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Como o BC, presidido por Campos Neto, derrubou a inflação

E por que os economistas consideram que a atuação do Banco Central foi crucial para preparar o terreno para a queda da taxa de juros no país

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Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comparece a audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado Federal
1 de 1 Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comparece a audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado Federal - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Ocupar a presidência de um banco central (BC) não é, em nenhum lugar do mundo, a atividade mais popular que se possa exercer. Ainda assim, os ataques a Roberto Campos Neto, o presidente do BC brasileiro, chamam a atenção. Eles persistem, apesar da expectativa de início da queda dos juros no país. Nesta semana, líderes de nove partidos pediram que o Senado Federal investigue a atuação do chefe da autoridade monetária do país.

O objetivo da apuração seria elucidar o porquê da demora na redução da taxa básica de juros, a Selic, mantida em 13,75% ao ano desde agosto de 2022. O grupo de políticos, ligados a partidos de esquerda, considera que por trás dessa suposta lentidão possa haver uma “motivação viciada”. Na análise de economistas liberais, de fato, há um vício em jogo que justifica essa morosidade e seu nome é bem conhecido no país: inflação.

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, nota que a missão precípua do BC é manter a inflação dentro da meta (no máximo, 4,75% em 2023). Para isso, ele usa o principal instrumento à disposição da política monetária – a taxa de juros. Quando ela sobe, a atividade econômica desacelera e o preço dos produtos tende a cair. “Foi isso o que aconteceu”, diz. “E a atuação do Banco Central tem sido fundamental nesse sentido.”

Vale observa que mão pesada do BC pode ser notada, principalmente, na queda da inflação no setor de serviços, um dos fronts mais resilientes nesse aspecto, e no seu núcleo (descontadas as variações pontuais dos índices, tanto para cima como para baixo). “Mas conseguir esse tipo de resultado tem seu preço”, diz. “Com os juros altos, os negócios diminuem e as pessoas não conseguem pagar as contas. Acontece que é melhor ter problemas agora e benefícios no longo prazo do que arriscar o contrário. Já tentamos isso várias vezes e nunca deu certo.”

Cartilha

O economista Marcelo Kfoury Muinhos, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), tem uma avaliação semelhante. “O BC fez o que se esperava dele: seguiu a cartilha”, diz. “Manteve a política monetária e conseguiu controlar a expectativas em torno da inflação. E o custo disso não chegou a ser tão alto, porque o mercado de trabalho continua forte, com o nível de desemprego abaixo da média histórica.”

Em relação à demora da queda dos juros, Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da FGV EESP, observa que, para garantir a eficiência da política monetária, é preciso mover a taxa no momento adequado. “Não se pode aumentá-la no primeiro sinal de avanço da inflação nem reduzi-la no início da queda”, afirma.

Maçal considera, contudo, que a diminuição dos juros – ou a indicação por parte do BC para o início da descida – poderia ter começado antes. O primeiro sinal concreto de corte só foi dado no início deste mês. Mas ele acredita que polêmicas provocadas pelo próprio governo, como o debate sobre o fim da autonomia do BC, podem ter atrasado esse processo. “Isso piorou as expectativas do mercado”, diz. “Talvez, sem essas discussões, a situação tivesse sido outra e já pudéssemos ter uma taxa menor.”

Conjuntura

Em uníssono, os economistas observam que a queda da inflação também se beneficiou de fatores conjunturais. Houve, notadamente, uma redução do preço de alimentos, provocada por uma soma benigna de fatores. Ela incluiu a queda do preço internacional das commodities, a redução do dólar (que diminui o preço das importações) e a colheita de mais uma farta safra agrícola no Brasil. “Mesmo assim, o papel do BC foi mais importante do que esse quadro favorável”, diz Marçal.

Sobre a manutenção da grita contra o BC, Marcelo Muinhos nota que os períodos que antecedem o início da queda dos juros são, em geral, ruidosos. “Isso porque, quando chega essa hora, alguns sempre acham que a taxa já deveria ter caído, enquanto outros não têm tanta certeza se o momento é adequado”, afirma.

Dúvidas

Em recente análise sobre a conjuntura econômica do país, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, avaliou que o  quadro ainda é de “cautela” no que diz respeito à redução da Selic. Isso justamente por causa do mercado de trabalho, que continua forte. Dessa forma, alguma pressão inflacionária ainda pode ser mantida sobre o setor de serviços, no qual o uso de mão de obra é intenso e o seu custo tem forte peso.

E mesmo que os juros comecem a cair no próximo mês, afirmam especialistas, isso não quer dizer que a discórdia vai terminar. Ainda há muito a ser discutido, por exemplo, sobre qual a velocidade que essa queda deve acontecer. Como se vê, o consenso está longe de ser matéria-prima da atividade do Banco Central.

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