Brasil fica em 60º entre 64 países no ranking de competitividade
Estudo de competitividade global mostra que Brasil está em estagnação nos últimos anos. Dinamarca e Irlanda lideram ranking
atualizado
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O Brasil ficou em 60º entre 64 países em nova edição do ranking de competitividade do Instituto Internacional para Desenvolvimento de Gestão (IMD). Em relação ao ano passado, o Brasil perdeu uma posição.
O ranking é elaborado anualmente pelo IMD, com sede na Suíça, e em parceria no Brasil com a Fundação Dom Cabral. A posição dos países é baseada em entrevistas com executivos, no plano global, e análise de dados locais de economia, negócios, educação e outros fatores.
O Brasil vem caindo no ranking desde 2011, quando atingiu seu melhor resultado, 38º lugar (de uma lista de 58 países naquele ano).
No ranking de competitividade deste ano, o Brasil só ficou à frente de África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela.
Desafios da competitividade brasileira
A equipe técnica do estudo explica que a variação na posição do Brasil neste ano se explica principalmente pela entrada do Kuwait no ranking, o que aumentou o número de países pesquisados — e à nossa frente. Na prática, o Brasil vem em cenário de estagnação nos últimos anos, afirma Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral e um dos responsáveis pelo estudo localmente.
“Se o país não avança, fica para trás com a entrada de outro no ranking. Foi o que aconteceu com o Brasil, basicamente”, diz.
O destaque positivo (e que impediu que o Brasil piorasse) foi uma melhora em “performance econômica”, que fez o país avançar sete posições e chegar ao 41º lugar nesse quesito. Esse foi o único dentre os quatro grandes temas da pesquisa em que o Brasil melhorou.
No quesito “eficiência do governo” , o Brasil segue sendo um dos piores, no 61º lugar, perto da lanterna mundial.
“Esse desempenho não é de agora, é histórico”, pontua Arruda, da Dom Cabral. “O Brasil não está sendo capaz de dar resposta à necessidade urgente de simplificação de seu marco regulatório, sistema tributário e uso do dinheiro público de maneira eficiente.”
A Dinamarca e a Irlanda lideram o ranking de competitividade global. A Irlanda é o destaque, por ter avançado nove posições desde o ano passado. Os Estados Unidos, maior economia do mundo, ficaram em 9º lugar; a China, segunda maior economia, ficou em 21º.
Resultados do Brasil
- Eficiência dos Negócios: 61ª posição
- Desempenho econômico: 41ª posição
- Infraestrutura: 55ª posição
- Eficiência do governo: 62ª posição
Momento econômico e agenda verde são oportunidades
A recuperação da empregabilidade no Brasil após o recorde de desemprego na pandemia da Covid-19 foi um dos motivos para o avanço na performance econômica, afirmam os responsáveis pela pesquisa, além de controle da inflação e investimento estrangeiro.
O estudo aponta, por exemplo, que o Brasil chegou a seu maior investimento estrangeiro em dez anos, em 2022.
“Isso demonstra que, frente às instabilidades políticas e econômicas vivenciadas por outros países em desenvolvimento, o Brasil se demonstrou atrativo para investidores de fora”, diz o relatório.
Apesar disso, o Brasil segue atrás em investimento na capacidade produtiva (53ª posição) e no conjunto geral de infraestrutura (55ª posição).
Para os próximos anos, o Brasil pode seguir em bom momento na percepção econômica, dizem os especialistas, com o Produto Interno Bruto brasileiro subindo mais do que o esperado neste ano, controle da inflação e reformas (como o marco fiscal e uma possível reforma tributária).
Os coordenadores do estudo destacam que o país terá ainda oportunidades na nova era econômica que se desenha, com foco global na economia verde e transição energética. O Brasil ficou, por exemplo, na 27ª posição em acordos multilaterais para redução de impactos ambientais.
“Estamos vivendo um momento em que a comunidade internacional vai olhar para o Brasil de maneira favorável. Temos aí uma agenda importante a aproveitar”, diz Arruda, da Dom Cabral.
Tecnologia e inovação
Da pequena lista de boas notícias, o Brasil também se destaca em infraestrutura científica (que foi da 42ª posição para a 36ª neste ano). O próximo passo, no entanto, é aprimorar a interlocução com o setor produtivo, diz Arruda.
A atuação das empresas, aspecto que tem ficado nas últimas posições do ranking, também é um ponto de preocupação, além do investimento público e privado em capital humano.
“Tem havido um baixo investimento das empresas em tecnologia e inovação, quase nenhum avanço na pauta da produtividade. Isso é crítico porque, diferentemente da eficiência do governo, que sempre foi negativa, o setor privado era nosso ponto de fortaleza. Esse resultado mostra que precisamos promover mais o investimento tecnológico”, diz Arruda, que é do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral.
“Temos capacidade científica e temos de transformar isso em tecnologia e inovação, para conseguirmos exportar produtos com maior valor agregado”, completa o professor.
O Brasil terá uma janela decisiva, nos próximos anos, para conseguir deixar o pelotão de baixo da competitividade global.