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Como as agências classificam os riscos dos bancos

Saiba por que a Fitch, uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo, aumentou a nota de crédito de 12 bancos brasileiros

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Nesta semana, 12 instituições financeiras brasileiras, entre as quais alguns dos principais bancos públicos e privados do país, tiveram sua nota de crédito elevada pela Fitch, uma das três principais agências de classificação de risco do mundo. Essas agências são empresas privadas que avaliam a saúde financeira de países e empresas.

A decisão, anunciada na quarta-feira (2/8), foi tomada na esteira do aumento do chamado “rating soberano” do Brasil, de “BB-” para “BB”, com perspectiva estável, divulgado no dia 26 de julho. Dois dias depois, a Fitch também subiu a nota de crédito de 19 empresas brasileiras, incluindo a Petrobras.

No caso da Fitch, a nota mais baixa é a “D”, situada na categoria de elevado risco de inadimplência. Em seguida, em ordem crescente, vêm as notas “C”, “CC” e “CCC”. O grupo especulativo é formado pelas notas “B”, começando pela “BB-” até a “BB+”. No grupo de investimento, estão as notas “BBB-”, “BBB” e “BBB+”. Por fim, as notas de maior grau de investimento são “A-”, “A”, “A+”, “AA-”, “AA”, “AA+” e “AAA” – o “triplo A”, a mais alta de todas.

Em relação aos bancos, segundo a Fitch, a decisão abrange instituições cujos ratings “estão “limitados no mesmo nível ou um degrau acima do rating soberano do Brasil”. Itaú e Bradesco, por exemplo, tiveram sua nota de crédito aumentada de “BB” para “BB+”, enquanto BTG Pactual, Banco PAN, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal subiram de “BB-” para “BB”.

“De modo geral, as agências condicionam as notas dos bancos ao ‘rating soberano’ dos países. É o que mais conta. Como houve uma melhora da condição macroeconômica no Brasil, isso acaba atingindo também bancos, instituições financeiras e uma série de outras empresas brasileiras”, explica André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

Entre os critérios avaliados pelas agências de risco para aumentar ou diminuir a nota de crédito de países ou empresas, estão indicadores macroeconômicos, como taxa de juros, inflação, câmbio e o Produto Interno Bruto (PIB). Também são considerados o ambiente político, o grau de estabilidade institucional e as projeções para a economia.

“Em geral, se o país tem uma nota baixa, é esperado que os bancos daquele país tenham uma nota equivalente ou apenas um degrau acima. No Brasil, embora o sistema financeiro nacional seja muito sólido e seguro, ainda temos uma taxa de inadimplência elevada e uma taxa de juros sufocante, além de um processo de desaquecimento gradual da economia. Parte do crescimento que vimos no primeiro trimestre está associada a questões pontuais que não devem se repetir no decorrer do ano. Tudo isso traz riscos”, afirma Galhardo.

O economista Rodrigo Antunes, sócio na WIT Invest, ressalta que os bancos são instituições “diretamente afetadas pelas mesmas premissas que afetam o risco soberano do Brasil”, o que explica a decisão da Fitch. “A Fitch não elevou a nota desses bancos especificamente pelo grau de risco de cada um deles, mas pelos dados macroeconômicos do país, que podem atingir diretamente o negócio dessas empresas”, afirma.

“Os principais bancos brasileiros estão com uma nota que pode ser vista como relativamente baixa por algumas pessoas. Poderia ser um “AAA”? Poderia. Mas vários critérios são avaliados. Não é só a operação do banco em si, mas também as variáveis macroeconômicas”, prossegue Antunes.

“Se olharmos apenas para os bancos, observando níveis de alavancagem, fluxo de caixa ou balanço patrimonial, um ‘bancão’ brasileiro poderia facilmente receber um triplo A como nota. Por ele estar inserido em um ambiente macro, esses outros fatores que não estão sob sua alçada impactam a avaliação.”

As agências são confiáveis?

Os especialistas ouvidos pelo Metrópoles lembram que as agências de classificação de risco enfrentaram uma onda de descrédito durante a crise do “subprime”, em 2008, nos Estados Unidos. Na época, houve a concessão de uma série de empréstimos hipotecários de alto risco – para financiamento imobiliário – pelos bancos. Muitas instituições financeiras foram levadas à insolvência, o que derrubou as principais bolsas de valores. O auge da crise foi a quebra do Lehman Brothers, um dos mais antigos bancos de investimento do mundo.

“Em 2008, de fato, as principais agências de risco praticamente ignoraram o apelo de alguns agentes do mercado de rever a nota de crédito de alguns ativos ligados a empréstimos imobiliários nos Estados Unidos”, afirma André Galhardo. “No entanto, de modo geral, apesar desse problema grave, o mercado precificou isso e, atualmente, mudanças das notas do rating soberano de países são bem recebidas pelos agentes econômicos. Passados 15 anos daquele episódio, as informações dessas agências são levadas em consideração e recebidas como algo crível.”

Avaliação semelhante é feita por Rodrigo Antunes. “Essa é uma discussão bem sensível. Partimos do pressuposto de que as agências fazem seus estudos de forma ética, com a maior isenção possível”, diz. “Em 2008, o ‘subprime’ passou despercebido por todas elas. Mas é o que temos à disposição. Não quero crer que haja um viés no trabalho dessas agências, que estão aí há bastante tempo abastecendo o mercado com dados.”

Credit Suisse e EUA

Em 2023, pelo menos dois episódios envolvendo bancos causaram temor de um contágio global. Mergulhado em uma crise financeira e de confiança sem precedentes, o Credit Suisse, um dos bancos mais tradicionais da Europa, teve de ser “resgatado” e foi vendido ao concorrente UBS Group AG, em uma transação histórica que contou com a intermediação do governo da Suíça. Menos de um ano antes da derrocada do Credit, a nota de crédito atribuída pela Standard & Poor’s (S&P) ao banco era de “BBB+”.

“Essa fragilidade do Credit passou, realmente, despercebida pelas agências. Foi uma fragilidade contábil que elas não conseguiram captar, talvez por diferenças de legislação em relação ao setor financeiro que existem em vários países. Isso põe em xeque a credibilidade das agências. Ainda assim, são o que temos de mais concreto em termos de classificação e de fornecimento de dados ao mercado”, diz Antunes.

Nos Estados Unidos, também no primeiro semestre, bancos regionais como o Silicon Valley Bank (SVB), o First Republican e o Signature Bank foram à falência. “Episódios como a falência do First Republican e de outros bancos regionais americanos são mais difíceis de ser previstos porque uma parte do problema veio de uma decisão tomada depois do início do ciclo de aperto monetário, de antecipar o recebimento de ativos com vencimentos para prazos mais longos. Portanto, os bancos não estariam, em tese, tão expostos a riscos. Estavam relativamente, ou aparentemente, sólidos”, pondera André Galhardo.

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