bilhão.

A dúvida sobre a necessidade de novas reservas para enfrentar o problema de Maceió também derrubou as ações da Braskem na Bolsa brasileira (B3), na semana passada. De acordo com levantamento feito pelo consultor de dados financeiros Einar Rivero, a queda ficou em 13,5%, entre 29 de novembro, quando o risco de novo colapso da mina 18 se tornou público, até o fechamento do mercado, na sexta-feira (8/12).

Sustentabilidade punida

Agora, isso tudo pode interferir na eventual venda da Braskem? A resposta é sim, notadamente num mercado com crescentes preocupações relacionadas ao tema ESG, a sigla, em inglês, para boas práticas empresariais nas áreas ambiental, social e de governança. Nesse campo, a empresa também foi punida. A Bolsa excluiu as ações da petroquímica de seu Índice de Sustentabilidade Empresarial, composto por 67 companhias, desde de sexta-feira (8/12).

Está barato

O detalhe é que, para João Daronco, da Suno, o atual repique do problema em Maceió pode não afastar compradores. Isso porque, antes da ocorrência o novo problema a empresa estava barata. Agora, pode ficar mais ainda em conta, em que pesem as incertezas futuras. “Uma das principais propostas de aquisição da empresa foi feita a um preço de cerca de R$ 38 por ação”, afirma o analista. “Sem a atual turbulência, esse valor seria de pelo menos R$ 40 a R$ 45.”

Principal proposta

A principal proposta apresentada até agora pela Braskem foi feita pela Adnoc, de Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes. Em novembro, ela ofereceu R$ 10,5 bilhões pela fatia de 38,3% (50,1% do capital votante) que a Novonor, a ex-Odebrecht, detém na petroquímica brasileira. Na oferta, o valor por ação ficou em R$ 37,29.

A Novonor tem todo o interesse – e urgência – em passar para frente sua parcela na Braskem. O negócio está previsto na recuperação judicial da empresa, iniciada em 2020. As ações que ex-Odebrecht têm da petroquímica foram usadas como garantia para o pagamento de dívidas com cinco bancos credores.

A Petrobras é sócia minoritária da Novonor na Braskem, com 36,1% (47% do capital votante) da empresa. Ela tem o direito de preferência na compra das ações da petroquímica, mas não definiu se deseja exercê-lo. 

Gigante global

A Braskem é uma gigante global, a sexta maior petroquímica do mundo, com unidades industriais no Brasil, Estados Unidos, Alemanha e México. É líder mundial na produção de resinas termoplásticas, usadas em inúmeros produtos e materiais plásticos. Daí a fila de compradores que se formou para arrematar a companhia.

Ela foi criada em 2002, com a união de ativos petroquímicos da Odebrecht e do grupo Mariani. Em 2010, agigantou-se com a incorporação de partes da Petrobras e do grupo Ultra. A operação que seguia a política dos “campeões nacionais”, adotada nos primeiros governos petistas. A ideia, nesse caso, era estimular a formação de multinacionais brasileiras com apoio do Estado, capazes de enfrentar grandes conglomerados globais. Foi a partir dessa lógica que surgiram o frigorífico JBS e a supertele Oi/Portugal Telecom, que colapsou monumentalmente.

 

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