ChatGPT: “Podemos estar diante de uma nova revolução”, diz investidor
Empresa brasileira que gere grandes fortunas decide apostar no ChatGPT e vê inteligência artificial como negócio: “O futuro chegou”
atualizado
Compartilhar notícia
Você, provavelmente, já sabe que o ChatGPT, desenvolvido pela startup americana OpenAI, com apoio da Microsoft, é um chatbot (ou robô de bate-papo) que usa a inteligência artificial para produzir textos e “conversar” com os usuários, trazendo informações sobre diversos assuntos.
Talvez você até já tenha feito amizade com o robô inteligente. O que você, possivelmente, ainda não sabe é que esse modelo pode significar o início de uma “nova revolução” digital no mundo, capaz de mudar a forma como nos relacionamos com a tecnologia, como nos comunicamos e até como trabalhamos – além de ser uma excelente oportunidade de negócio.
Essa é a avaliação de Felipe Nobre, CEO da Jera Capital, e de Guilherme Ghidetti, diretor de investimentos da empresa, que conversaram com a reportagem do Metrópoles.
Fundada em 2014 por Nobre e um grupo de profissionais que incluía o ex-ministro do Planejamento, de Minas e Energia e da Casa Civil Pedro Parente, que deixou a empresa em 2016, quando assumiu a presidência da Petrobras, a Jera Capital hoje é um multi family office – serviço privado de consultoria e gerenciamento de patrimônio para grupos de clientes com grandes fortunas.
Atualmente, o family office comandado por Felipe Nobre atende cerca de 40 famílias com patrimônios acima R$ 20 milhões e oferece serviços como planejamento financeiro de longo prazo, governança e consultoria em assuntos tributários. Os clientes são CEOs, executivos, empresários, empreendedores, fundadores de empresas, além de herdeiros de grandes fortunas.
Especializada em investimentos alternativos no Brasil e no exterior, a empresa decidiu apostar na inteligência artificial e investiu no ChatGPT, embora não diretamente. Até aqui, o resultado inicial tem animado a dupla.
“Esse nosso investimento no ChatGPT não foi feito diretamente, como acontece em alguns casos. Estamos investidos nos principais gestores de venture capital (modalidade de investimento focada em empresas de médio porte que têm alto potencial de crescimento, mas faturamento baixo) e alguns desses fundos investiram na OpenAI. Temos uma exposição indireta à OpenAI, mas é uma exposição relevante na carteira dos nossos clientes”, explica Nobre.
“Nós já estamos muito felizes. Já é um dos maiores sucessos de investimento nesse universo de venture capital”, complementa Guilherme Ghidetti. “Hoje, podemos dizer que a OpenAI é um home-run (termo utilizado para identificar grandes aportes de capital) da nossa carteira.”
Segundo Felipe Nobre, a Jera Capital consegue aproveitar essas oportunidades graças a “boas conexões no mercado” e ao fato de ser reconhecida como “um investidor sofisticado nesse tipo de ativo”.
“A forma que a gente acredita ser a melhor para investir em venture capital e em investimentos alternativos é fazer de uma maneira diversificada”, diz o CEO da Jera. “Da maneira que construímos as carteiras dos nossos clientes, eles acabam investindo em diversos fundos e diversas empresas. No caso da OpenAI, investimos em fundos e esses fundos vão atrás das oportunidades.”
Inteligência artificial como negócio
O sucesso do ChatGPT pode ser medido pela magnitude dos números alcançados pela plataforma em pouquíssimo tempo. Segundo uma pesquisa do banco de investimento UBS, o robô de bate-papo da OpenAI registrou 100 milhões de usuários ativos em janeiro, apenas dois meses após o lançamento, e se tornou o serviço digital com o crescimento mais rápido da história.
Para que se tenha uma ideia do que isso representa, o TikTok levou nove meses para alcançar a marca de 100 milhões de usuários mensais. O Instagram, dois anos e meio. De acordo com o UBS, 13 milhões de visitantes únicos acessaram o ChatGPT no mês passado, o dobro do número registrado em dezembro de 2022.
Concorrente do Google
No dia 6 de fevereiro, o Google anunciou o lançamento do Bard, que pretende ser um concorrente do ChatGPT. A ideia é que o novo chatbot integre a ferramenta de busca do Google, de modo que facilite a compreensão de temas complexos.
Segundo o gigante de tecnologia, o Bard seria capaz de explicar as novas descobertas do telescópio espacial James Webb, da Nasa, para uma criança de 9 anos. Para infortúnio da empresa, no entanto, o robô inteligente estreou com o pé esquerdo, divulgando informações erradas – o que derrubou as ações do Google no mercado americano.
“Muita gente que entende bastante do que está acontecendo agora enxerga a revolução da internet como uma consequência do que ocorreu no fim dos anos 1970 e começo dos anos 1980. Normalmente, as revoluções tecnológicas têm um ciclo de 40, 50 anos”, observa Nobre. “O que está se discutindo hoje é se a inteligência artificial é uma nova fronteira que vai muito além da internet, capaz de ser uma revolução na forma como os seres humanos se relacionam ou trabalham, por exemplo. Nós podemos estar diante de uma nova revolução. E é só o começo.”
Para Ghidetti, “o céu é o limite” para a inteligência artificial e o mercado tem um horizonte de crescimento quase imensurável. “É difícil prever o futuro, dado o potencial que a tecnologia da inteligência artificial possui. Temos um pouco a sensação de que o futuro chegou. Estamos entrando um mundo novo, sem fronteiras. Será uma ferramenta poderosa”, aposta.
“Isso vai chamar atenção de todos, não só de investidores, mas de empreendedores, empresários e políticos”, completa Felipe Nobre. “Quem já teve uma pequena experiência com a ferramenta fica imaginando o que pode acontecer. Ninguém sabe ao certo e nem é o caso de tentar adivinhar, mas o fato é que é algo sobre o qual todo mundo provavelmente vai falar por muito tempo e que deve influenciar as discussões comerciais, sociais e socioeconômicas nos próximos anos.”