Com “X”, Musk pretende transformar Twitter em aplicativo que faz tudo
Inspirado no WeChat, da China, Elon Musk quer um “super app” capaz de gerenciar a vida digital das pessoas e de tirar o Twitter do buraco
atualizado
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Depois de passar o fim de semana dando pistas sobre a nova identidade visual do Twitter, o bilionário Elon Musk, dono da plataforma, cumpriu a promessa e aposentou o icônico pássaro azul, símbolo da rede social avaliada hoje em cerca de US$ 20 bilhões. Nasceu, assim, o “X”.
Apesar de muitos usuários terem sido pegos de surpresa ao acessar o Twitter e se deparar com a letra “X” estilizada, nas cores preta e branca, a ideia de repaginar a rede era uma obsessão de Musk desde que o empresário comprou a plataforma, em outubro do ano passado, por US$ 44 bilhões (mais do que o dobro do atual valor de mercado).
No dia 4 de outubro de 2022, pouco antes de bater o martelo e concretizar a bilionária aquisição, Musk publicou a seguinte mensagem em seu perfil na rede social: “Comprar o Twitter é um acelerador para criar o X, o aplicativo de tudo”. Quase 10 meses depois, a ideia do bilionário começou a se tornar realidade.
Inspiração veio da China
O “aplicativo de tudo” idealizado pelo dono do Twitter tem como modelo o chinês WeChat, serviço multiplataforma de mensagens instantâneas lançado em 2011 pelo gigante de tecnologia Tencent, empresa detentora do maior portal de serviços de internet do país asiático.
Inicialmente, o WeChat foi concebido como mero aplicativo de mensagens, para fazer frente a WhatsApp e Facebook Messenger. O sucesso foi tão avassalador entre os chineses que a plataforma cresceu rapidamente e de forma exponencial, até se tornar uma ferramenta por meio da qual é possível fazer praticamente qualquer coisa no mundo digital: conversar com amigos, comprar produtos, enviar dinheiro para outras pessoas, pedir comida ou usar o transporte público. Tudo em um único app.
Até 2022, segundo dados do DataReportal, o WeChat contava com mais de 1,2 bilhão de contas ativas em todo o mundo, sendo superado apenas por Facebook, YouTube, WhatsApp e Instagram. O Twitter tem 300 milhões de usuários. A ideia de Musk, ao criar o “X”, é transformar o Twitter em um “super app” que funcione como um sistema operacional capaz de gerenciar a vida digital das pessoas.
“Super aplicativos são aplicativos que oferecem uma infinidade de serviços, como pagamentos, recursos de investimento, seguros, pontuação de crédito e serviços de empréstimos. O que muda com o ‘X’ é que ele seria o primeiro já com uma base global de usuários”, explica Helbert Costa, sócio e diretor de tecnologia de marketing na Monte Bravo Investimentos.
“A mudança para o ‘X’ pode ser vista como uma medida estratégica de negócios destinada a mostrar para o mercado a velocidade com que o Twitter se transformará no ‘aplicativo de tudo’ para permanecer relevante no cenário digital”, afirma Costa.
“Do ponto de vista comercial, esse processo busca promover inovação, melhorar a competitividade e impulsionar o crescimento. Porém, o sucesso desse ‘rebranding’ dependerá, em última análise, de como a empresa vai gerenciar a mudança e capitalizar as oportunidades que ela oferece.”
Uma nova chance para o Twitter?
Há duas semanas, em 12 de julho, Elon Musk anunciou a criação da x.AI, uma frente de desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial (IA), que possivelmente estará associada, de alguma forma, ao “X”. Para além de um reposicionamento de sua principal marca, o bilionário também está mirando em novos modelos de negócio, que o permitam entrar na corrida pela IA – brigando com OpenAI, Microsoft, Facebook e Google –, além de ampliar o alcance (e o faturamento) do Twitter.
“A mudança frequentemente buscada por Musk é a receita clássica para estimular a inovação, desenvolver habilidades e levar a melhores oportunidades de negócios. Ou seja, essas mudanças podem potencialmente abrir novas possibilidades de crescimento e expansão para a empresa”, afirma Costa.
A inquietação do bilionário com o Twitter se justifica pelo momento delicado por que passa a plataforma. Desde que Musk comprou a empresa, a companhia vem enfrentando forte turbulência, com milhares de demissões, acusações de perseguição a jornalistas críticos do empresário e fuga de anunciantes.
Entre setembro e outubro do ano passado, os 10 maiores anunciantes do Twitter gastaram US$ 71 milhões em publicidade. Já nos dois primeiros meses de 2023, a queda nos anúncios foi de 89%, para US$ 7,6 milhões, segundo dados da empresa de pesquisa de mercado Sensor Tower.
A receita do Twitter com publicidade nos Estados Unidos desabou 59% em abril deste ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior, para US$ 88 milhões. No dia 15 de julho, ao responder a um comentário de uma usuária da rede social, Musk admitiu que o fluxo de caixa da big tech estava no vermelho.
No domingo (23/7), depois de Musk anunciar a mudança da identidade visual do Twitter, a CEO da plataforma, Linda Yaccarino, afirmou que o “X” representava uma “segunda chance” para a rede social.
“É uma coisa excepcionalmente rara – na vida ou nos negócios – que você tenha uma segunda chance de causar outra grande impressão. O Twitter causou uma grande impressão e mudou a forma como nos comunicamos. Agora, ‘X’ vai além, transformando a praça da cidade global”, escreveu.
“Essa mudança não é apenas estética, mas também simbólica, marcando uma nova era sob a liderança de Musk em um momento tão desafiador para a empresa. Sabemos que ter um novo nome traz para o público um sentimento de novidade em relação à plataforma, ainda mais com o Elon Musk disponibilizando novas funcionalidades. É uma tentativa”, diz Helbert Costa.
“No entanto, uma mudança significativa também traz seus próprios desafios. Medir o impacto dessa mudança requer um conjunto claro e relevante de indicadores e métricas. Estabelecer uma base e uma meta para cada indicador, rastrear e comparar as mudanças ao longo do tempo, será crucial para avaliar o impacto comercial desse ‘rebranding’.”