Como a Apple escapou da onda de demissões das gigantes de tecnologia
Para analistas, a empresa não se empolgou na hora de fazer contratações, quando as vendas do setor explodiram no auge da pandemia
atualizado
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Nos últimos meses, uma aparente anomalia instalou-se entre as gigantes de tecnologia do planeta. Enquanto a Meta (que controla o Facebook, o WhatsApp e o Instagram), o Google, a Microsoft e a Amazon anunciaram cortes maciços de funcionários, a Apple transita – ao menos, até o momento – incólume nesse caos.
Há pouco mais de uma semana, a Alphabet, que controla o Google, divulgou um plano para demitir 12 mil pessoas. Na mesma toada, a Microsoft comunicou que eliminaria 10 mil postos de trabalho; a Amazon, outros 18 mil; a Meta, mais 11 mil; e a Salesforce, que atua no mercado de computação em nuvem, 7 mil.
No geral, contudo, o número de baixas no segmento é bem mais contundente. De acordo com o portal Layoffs.fyi, que contabiliza demissões no setor, 219 empresas de tecnologia cortaram 68.149 empregos desde o início deste ano e até este sábado (28/1). Ou seja, foram mais de 2,4 mil dispensas por dia apenas em 2023.
Se é assim, por que a Apple ainda não foi arrastada por essa onda? A resposta, segundo analistas do setor, reside, notadamente, na parcimônia com que a companhia realizou contratações durante a pandemia, um período de forte crescimento para as empresas de tecnologia.
De setembro de 2019 a setembro de 2022, a força de trabalho na Apple cresceu cerca de 20%, atingindo cerca de 164 mil funcionários. Num período similar, o número de empregados da Amazon dobrou; na Microsoft, aumentou 53%; na Alphabet, 57%; e na Meta, 94%.
Especialistas observam ainda que, se comparada às concorrentes, a fabricante do iPhone tem uma operação mais enxuta em outros aspectos, limitando, por exemplo, privilégios dos altos executivos. Ela nem sequer oferece almoço grátis para seus funcionários no campus corporativo, ao contrário do que fazem o Google e a Meta.
Foco no iPhone
Num cenário global turbulento, a Apple também fincou os dois pés no chão e manteve o foco no negócio de hardwares mais caros, caso dos iPhones, ramo que conseguiu se esquivar razoavelmente bem da crise econômica vigente nos países desenvolvidos.
No trimestre encerrado setembro, a Apple informou que as vendas de iPhones, seu filão mais importante de mercado, haviam avançado 9,7% em relação ao ano anterior, superando estimativas de analistas. As outras gigantes da tecnologia, em contrapartida, foram atingidas pelo encolhimento brusco dos negócios de publicidade digital, comércio eletrônico, serviços em nuvem e PCs.
Algumas empresas de tecnologia também gastaram os tubos em projetos que não serão convertidos em dinheiro tão cedo. Esse é o caso da Meta, que tem investido bilhões de dólares em seus Reality Labs para desenvolver o metaverso, na crença de que a realidade virtual vai se tornar uma plataforma tecnológica decisiva num futuro próximo.
Provável queda
Tudo isso, porém, não quer dizer que a Apple passará ilesa pelo processo de cortes. Na avaliação de especialistas, nenhuma empresa conseguirá atravessar sem tropeços um ambiente econômico tão volátil quanto o atual. Aliás, espera-se que, em fevereiro, a fabricante do iPhone divulgue sua primeira queda trimestral de vendas em mais de três anos. Isso, entre outros motivos, por causa de problemas na produção de alguns modelos de smartphones na China, onde esses celulares são produzidos e a política de “Covid-zero” prejudicou a atividade fabril.
A Apple também não tem um histórico de grandes demissões. A última delas ocorreu em 1997, quando Steve Jobs, o cofundador da companhia, voltou à companhia após mais de uma década de ausência e cortou 4,1 mil empregos. A partir daí, contudo, a marca da maça iniciou uma reviravolta que a transformou na maior empresa em valor de mercado do mundo, avaliada hoje em cerca de US$ 2,3 trilhões.