Campos Neto sobre parcelado no cartão: cada um tem de “ceder um pouco”
Em reunião com executivos, presidente do BC, Roberto Campos Neto, sugeriu que parcelado sem juros no cartão fosse limitado a 12 prestações
atualizado
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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu nesta segunda-feira (23/10) uma solução negociada para o impasse entre bancos, setores do varejo e empresas de pagamento sobre o possível limite ao parcelamento sem juros no cartão de crédito.
Na semana passada, o BC sugeriu que o parcelado sem juros no cartão fosse limitado a 12 prestações.
A ideia foi debatida durante uma reunião entre Campos Neto e executivos no dia 16 de outubro, na qual o tema foi um novo modelo para o rotativo do cartão de crédito. O limite ao parcelamento sem juros no cartão teria impacto sobre essa modalidade.
“A gente acredita que, para ter uma solução estrutural, precisamos que várias peças estejam dispostas a ceder um pouco. De um lado, você tem os bancos, que entendem que o parcelado sem juros é um problema que adiciona muito risco e por isso o juro do rotativo é alto. Também temos diversas áreas do varejo que fazem as vendas com o parcelado”, afirmou Campos Neto, que participou de um evento promovido pela Bolsa de Valores do Brasil (B3) e o jornal O Estado de S. Paulo, na capital paulista.
“O volume de crédito cresceu. O volume crescia, a taxa de juros do rotativo crescia, a inadimplência crescia… Não fazer nada e simplesmente achar que o mercado acharia uma solução não é uma opção. Era importante se antecipar e colocar todo mundo na mesa”, prosseguiu o presidente do BC.
Segundo Campos Neto, o objetivo é tentar encontrar uma solução que contemple todos os segmentos envolvidos nesse debate.
“Estamos tentando achar uma solução para que as pessoas possam continuar comprando com o parcelado sem juros e não tenhamos uma bola de neve no efeito do rotativo”, afirmou.
Rotativo do cartão
O rotativo do cartão de crédito é uma linha de crédito pré-aprovada no cartão. Ela é acionada por quem não pode pagar o valor total da fatura na data de vencimento. Em caso de inadimplência do cliente, o banco deve parcelar o saldo devedor ou oferecer outra forma de quitação da dívida, em condições mais vantajosas, em um prazo de 30 dias.
Segundo especialistas, o rotativo do cartão é a linha de crédito mais cara do mercado e deve ser evitada. De acordo com os dados mais recentes do BC, referentes a junho de 2023, o rotativo do cartão de crédito é a linha com o maior nível de inadimplência (49,1%).
A taxa média de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo ficou em 445,7% ao ano em agosto, de acordo com dados do BC.
Guerra entre bancos e varejo
Reportagem publicada em setembro pelo Metrópoles mostrou a queda de braço entre bancos e setores do comércio em torno do rotativo do cartão.
Enquanto os bancos condicionam alterações no rotativo a uma reformulação no modelo de parcelas oferecidas pelo varejo, empresas de maquininhas de cartão e setores do comércio alegam que limites ao parcelado derrubariam as vendas, o que afetaria, principalmente, pequenos e médios comerciantes.
Segundo os bancos, o uso do parcelado é incentivado pelas empresas de maquininhas, que oferecem pagamento antecipado aos varejistas em troca de taxas de desconto. Assim, as instituições financeiras têm de subir os juros no rotativo para compensar a falta de cobrança de taxa em longos parcelamentos. De acordo com o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), oito de cada 10 compras parceladas sem juros no Brasil são feitas em até seis vezes.
Um levantamento realizado pelo Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV (FGVcemif) dá a dimensão da importância do cartão de crédito para a economia do país. O volume de transações com cartão no Brasil, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), saltou de 2,6%, em 2012, para 5%, em 2022, índice superior ao registrado nos Estados Unidos (2,7%). Seis de cada 10 brasileiros utilizam cartão de crédito, acima da média de países ricos (51%).