ChatGPT, Lais… Como a tecnologia revolucionará o mercado imobiliário
Startup cria sistema mais avançado que ChatGPT; para especialistas, relação interpessoal segue sendo a base do mercado, mas atividade mudará
atualizado
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Imagine que você está à procura de um imóvel, mas ficou em dúvida se vale a pena alugar ou comprar um apartamento em determinada região da sua cidade. Em vez de buscar informações sobre o custo-benefício com diversos corretores ou imobiliárias, ou mesmo fazendo pesquisa na internet que demanda tempo e dedicação, a solução pode estar na inteligência artificial (IA), a apenas um clique ou em uma simples troca de mensagens pelo WhatsApp.
Inspirada no ChatGPT, chatbot (robô de bate-papo) desenvolvido pela americana OpenAI, que se tornou uma febre no Brasil e no mundo, a startup brasileira Lastro, especializada em gestão de portfólios imobiliários, lançou recentemente a Lais (Lastro Artificial Intelligence System), uma espécie de “ChatGPT do mercado imobiliário”.
O modelo utiliza versão mais avançada de IA, a GPT-4, que tem 80% de confiabilidade (a do ChatGPT é a GPT-3.5). A Lais é capaz de responder dúvidas e fornecer informações a proprietários, inquilinos e profissionais do setor sobre diversos assuntos, desde regras e práticas do mercado a dicas para locação ou compra de imóveis, contratação de financiamento imobiliários e até mesmo relacionamento entre condôminos.
Além de um site oficial no qual é possível acessar a Lais, o produto está disponível diretamente via WhatsApp, o que não ocorre com o ChatGPT.
“O mercado imobiliário no Brasil é muito consolidado, de proporções gigantescas, mas ainda estamos vivendo um tipo de relacionamento imobiliário muito antigo. Nosso principal objetivo foi empoderar as pessoas, sejam proprietários, inquilinos, administradores ou imobiliárias”, afirma Pedro Milanez, CTO da Lastro.
A Lais foi, literalmente, “ensinada” sobre os principais tópicos relacionados ao mercado imobiliário e, com isso, se tornou apta a tirar dúvidas com mais acurácia e maior detalhamento do que o ChatGPT, que é mais genérico.
“O GPT genérico tem uma camada só. Você faz uma pergunta e ele dá uma resposta. O que nós fizemos foi plugar outras fontes de informações mais específicas, seja de base de dados de imóveis, de reajustes, de leis ou de boas práticas do mercado, de modo que ele possa responder acessando essa base”, explica Allan Paladino, CEO da Lastro.
“A gente, literalmente, ensinou para a Lais a Lei do Inquilinato, toda a jurisprudência, a questão dos fundos imobiliários, preços de compra e venda por metro quadrado em mais de 300 cidades do Brasil, como reajustar o aluguel… O ChatGPT não vai dizer para você quanto deve ser o reajuste. Ele não sabe. A gente treinou a Lais para isso”, reforça Milanez.
Primeiro passo
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que o mercado imobiliário já vem utilizando o ChatGPT e outros modelos de IA, ainda que de forma tímida até o momento. A perspectiva é a de que, com o avanço da tecnologia, a prática ganhe escala e faça parte da rotina de trabalho de incorporadoras, imobiliárias e corretores de imóveis.
“Ainda é algo incipiente. Poucas empresas estão utilizando essas ferramentas. Mas tenho certeza de que isso será crescente. Nos próximos anos, muita coisa que se faz hoje analogicamente ou mesmo de forma digital vai migrar para ferramentas de inteligência artificial”, aposta Luiz Barcellos, diretor de assuntos internacionais do Sistema Cofeci Creci.
De acordo com um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a IA pode trazer uma série de benefícios para o desenvolvimento dos negócios imobiliários, entre os quais a melhoria da gestão de equipes e a otimização do tempo de atendimento ao cliente. A tecnologia auxilia os corretores com descrições mais precisas dos imóveis e anúncios mais persuasivos e eficazes. As imobiliárias também utilizam a IA para o envio de mensagens personalizadas aos potenciais locatários e compradores.
“O ChatGPT pode funcionar como um assistente virtual e também responder perguntas dos clientes, fornecer informações importantes sobre os imóveis e agilizar os processos tanto de busca por um imóvel quanto de compra e venda”, prossegue Barcellos. “A inteligência artificial tem a possibilidade de analisar um volume muito grande de dados, como histórico de preços, características dos imóveis e tendências de mercado, avaliação de crédito, entre outros.”
Para Alberto Mattos de Souza, sócio do PMMF Advogados e especialista em negociações estratégicas imobiliárias, a IA será fundamental para dar agilidade e aumentar a produtividade dos profissionais do setor.
“Já temos uma quantidade importante de vendas que têm origem nas ferramentas on-line das incorporadoras. Muitas vezes, a negociação e o atendimento são feitos on-line”, afirma. “Acredito que haverá um impacto para a mão de obra desse atendimento. O que antes precisaria de cinco pessoas talvez agora seja suprido por um bom programador de ChatGPT, que terá condição de agrupar essas atividades.”
Segundo Pedro Milanez, as soluções de IA no mercado imobiliário ainda estão engatinhando. “O que vemos hoje no mundo dos negócios no Brasil é que praticamente não existe inteligência artificial dessa nova geração sendo aplicada”, observa. “O mercado imobiliário costuma ser um pouco atrasado nessas tendências. Ele é seguidor, não é líder nessas transformações. Com a Lais, tentamos mostrar que também pode ser transformador”, projeta o CTO da Lastro.
Mudar, não substituir
Apesar do rápido avanço das tecnologias de IA e de seu impacto sobre os negócios, os especialistas consultados pelo Metrópoles acreditam que o mercado imobiliário não perderá uma de suas principais características: o contato pessoal direto e a relação de confiança estabelecidos entre o corretor de imóveis e o cliente.
“Negociações imobiliárias são processos complexos para os quais as decisões são tomadas considerando, além das informações e dados, detalhes intrínsecos, como o relacionamento interpessoal, a experiência do potencial comprador e a segurança e transparência com que as negociações são realizadas. Toda essa sensibilidade não pode ser substituída pela inteligência artificial”, afirma Pedro Henrique Moutinho, gerente associado da Peers Consulting.
Mattos de Souza compartilha da mesma avaliação: “O ChatGPT é uma ótima ferramenta, mas continua sendo uma ferramenta. Para dinamizar o atendimento ao cliente e a elaboração de anúncios, é fantástico. Mas boa parte do trabalho do corretor é relacionamento. E relacionamento é gente que faz. Ainda é um trabalho de gente para gente”, analisa.
Para Luiz Barcellos, “por mais que a tecnologia venha a crescer e ser aplicada, sua serventia sempre será ajudar o corretor a prestar um serviço de qualidade”. “A compra de um imóvel muitas vezes é a compra de uma vida, é um sonho. O contato pessoal é muito importante para dar confiança”, diz. “O profissional não será substituído, mas aquele que não se atualizar e não usar a tecnologia ficará fora do mercado”.
Um dos criadores da Lais, Pedro Milanez lembra que “o mercado imobiliário é composto por relacionamento, não por bits e bytes”. “Esse relacionamento pessoal não vai sumir. Mas o trabalho vai mudar. Um corretor que atendia cinco pessoas em uma semana conseguirá atender 20 com a inteligência artificial ao lado dele.”