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Como o aumento da gasolina vai afetar a inflação. Entenda

Combustível tem peso relevante na composição dos índices de preços e agentes econômicos já estão aumentando a previsão do IPCA para 2024

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Carro abastecendo - Metrópoles
1 de 1 Carro abastecendo - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Os aumentos de R$ 0,20 no litro da gasolina e de R$ 3,10 no botijão de 13 quilos do gás de cozinha, anunciados nesta segunda-feira (8/7) pela Petrobras, não trazem boas notícias para a inflação. Ao contrário. Eles instigam ainda mais a elevação das estimativas de aumento de preços neste ano, como mostram análises feitas por especialistas. 

O economista André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), destaca que a gasolina tem um peso de aproximadamente 5% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil. 

“Isso quer dizer que, para cada 1% de aumento do combustível, o impacto no IPCA é de 0,05 ponto percentual”, diz. O economista observa que, na prática, a elevação anunciada pela Petrobras deve acrescentar R$ 0,15 ao preço médio da gasolina do mês passado. 

Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), esse valor era de R$ 5,68, considerando o combustível comum. “Agora, ele vai para R$ 5,83, o que representa um aumento de 2,64%”, diz Braz. “Isso resultaria num impacto de 0,13 ponto percentual no IPCA nos próximos 30 dias”. Desse valor, 0,08 ponto vai recair sobre o índice de julho e 0,05 ponto, em agosto.

Má notícia para a inflação

“Essa não é uma boa notícia para a inflação”, afirma Braz. “A gasolina, além do peso no IPCA, tem impacto em outras áreas, como nos custos de alguns serviços, cujos preços também acabam aumentando e isso ajuda a espalhar a inflação”.

Avaliação semelhante é feita pela economista Andréa Angelo, estrategista da área de inflação da Warren Investimentos. Ela considera que o aumento de R$ 0,20 da gasolina promovido a partir desta quinta-feira (9/7) pela Petrobras equivale à elevação de 7,15% do valor do combustível na refinaria. 

E tem o botijão

Isso significa um acréscimo de cerca de 2,50% na bomba, com impacto total no IPCA de 0,13% ponto percentual, sendo 0,09 ponto no índice de julho. 

Mas isso em relação à gasolina. A Petrobras também anunciou uma elevação de R$ 3,10 no botijão de gás de 13 quilos, que passou a custar R$ 34,70. Para Andréa Angelo, esse aumento terá impacto de 0,05 ponto percentual na inflação.

Alta das projeções

Como resultado das elevações da gasolina e do gás de cozinha, observa a economista, a estimativa do IPCA feita pela Warren para 2024 subiu. Ela passou de 4,10% para 4,28%. “O reajuste anunciado hoje não estava no nosso cálculo de inflação”, diz Andréa. “Embora soubéssemos da defasagem [de preço da gasolina], não esperávamos que a empresa tomasse essa decisão nesta segunda-feira.”

Para ela, o aumento promovido ainda não zera a defasagem do preço da gasolina. “De acordo com nosso levantamento, ainda ele ainda fica uns 6% defasado”, afirma. “Mais da metade desse valor é explicada pela depreciação do real. O desempenho do petróleo explica muito pouco a disparidade.”

Outros agentes econômicos também estão alterando a previsão do IPCA de 2024, depois do anúncio do aumento da gasolina e do gás de cozinha. “Por não contemplarmos nenhuma espécie de reajuste em nossas projeções do IPCA deste ano, a perspectiva de 2024 subiu de 4,0% para 4,2%”, informou a Ativa Investimentos.

Longas sequências de aumento

Antes do anúncio da Petrobras, as projeções feitas pelo mercado tanto para a inflação como para o dólar já vinham em alta. Foi isso o que mostrou nesta segunda-feira (8/7) o Relatório Focus, a pesquisa semanal feita com agentes econômicos pelo Banco Central (BC). 

No caso da inflação, a estimativa para o IPCA em 2024 subiu pela nona vez seguida, chegando a 4,02%. Esse valor já foi superado com o aumento da gasolina na avaliação de alguns analistas. Para 2025, a previsão cresceu pela décima vez consecutiva, atingindo 3,88%. Ainda segundo o Focus, a projeção para o dólar avançou para 2025 e 2026, alcançando R$ 5,20 nos dois casos.

Juros nos EUA e fiscal no Brasil

Especialistas atribuíam essa sequência de elevações (leia mais sobre esse assunto neste link), tanto da inflação como do dólar, a fatores externos e locais. No primeiro caso, pesam os juros altos nos Estados Unidos. No ambiente interno, contam a questão fiscal e impacto na economia da tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. 

No caso americano, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) mantém os juros especialmente elevados – eles estão no intervalo entre 5,25% e 5,50% – desde julho de 2023. Isso aumenta a atratividade dos títulos da dívida americana, os Treasures, considerados os mais seguros do mundo.

Em contrapartida, ocorre uma perda de interesse por parte de investidores por ativos de renda variável, como as ações negociadas nas Bolsas de países emergentes. Esse quadro também exerce pressão de alta do dólar e a consequente desvalorização do real – o que também tem impacto na defasagem da gasolina, como se viu acima.

Mudança de tom de Lula

Desde o fim de junho, a cotação da moeda americana também estremeceu por causa das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a questão fiscal (que trata da relação entre gastos e receitas do governo), além de críticas que ele fez ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Na última semana, no entanto, Lula mudou de tom. Disse que seu governo tem responsabilidade fiscal e que a economia não vai quebrar em seu mandato. A cotação do dólar acalmou-se.

No caso das chuvas no Rio Grande do Sul, observou o economista André Braz, do FGV Ibre, o maior risco está no aumento dos preços da alimentação. Há mais. O Banco Central também tem reiterado preocupações em torno da inflação do setor de serviços e sobre a força do mercado de trabalho, que também podem aumentar o fôlego do IPCA.

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