Campos Neto: Brasil “precisa fazer o dever de casa” na questão fiscal
“A questão, quando você afrouxa a meta, é que vai gerar aquele problema de expectativa pior para frente”, afirma Roberto Campos Neto, do BC
atualizado
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No dia da divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, voltou a afirmar que o Brasil tem de fazer “o dever de casa” na questão fiscal.
O chefe da autoridade monetária elogiou os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024, como determina o novo Marco Fiscal aprovado pelo Congresso.
Nas últimas semanas, após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que dificilmente o governo zeraria o déficit no ano que vem, o mercado voltou a acender o alerta de preocupação com a questão fiscal. O temor se refletiu na própria ata do Copom, divulgada mais cedo.
“A questão, quando você afrouxa a meta, é que vai gerar aquele problema de expectativa pior para frente. Se foi feito um grande esforço de arcabouço fiscal e a gente não faz uma grande força para perseguir a meta, as pessoas vão ter mais dificuldade em projetar o fiscal de 2025 e 2026. Isso vai gerar prêmio de risco e o prêmio de risco é um custo”, disse Campos Neto, que participou de um seminário promovido pelo Bradesco, em São Paulo.
“O ambiente de liquidez vai secar. Precisa fazer o dever de casa, precisa ter um fiscal arrumado. O Brasil tem feito. A gente, quando está aqui localmente, tem que ser mais crítico. Mas, quando eu faço uma comparação com os pares, o Brasil tem feito um bom trabalho. Na parte monetária, também fez um bom trabalho, foi um dos primeiros a subir os juros e a inflação tem caído”, completou o presidente do BC.
Em relação ao ritmo de cortes da taxa básica de juros (Selic) nas próximas reuniões do Copom, Campos Neto reiterou o que o comunicado e a ata da última reunião do Copom já indicavam: novas reduções de 0,5 ponto percentual estão no radar.
“O ritmo de corte de 50 pontos-base é um ritmo apropriado e a gente tem a visibilidade de duas reuniões”, disse o presidente do BC, referindo-se aos encontros do Copom previstos para dezembro de 2023 e janeiro de 2024.
“A gente precisa analisar ponto a ponto. Tem um cenário global que se complicou, tem algumas incertezas no cenário local. Usamos a palavra ‘próximos’, que significa que conseguimos enxergar as próximas duas reuniões, em princípio. Sinalizar muito mais do que isso não tem valor esperado, dada a tamanha incerteza que existe, tanto global quanto local”, concluiu.