Como a loja do antigo Mappin foi parar nas mãos do trio da Americanas
Prédio do antigo Mappin, que pertencia às Casas Bahia, voltou a ser administrada pela São Carlos, controlada pelos acionistas da Americanas
atualizado
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O edifício João Brícola, projetado inicialmente para ser a sede do Banco do Estado de São Paulo (Banespa) e que se tornou a sede icônica do antigo Mappin, no centro de São Paulo, está sem inquilino. A loja da Casas Bahia, controlada pela Via, deixou o espaço. Com isso, o prédio volta às mãos da São Carlos, administradora de imóveis que pertence às famílias de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. Os três são os acionistas de referência da Americanas.
Os empresários estão no olho do furacão da crise que engoliu a varejista desde janeiro, quando foi divulgada a existência de um rombo contábil de R$ 20 bilhões nas contas da empresa. Os bancos travam uma batalha ferrenha para tentar responsabilizar o trio pela suposta fraude financeira.
A desocupação do João Brícola pode ser o capítulo final para o icônico edifício que foi desenhado em 1939 por Elisário Bahiana, arquiteto que também projetou o Viaduto do Chá e o Jockey Club, em São Paulo.
Sede do Mappin
Desde então, o endereço foi povoado por diversas lojas, sendo a principal delas a sede do Mappin, primeira loja de departamentos da capital paulista. A rede varejista ocupou o prédio por seis décadas, até sua falência em 1999, causada por dívidas que somavam mais de R$ 1 bilhão (algo como R$ 10 bilhões, à época).
Após a falência do Mappin, o prédio chegou a ser alugado pelo Grupo Pão de Açúcar, que instalou ali uma loja do Extra. O negócio não durou muito, e após alguns anos vago, o João Brícola foi ocupado pela Casas Bahia em 2004.
O prédio pertencia à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. O imóvel passou a fazer parte do patrimônio da organização beneficente após uma troca de terrenos. Originalmente, o João Brícola abrigaria a sede do Banespa, banco comprado pelo Santander em 2000.
No entanto, o Banespa decidiu ter seu próprio edifício no centro de São Paulo, o Altino Arantes (conhecido atualmente como Farol Santander). Como parte do terreno onde o prédio foi construído pertencia à Santa Casa, houve uma troca.
Em 2019, durante a crise financeira da Santa Casa, o João Brícola foi vendido para a São Carlos Participações por R$ 70 milhões. Lemann, Sicupira e Telles passaram a ser dono do endereço, que fica na Praça Ramos de Azevedo, número 131.
A São Carlos foi fundada em 1989 e era um braço da própria Lojas Americanas. O negócio foi idealizado por Beto Sicupira, o sócio que esteve à frente da Americanas desde a aquisição da rede, em 1981. O plano de Beto era fazer da São Carlos a base para a expansão das lojas de varejo no interior do país. Funcionaria assim: a São Carlos compraria os imóveis que, depois, seriam alugados para a própria Americanas.
Com o tempo, o plano mudou. A São Carlos se tornou um negócio independente e passou a administrar pontos que eram locados a outras lojas, não só à própria Americanas. Em 1999, a administradora de imóveis abriu capital na Bolsa de Valores brasileira. Hoje, a São Carlos administra cerca de 80 propriedades e vale cerca de R$ 850 milhões no mercado.
Negócio difícil
Segundo uma fonte, o trio já tentava havia alguns meses vender o imóvel, uma tarefa difícil, considerando que o único inquilino era a Casas Bahia. Caso a varejista decidisse sair, a receita do imóvel iria a zero – algo que, de fato, acontecerá a partir deste mês.
A Via disse que decidiu desocupar o antigo prédio do Mappin por uma estratégia “natural do varejo, de fechamento e abertura de lojas”. Embora a varejista esteja encontrando dificuldades financeiras, causadas, ironicamente, pela crise da Americanas, a decisão de desocupar o João Brícola foi tomada ainda no ano passado.
Especialistas no ramo imobiliário dizem que será difícil encontrar um inquilino ou comprador para o imóvel, dado o tamanho do espaço e a menor atratividade em pontos comerciais no centro de São Paulo. Lojas da região têm registrado uma queda no fluxo de clientes, em razão do aumento da criminalidade e da circulação de moradores de rua e de dependentes químicos.
Em apenas um dia, desde o fechamento das portas da loja da Casas Bahia, o João Brícola virou abrigo para famílias que vivem nas ruas do centro, como mostrou esta reportagem do Metrópoles.