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Como a força do agro explica o “boom” populacional do Centro-Oeste

Região Centro-Oeste, potência do agronegócio brasileiro, viu sua população crescer mais que o dobro da média nacional. Não é por acaso

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Paulo Fridman/Corbis via Getty Images
Imagem do agronegócio no Mato Grosso
1 de 1 Imagem do agronegócio no Mato Grosso - Foto: Paulo Fridman/Corbis via Getty Images

Nenhuma região do Brasil registrou uma taxa de crescimento de sua população maior que a do Centro-Oeste nos últimos 12 anos. De acordo com os dados do Censo Demográfico, divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa anual de crescimento ficou em 1,2% na região entre 2010 e 2022, mais que o dobro da média nacional (0,52%) no período.

Segundo o Censo, a população do Centro-Oeste (ainda a região menos populosa do Brasil) era de quase 16,3 milhões de habitantes. Brasília se tornou a terceira cidade mais populosa do país, com 2,81 milhões de habitantes, atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro e à frente de capitais como Fortaleza, Salvador e Belo Horizonte.

A capital federal teve um aumento populacional de 9,6% em relação a 2010. Goiânia, capital de Goiás, cresceu 10,4% e ocupa a décima colocação no ranking nacional, com 1,4 milhão de habitantes. Cuiabá (18,1%) e Campo Grande (14,1%) também tiveram fortes altas em 12 anos.

A pujança do agro

Coração do agronegócio brasileiro, setor que vem impulsionando o crescimento da economia do país, o Centro-Oeste também tem baixo índice de desemprego (7%), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. É a segunda menor taxa entre todas as regiões do país, acima apenas do Sul (5%). A média nacional de desemprego foi de 8,8% no primeiro trimestre de 2023.

“O papel do agro é central nesse processo. As pessoas não vão se mudar para um lugar se ele não possibilitar uma melhora da qualidade de vida, com oportunidades de emprego e renda”, afirma o economista Felippe Serigati, do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro).

“Principalmente em meados do século XX, houve um forte adensamento da região Sudeste. As pessoas iam para o Sudeste justamente porque a região proporcionava melhores oportunidades de vida. Algo semelhante vemos agora no Centro-Oeste, muitas vezes criando até um fluxo na direção oposta, notadamente devido à força do universo agro: profissionais qualificados e com boa formação que residiam no Sudeste acabaram migrando para o Centro-Oeste”, explica Serigati.

Os números do agronegócio brasileiro, de fato, escancaram o peso desse importante setor da economia sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do país. No primeiro trimestre deste ano, de acordo com o IBGE, a economia brasileira avançou 1,9%. Mas esse resultado não teria sido possível sem o agro, que cresceu 21,6% no período – a maior expansão desde 1996.

Segundo dados da LCA Consultoria, o Centro-Oeste reúne 16 das 20 cidades mais ricas do agro brasileiro – 10 estão em Mato Grosso, três em Mato Grosso do Sul e três em Goiás. Entre os 100 municípios mais ricos do agronegócio, 35 são de Mato Grosso, 13 de Mato Grosso do Sul e 10 de Goiás.

“Quando uma unidade frigorífica se instala em uma cidade, e é o tipo de indústria que demanda muita mão de obra, é óbvio que isso movimenta a cidade inteira. Entretanto, o mais importante é a renda que o setor gera. Essa renda não desaparece. Boa parte dela fica na economia local”, diz Serigati.

Você aumenta a produtividade e essa produção gera mais renda, cuja parcela mais relevante fica na economia local. Se a economia local cresce, isso aquece, principalmente, o setor de serviços, que demanda muita mão de obra. Há gente migrando para esses locais não necessariamente para atuar no agro, mas em outros segmentos”, explica o economista da FGV.

Serigati ilustra esse círculo virtuoso com um exemplo hipotético. “Um cirurgião plástico, que é uma mão de obra muito qualificada, pode ir para o Centro-Oeste porque o mercado em São Paulo e no Rio de Janeiro está saturado. Ele vê a renda daquela região crescendo, ele vê pessoas de lá vindo para São Paulo para fazer esse tipo de procedimento e se pergunta: por que não ir para lá? Isso também vale para um garçom e inúmeras outras profissões”, afirma.

“O mercado de trabalho está aquecido. É o agro que está empregando tudo isso de gente? Não diretamente. Mas o setor de serviços, que consegue absorver essa mão de obra, está aquecido justamente por causa da renda que o universo agro gerou.”

Celeiro de oportunidades

Ricardo Arioli Silva, presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), destaca a presença cada vez maior de empresas e indústrias na região Centro-Oeste, o que aumenta a demanda por mão de obra e atrai trabalhadores de diversas regiões do Brasil que buscam oportunidades de trabalho.

“A segunda safra de milho é uma realidade em praticamente todos os municípios que plantam soja. Você precisa de mais máquinas agrícolas, principalmente plantadeiras, colheitadeiras, tratores… Para tudo isso, tem que ter gente especializada para operar essas máquinas mais modernas, que exigem um conhecimento técnico cada vez maior. Isso acaba atraindo mão de obra, uma coisa vai puxando a outra”, diz Arioli, que reside em Tangará da Serra, o sexto município mais populoso do Mato Grosso.

“Também há uma demanda por gente para cuidar da produção animal: de aviário, de fazendas de produção de suinocultura, da pecuária de corte”, prossegue. “A construção civil também cresce porque esse pessoal que vem trabalhar precisa de moradia. Como consequência, engenheiros e a força de trabalho para tocar as obras também são atraídos para essas regiões.”

Crescimento “de fora para dentro”

Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), também atribui ao desenvolvimento do agronegócio – e da agricultura, em especial – o aumento da população na região Centro-Oeste. “O crescimento da maioria desses municípios não é interno. É de fora para dentro. Não é a população que vem tendo mais filhos”, afirma Galvan.

Dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), referentes a 2021, mostram que a taxa de natalidade do Centro-Oeste vinha caindo desde 2017, passando de 15,38 para 13,95 (-9,3%). A taxa de natalidade corresponde ao número de nascidos vivos no período de um ano e representa a relação entre os nascimentos e o total da população. Ela é calculada por cada mil habitantes.

“O crescimento populacional do Centro-Oeste não está relacionado ao aumento da taxa de natalidade. Você pode ver que a migração existiu e continua muito forte nessas cidades porque a economia é pujante. A movimentação financeira proporcionada pela agricultura é determinante para isso. Onde a agricultura vai, há demanda por mão de obra”, conclui Galvan.

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