Bradesco se opõe a plano de recuperação da Americanas
Banco credor de R$ 4,8 bilhões afirmou que não há clareza sobre “inconsistências contábeis” em plano de recuperação apresentado à Justiça
atualizado
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Ao se opor à aprovação do plano de recuperação judicial das Lojas Americanas, o Bradesco criticou a falta de clareza sobre as inconsistências contábeis nas demonstrações financeiras da empresa. O banco é credor de R$ 4,8 bilhões e elencou pelo menos oito pontos do plano que deveriam dar ensejo à rejeição do plano apresentado pela empresa. O pedido foi apresentado à Justiça do Rio nesta quarta-feira, 19, e obtido pelo Metrópoles.
Na lista de insatisfações do Bradesco, estão as condições de pagamento e prospecção de novos recursos e a correção monetária de aportes e investimentos. O banco também é contra o compromisso a ser assumido pelos credores de não mover processos contra as Lojas Americanas.
Segundo o Bradesco, para que “credores possam deliberar sobre qualquer plano, é imprescindível que as demonstrações financeiras das Recuperandas sejam devidamente apresentadas e reflitam a sua real condição econômico-financeira”. “No caso concreto, tais requisitos não foram cumpridos até o momento em razão das discussões contábeis envolvendo o Grupo Americanas”, afirma o banco.
O banco afirma que “o laudo de viabilidade econômico-financeira que acompanhou o PRJ foi elaborado em um cenário no qual não se tem visibilidade sobre os reais e efetivos impactos das “inconsistências contábeis” nas demonstrações financeiras das recuperandas”.
O Bradesco diz ainda que para a “votação do plano deverá ser garantido prévio acesso aos credores a tais informações para que possam avaliar as condições propostas no Plano e sua aderência à real capacidade das Recuperandas”.
Outro ponto de objeção do Bradesco, que é compartilhado com outros bancos, como o BTG, diz respeito à reorganização societária proposta pela Lojas Americanas. Este item diz respeito a uma série de medidas para simplificar o quadro de sócios e facilitar o cumprimento das obrigações na recuperação judicial.
O Bradesco afirma que a previsão foi tratada de maneira “genérica” e “sem qualquer tipo de limitação ou possibilidade de controle mínimo pelos credores”.
O plano de recuperação da Americanas, em linhas gerais, prevê aumento de capital de R$ 10 bilhões no curto prazo e outros potenciais aportes somente no futuro, sem data definida.
A Americanas está em recuperação judicial após a crise desencadeada em janeiro, quando foi descoberto um rombo contábil bilionário nos balanços da empresa. Recentemente, a companhia passou a chamar o caso de “fraude”.
A fraude contábil na Americanas, da ordem de R$ 25 bilhões, colocou a varejista, uma das maiores do Brasil, no buraco. De janeiro a maio, segundo os últimos dados divulgados, a empresa fechou 38 lojas e perdeu 10% dos clientes.
A varejista negocia desde então um plano de pagamento a credores. A insatisfação dos principais bancos com os donos da empresa tem vindo à público desde o começo do ano e negociações seguem ocorrendo nos bastidores, sem data para terminar.
Em comunicado ao mercado divulgado em junho, em resposta a notícias sobre as negociações, a Americanas afirmou que a companhia continuava “comprometida com os seus credores para a construção de um consenso sobre o Plano de Recuperação Judicial”.