Buffett diz que manipulação de contabilidade por empresas é “nojenta”
Em carta anual ao mercado, quinto homem mais rico do mundo afirmou que esse tipo de prática se tornou uma das “vergonhas do capitalismo”
atualizado
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A revista britânica The Economist, uma das mais respeitas publicações sobre economia do mundo, disse certa vez que, quando as gerações futuras quiserem estudar os capitalistas da atualidade, as cartas anuais de Warren Buffett aos acionistas de sua empresa, a Berkshire Hathaway, seriam um ótimo ponto de partida.
Neste sábado (25/2), Buffett divulgou mais uma de suas análises anuais sobre o mercado. No texto, o bilionário (ele é o quinto homem mais rico do planeta, dono de uma fortuna estimada em US$ 106 bilhões) fez severas críticas às fraudes e manipulações de dados corporativos. Destacou ainda que sua holding sempre buscou se associar com executivos éticos.
Anotou Buffett: “Somos compreensivos com erros de negócios, mas nossa tolerância com más condutas pessoais é zero”. Em outro momento, ao tratar de questões técnicas sobre cálculos do lucro operacional das empresas, afirmou que esses dados podem ser facilmente manipulados.
E alertou: “Essa adulteração costuma ser considerada sofisticada por CEOs, diretores e seus consultores. Repórteres e analistas também aceitam sua existência. Superar as ‘expectativas’ é anunciado como um triunfo gerencial. Essa atividade é nojenta. Não é necessário talento para manipular números. É necessário apenas um profundo desejo de enganar. ‘Contabilidade ousada e imaginativa’, como um CEO certa vez me descreveu, tornou-se uma das vergonhas do capitalismo”.
Confiança nos EUA
Na carta, Buffett reafirmou ainda sua confiança no “vento de popa” da economia dos Estados Unidos, que passa por percalços consideráveis, sob ameaça de recessão, com inflação crescente e juros básicos idem. Aos 92 anos, ele instou o investidor a olhar para o longo prazo, em vez de focar nesses fatores conjunturais.
Pediu ainda que os americanos não se deixem levar por “autocríticas e dúvidas” infundadas. Afirmou que o dinamismo do país foi crucial para fortalecer a Berkshire em toda a sua atuação à frente da companhia, com sede em Omaha, no Nebraska. E disse que essa mesma força continuará a ser fundamental depois que “entregar as rédeas” da firma para outra pessoa.
No texto, anotou o bilionário: “Ainda não vi um momento em que fizesse sentido fazer uma aposta de longo prazo contra a América. E duvido muito que qualquer leitor desta carta tenha uma experiência diferente no futuro”.
Para Buffett, o pagamento dos tributos é um sinal de prosperidade dos negócios. No texto divulgado neste sábado, apontou: “Na Berkshire, esperamos pagar muito mais impostos durante a próxima década”.
Resultados em 2022
Buffett, como de costume, também divulgou dados sobre o desempenho da Berkshire, que investe em algumas das maiores empresas do mundo, como a Coca-Cola, a Chevron, a Apple e a American Express. Embora o lucro líquido no quarto trimestre de 2022 tenha sido menor do que o registrado em igual período de 2021, o megainvestidor, chamado de o “Oráculo de Omaha”, destacou o resultado operacional recorde de US$ 30,8 bilhões em 2022. A Berkshire também aumentou seu caixa, encerrando o ano passado com US$ 128,6 bilhões.
Buffet e os brasileiros
Buffett, que em nenhum momento da carta citou o fato, foi sócio, na criação da Kraft Heinz, do grupo do 3G, formado pelos bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, acionistas de referência da Americanas. Em janeiro, a varejista brasileira anunciou “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões.
Em manifestação recente, o sócio de Buffett, Charlie Munger, disse que a aproximação com o 3G “não funcionou bem nos últimos anos, como seria o ideal”. Na prática, o negócio não teria entregue os resultados esperados. A Kraft Heinz foi criada em 2015 a partir da união das duas empresas do ramo da alimentação.