Campos Neto: mundo se preocupa com fiscal e endividamento nos EUA
Em seminário em Cuiabá, presidente do BC, Roberto Campos Neto, reiterou preocupação do mercado com situação econômica dos Estados Unidos
atualizado
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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, voltou a alertar, nesta quinta-feira (19/10), sobre a situação econômica dos Estados Unidos, com preocupações relacionadas especialmente à questão fiscal e aos níveis de endividamento do país.
Ao participar de um evento promovido pela Federação Nacional Distribuição Veículos Automotores do Mato Grosso (Fenabrave-MT) e pelo Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado de Mato Grosso (Sincodiv-MT), em Cuiabá, Campos Neto disse que grande parte do mercado já espera um novo aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA).
“Hoje, a pior performance em termos de risco-país, tirando Israel, que foi alvo de um ataque terrorista, são os EUA. Eles tiveram a maior piora na percepção de risco. Tem um tema do fiscal e do endividamento dos EUA, que é um tema importante para o mundo todo porque os EUA são o grande motor do mercado de capitais”, afirmou o presidente do BC.
Para Campos Neto, o grande ponto de atenção na economia global, neste momento, são os EUA. “Agora, quase não se espera mais queda de juros. Grande parte do mercado está esperando uma alta de 0,25 ponto percentual, o que faz com que a taxa de juros americana seja muito alta. A grande pergunta é quando e como essa taxa de juros lá fora vai começar a cair”, disse.
“A taxa de juros real dos EUA de longo prazo, acima da inflação esperada, é bem alta. Isso serve como um dreno de liquidez do mundo”, prosseguiu Campos Neto. “Uma interpretação possível é que eles estão se endividando muito. Agora, temos uma projeção de que a dívida americana vai a 120% do Produto Interno Bruto (PIB).”
Com a economia resiliente e o mercado de trabalho aquecido, especialistas temem um novo aperto monetário do Fed, que deve voltar a subir os juros. A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação e desaquecer a economia.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária do Fed, a taxa de juros foi mantida no patamar de 5,25% a 5,5% ao ano – a maior em 22 anos. Nas últimas 13 reuniões do Fomc, houve elevação dos juros em 11 e manutenção da taxa em duas.
Nesta quinta, como noticiado pelo Metrópoles, a Fitch Ratings, uma das três principais agências de classificação de risco do mundo, informou que subiu a probabilidade de uma recessão nos EUA em 2024.
China
Em sua apresentação, Roberto Campos Neto também falou sobre a situação da economia da China, que enfrenta forte desaceleração nos últimos meses.
“A China tem um crescimento que vem desacelerando. Nenhum dos principais setores econômicos da China voltou para os níveis de antes da pandemia. O setor imobiliário, especificamente, teve uma queda grande e está muito abaixo do nível de tendência”, afirmou o presidente do BC.
Depois de uma série de medidas de incentivo à economia nos últimos meses, o PIB da China fechou o terceiro trimestre de 2023 registrando uma expansão de 4,9%, na comparação com o mesmo período do ano passado.
O desempenho da segunda maior economia do mundo no período entre julho e setembro deste ano veio acima das expectativas do mercado, que variavam de 4,4% a 4,5%. Em relação ao segundo trimestre, o PIB da China teve alta de 1,3%. Já no acumulado dos nove primeiros meses de 2023, a China avançou 5,2%, também em relação ao mesmo período do ano passado.
Com os resultados, o gigante asiático ficou mais perto de cumprir a meta de crescimento econômico definida por Pequim, de 5% neste ano. Para isso, o PIB chinês terá de crescer 4,4% no último trimestre.