Como o ataque do Irã pode afetar a vida e o bolso do brasileiro
Guerra pode elevar o preço do petróleo. Com isso, os juros não vão cair, e a economia tende a esfriar, afetando o crescimento e a renda
atualizado
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À primeira vista, não há motivo para pânico – mas pode ser só à primeira vista. As cotações do petróleo e as principais bolsas de valores do mundo permanecem estáveis no início desta segunda-feira (15/4), depois do ataque do Irã a Israel, no sábado (13/4). Mas a nova etapa do confronto no Oriente Médio aumenta de forma substancial a pressão sobre um quadro econômico já bastante delicado existente no planeta.
Sobre os fatos, o que se pode dizer é que o petróleo do tipo Brent, que serve de referência internacional, caiu 1%, cotado a US$ 89,52 o barril na manhã desta segunda-feira. O West Texas Intermediate (WTI), que é o padrão para os Estados Unidos, caiu 1,2%, a US$ 84,63 por barril.
De qualquer forma, observam especialistas, a principal consequência negativa para a economia global com o agravamento do conflito é justamente um eventual aumento do preço do petróleo. Ele teria impacto especialmente danoso na formação de preços de um sem-número de produtos, o que poderia provocar nova pressão inflacionária.
E mais inflação é tudo que o mundo não quer. Isso porque, para combatê-la, os bancos centrais tendem a aumentar ou manter elevadas as taxas de juros. É isso o que vem ocorrendo há tempos nos Estados Unidos, onde as taxas estão sendo mantidas no 5,25% e 5,50%, o maior patamar em 22 anos, e não existem sinais nítidos de que serão reduzidas no curto nem mesmo no médio prazo.
Juros nocivos
Mantidos nas alturas, os juros americanos afetam todo o planeta. Aumentam, por exemplo, o interesse dos investidores por títulos do Tesouro dos EUA, os Treasuries. Com isso, ativos de renda variável, como ações negociadas em bolsas de valores, tornam-se menos interessantes – em especial em países emergentes, como é o caso do Brasil. Além disso, o dólar sofre pressão de alta. É isso em grande medida o que explica a valorização da moeda americana e as quedas da Bolsa brasileira (B3) nas últimas semanas.
Há mais, contudo. Com a pressão inflacionária, ainda que latente, há um recrudescimento das incertezas dentro e fora do Brasil sobre o comportamento da economia mundial. E incerteza é uma das palavras mais daninhas para a estabilidade e o desenvolvimento dos mercados em todos os países.
Riscos no Brasil
O resultado líquido desse cenário é que o ritmo de redução da taxa de juros no Brasil pode ser severamente afetado. Foi por isso – e ainda sem o agravamento da guerra no Oriente Médio – que o Banco Central (BC) do Brasil mudou o tom do último comunicado sobre o corte de juros no país, divulgado depois da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, em março.
Na ocasião, o órgão do BC confirmou que realizaria, mantidas as condições econômicas então vigentes, apenas mais um corte da Selic, hoje de 10,75%, de 0,5 ponto percentual. Com isso, criou espaço para colocar o pé no freio das reduções da taxa.
O problema é que os juros elevados tendem a reduzir a inflação, porque desaquecem a atividade econômica no país. Ou seja, potencialmente, elas inibem o crescimento, reduzem a renda das pessoas e, no limite, a oferta de emprego. No fim da linha, em termos econômicos, esse é o grande risco que o agravamento da guerra no Oriente Médio oferece ao Brasil e ao mundo.