Com inflação recorde, Banco Central da Argentina mantém juros em 118%
A decisão da autoridade monetária argentina foi anunciada um dia depois da divulgação dos dados de inflação, que ficou em 124% em agosto
atualizado
Compartilhar notícia
O Banco Central Argentina (BCRA) decidiu manter inalterada a taxa básica de juros da economia, atualmente em 118% ao ano. O anúncio foi feito na quinta-feira (14/9).
A decisão da autoridade monetária argentina foi anunciada um dia depois da divulgação dos dados de inflação no país em agosto. No mês passado, o Índice de Preços ao Consumidor ficou em 12,4%, na comparação com o mês anterior, o patamar mais alto em 32 anos, desde fevereiro de 1991.
Na base de comparação anual, a inflação na Argentina disparou a 124,4%.
Apesar de o país estar convivendo há anos com uma inflação altíssima, essa foi a primeira vez em mais de duas décadas que a taxa mensal ficou em dois dígitos. Segundo economistas, o fenômeno deve se repetir em setembro.
A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação. Mesmo com a alta dos preços, o BC da Argentina manteve a taxa básica no mesmo patamar.
No comunicado que acompanha a decisão, o BC argentino afirma que a inflação de agosto foi impulsionada “pela transferência para os preços da maior volatilidade financeira registrada na segunda quinzena do mês e pela recalibração do nível da taxa de câmbio oficial”.
“Contudo, os indicadores de alta frequência refletem um abrandamento do ritmo de aumento do nível geral de preços desde o pico da terceira semana de agosto, que se teria aprofundado até setembro”, diz a autoridade monetária.
Pacote do governo
No fim de agosto, o governo da Argentina anunciou um pacote de medidas para incentivar o consumo, diminuir os efeitos da desvalorização do peso e combater a inflação.
“O objetivo principal é que cada um dos setores da economia tenham, de alguma forma, o apoio do Estado”, afirmou o ministro da Economia, Sergio Massa, candidato do governo à Presidência da Argentina.
Entre as medidas anunciadas pelo governo, estão abonos fiscais, pagamento de bônus extraordinários a trabalhadores e aposentados e a criação de um fundo de US$ 770 milhões para o financiamento de exportações.
O governo peronista de Alberto Fernández também decidiu eliminar alguns impostos sobre a exportação de produtos agrícolas com valor industrial agregado – como arroz, vinho e tabaco.
Na ocasião, Sergio Massa anunciou, ainda, novas linhas de crédito com taxas subsidiadas para trabalhadores e bônus para aqueles que recebem ajuda alimentar, além de aposentados.
Novo aporte do FMI
No mês passado, a diretoria executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou uma nova revisão do acordo com a Argentina, garantindo a liberação imediata de US$ 7,5 bilhões (o equivalente a R$ 36,7 bilhões).
O país da América do Sul, que enfrenta uma grave crise econômica, havia firmado com o FMI um programa de crédito que prevê o repasse de US$ 44 bilhões em 30 meses. Em troca, o Banco Central argentino aumentaria suas reservas internacionais e o governo se comprometeria a diminuir o déficit fiscal.
De acordo com o FMI, o total de desembolsos referentes a esse acordo inicial com a Argentina já chega a US$ 36 bilhões. Desde a retomada da democracia na no país, em 1983, já houve 13 acordos com o fundo.
Crise e eleição
Com uma inflação estrondosa, a Argentina enfrenta escassez de reservas monetárias internacionais, ao mesmo tempo em que há uma forte demanda por dólares.
O país, que está em pleno processo eleitoral para a sucessão do presidente Alberto Fernández, terá o primeiro turno das eleições no dia 22 de outubro. Caso nenhum dos candidatos alcance 45% dos votos válidos, haverá um segundo turno, marcado para 19 de novembro.