Como o aporte de R$ 4,5 bilhões pode tirar a BRF do sufoco
Recursos da Marfrig e do fundo saudita Salic vão aliviar o endividamento da dona das marcas Sadia e Perdigão que, de novo, enfrenta problema
atualizado
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Na semana passada, as ações da BRF, a gigante que nasceu da fusão entre a Sadia e a Perdigão, em 2013, dispararam na Bolsa brasileira (B3). Elas chegaram a valorizar quase 16%, como resultado do anúncio de um aporte estimado em R$ 4,5 bilhões, que será feito na companhia pelo frigorífico Marfrig e pelo Salic, o fundo soberano da Arábia Saudita, voltado para o segmento da agricultura e pecuária.
Tal movimento, na avaliação do mercado, não poderia ocorrer em ocasião mais propícia. Hoje, a relação entre a dívida líquida e o Ebtida (o lucro antes do pagamento de juros, impostos, amortizações e depreciações) da BRF é de 3,5 vezes. Isso quer dizer que, com o Ebtida que a empresa consegue obter em um ano, ela levaria três anos e meio para quitar seus débitos.
Nesse ramo de atividade, observa Vinícius Steniski, analista de ações do TC, a plataforma de assessoria a investidores, o patamar de 3 vezes já é considerado arriscado. Com 3,5 vezes, ele se torna arriscado e meio, por assim dizer.
Há mais, contudo. Consideradas as chamadas operações de risco sacado, nas quais os débitos com fornecedores nem sempre estão claros no balanço e ocupam notas de rodapé, essa relação entre dívida líquida e Ebtida da BRF sobe para expressivas 4,7 vezes. Assim, é nesse contexto que os R$ 4,5 bilhões se encaixam.
Queda expressiva
Steniski estima que, com essa bolada, somados a recursos provenientes da venda de ativos e precatórios, cujas negociações estão em curso, a BRF pode engordar o caixa em cerca de R$ 8,5 bilhões. “Com esse dinheiro, levando-se em conta que todas as negociações vão avançar de forma positiva, a relação entre dívida e Ebtida da empresa poderia cair para 3 vezes, em 2024, chegando a menos de 2 vezes, em 2025.”
Ou seja, desaba do patamar atual. E, com uma dívida menor, nota o analista, a BRF poderia economizar cerca de R$ 600 milhões por ano, ao deixar de pagar juros em empréstimos que tendem a diminuir. “O acordo com os sauditas também pode reforçar a posição da empresa no Oriente Médio, um importante mercado para a exportação de produtos”, afirma Steniski.
Crivo dos acionistas
Agora, a proposta do aporte terá de ser aprovada em assembleia dos acionistas da empresa, que deve acontecer nas próximas semanas. A Marfrig, controladora da BRF, tem 33% das ações da companhia. O fundo Salic passará a deter 16% da companhia, se confirmada a transação. Os sauditas também possuem 33,8% da Minerva, a maior exportadora de carne bovina da América do Sul.
Essa não é a primeira vez em que a BRF passa por um aperto. Desde sua criação, a empresa enfrentou problemas de toda a sorte. Eles vão de disputas societárias (que opôs o empresário Abilio Diniz e os fundos de pensão do Banco do Brasil, o Previ, e da Petrobras, o Petros) a escândalos de corrupção.
Em dezembro do ano passado, a empresa comprometeu-se a pagar R$ 584 milhões num acordo de leniência firmado com a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU). Ele encerrou as investigações da Operação Carne Fraca, de 2017, que desbarataram um esquema de fraude na análise da qualidade de produtos.