Campos Neto: mercado tem “errado bastante” suas projeções para o PIB
Para o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reformas aprovadas nos últimos anos podem estar sendo determinantes para desempenho do PIB
atualizado
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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira (2/10) que o mercado financeiro tem “errado bastante” as suas estimativas sobre o desempenho da economia brasileira.
O chefe da autoridade monetária participou de um evento promovido pela Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), em São Paulo.
“Em termos de atividade econômica, o Brasil vem fazendo o que chamamos de pouso suave. Vemos que os analistas erraram muito com o crescimento econômico”, disse Campos Neto.
Um pouso suave, na economia, é uma desaceleração cíclica no crescimento capaz de evitar uma recessão. A expressão se tornou popular em Wall Street durante o mandato de Alan Greenspan à frente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), nos anos 1990.
“A gente começou este ano com expectativas entre 0,5% e 0,7% e estamos indo para 3%. O mercado tem errado bastante as projeções de crescimento, sempre para baixo”, observou o presidente do BC.
Para Campos Neto, as reformas aprovadas nos últimos anos no país, em especial a trabalhista, a da Previdência e a tributária, podem estar sendo determinantes para esses resultados.
“Talvez fosse o caso de estudar se essas reformas feitas nos últimos anos podem estar sendo responsáveis por um crescimento estrutural mais alto”, disse Campos Neto.
De acordo com o Relatório Focus, divulgado nesta segunda pelo BC, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2023 deve ter crescimento de 2,92%, mesma estimativa da semana passada.
Para 2024, a previsão de crescimento da economia ficou estável em 1,5%. Em 2025, a estimativa se manteve em 1,9%.
Inflação
Durante sua palestra no evento da Abracam, Roberto Campos Neto afirmou que a inflação tem se comportado de forma “benigna” no Brasil.
“O Brasil tem 2023, 2024 e 2025 mais ou menos dentro da banda da meta (de inflação). Vemos que, de forma geral, os países estão na meta ou entrando na meta nos próximos anos”, afirmou.
Campos Neto voltou a elogiar o governo brasileiro pela decisão de não mexer nas metas de inflação.
“Se você aumenta a meta de inflação, o mercado imediatamente muda a expectativa de inflação para a meta maior. Não só isso, mas também coloca um prêmio maior em relação à meta antiga”, disse. “Foi uma decisão muito correta do governo manter a meta em 3%. A expectativa de inflação até caiu depois disso no Brasil.”
De acordo com Campos Neto, “o Brasil teve sucesso em controlar o surto inflacionário que houve no mundo e está com a inflação abaixo da média neste momento”.
“Temos visto alguma volatilidade (da inflação nas últimas semanas) muito mais por causa de fatores globais do que locais”, afirmou o presidente do BC.
A meta de inflação para este ano é 3,25%. Como há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,75% e 4,75%. Para 2024, 2025 e 2026, a meta é de 3%.
Preocupação com o fiscal
Campos Neto também reiterou a importância de o governo brasileiro continuar buscando cumprir as metas fiscais definidas no projeto do novo Marco Fiscal, aprovado recentemente – como zerar o déficit primário já em 2024.
“Temos apoiado bastante o governo no sentido de persistir na meta fiscal. É muito importante persistir”, disse o presidente do BC.
“Os projetos que estão no Congresso precisam passar porque trazem uma arrecadação adicional”, prosseguiu Campos Neto. “A gente reconhece que é difícil cortar gasto estrutural no Brasil. Talvez reformas adicionais possam fazer esse papel.”