PIB no 1º tri deve crescer mais que esperado com agro e inflação menor
Crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre será divulgado pelo IBGE nesta semana
atualizado
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A economia brasileira começou 2023 em ritmo melhor do que o esperado anteriormente. As últimas semanas foram marcadas por revisões para cima do Produto Interno Bruto (PIB), cujos dados oficiais do primeiro trimestre serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira (1º/6).
Nos principais bancos e casas do mercado financeiro, a projeção para o PIB do primeiro trimestre chega a 1% ou mais (na comparação com o trimestre anterior, no chamado dado “dessazonalizado”).
Se confirmado, o número representará retomada do crescimento após queda de 0,2% no quarto trimestre, entre outubro e dezembro.
Segundo economistas, a alta vem sobretudo de um bom momento da agropecuária, além de consumo sustentado por inflação em queda e desemprego menor. Pela via dos gastos do governo, a alta do salário mínimo e programas de transferência de renda também terão algum impacto.
“Esperamos uma performance forte do PIB no primeiro trimestre de 2023”, escreveu o analista Gabriel Couto, do Santander, uma das casas que melhorou a projeção, de 1% para 1,2%.
O Bradesco aumentou de 1,3% para 1,5% a projeção para crescimento no primeiro trimestre, aposta igual à do Banco Inter. A Austin Rating foi de 1,4% para 1,6%, chegando à mesma projeção do Monitor do PIB do Ibre/FGV, uma das mais otimistas até o momento.
Dentre as projeções mais próximas da mediana, o Itaú foi de 1,1% para 1,4%. O Goldman Sachs foi de 0,8% para 1,25%. A MB Associados subiu de 0,5% para 1,2%.
Na Órama, que tem uma das projeções mais baixas, a expectativa é de alta menor, de 0,4%, embora também elevada neste mês (projeções anteriores chegaram a ser de -0,2%). “Apesar de leituras setoriais fortes, principalmente de serviços e comércio, o IBC-Br [índice de atividade econômica] veio levemente abaixo das expectativas em março. No trimestre, no entanto, o desempenho ainda é acima do esperado anteriormente”, anotou em relatório a analista de macroeconomia da casa, Eduarda Schmidt.
Do agro ao consumo
O agro é o principal motor da economia neste começo de ano devido a uma safra recorde de grãos. Como o Metrópoles mostrou, a queda no preço das commodities tem feito os produtores terem de vender grãos e gado a preço menor, mas, para efeitos do PIB, o alto volume é o que importa neste momento.
A alta projetada no PIB do agro é de 7,5% pelo Santander e supera mais de 10% em algumas casas.
Além do agro, o consumo das famílias deve cravar sua sétima alta seguida no primeiro trimestre. Com isso, há efeitos positivos sobre o setor de serviços, que responde por dois terços do PIB.
Julia Braga, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca também os efeitos da inflação menor. O preço dos combustíveis, por exemplo, ficou cerca de 20% abaixo dos primeiros meses de 2022 – com isenções de impostos ainda vigorando e passados os piores efeitos da guerra na Ucrânia.
Soma-se a isso o fato de o desemprego ter fechado abaixo de 9% no primeiro trimestre (enquanto era de 11% no mesmo período de 2022).
“Isso tem efeito relevante sobre o consumo. Como a população de baixa renda, agora com menos dempregados, tem pouco espaço para poupar, essa inflação menor e o aumento da renda viram quase automaticamente consumo”, pontua Braga, que é coordenadora de conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.
Projeções para 2023
As projeções mais otimistas para o primeiro trimestre melhoram também os números gerais de 2023.
Ainda assim, deve haver alguma desaceleração à medida que os efeitos do agro diminuem. “Deve-se considerar que a maior parte da colheita de soja é realizada no primeiro trimestre, o que pode indicar maiores desafios ao longo do ano para a manutenção desse forte crescimento da economia”, assinalou em relatório Juliana Trece, do Monitor do PIB do Ibre/FGV.
No consenso do mercado, a expectativa é de crescimento em torno de 1,3% em 2023, conforme a mediana das projeções no último boletim Focus (pesquisa feita pelo Banco Central com economistas). Em janeiro, a projeção era de 0,78%.
O governo também elevou neste mês sua estimativa oficial, de 1,6% para 1,9% em 2023, acima da previsão do mercado por ora.