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Banco do Brasil está mais protegido de “mão política”, dizem analistas

Mudanças no estatuto aprovadas nos últimos anos teriam deixado o Banco do Brasil mais blindado de pressões do futuro governo

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Banco do Brasil agência (1)
1 de 1 Banco do Brasil agência (1) - Foto: Reprodução/Direção Concursos

Uma das joias da coroa das estatais brasileiras, o Banco do Brasil é uma empresa de economia mista – ou seja, embora o governo seja dono de pouco mais da metade do capital social, o restante está distribuído a investidores na Bolsa de Valores.

Por isso, tão logo saíram as notícias de que o Congresso alterou as regras da Lei das Estatais, diminuindo o tempo de “quarentena” que um político deve cumprir antes de assumir o cargo em empresas públicas, as ações do BB iniciaram uma trajetória ladeira abaixo. Entre os dias 2 e 14 de dezembro, os papéis perderam 14% do valor.

Embora a mudança na Lei das Estatais não esteja sacramentada, pois ainda precisa passar pelo crivo do Senado, os investidores se prepararam para o pior: um Banco do Brasil utilizado como ferramenta política pelo novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesta sexta-feira (30/12), o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou o nome de Tarciana Medeiros para a presidência do BB. Ela trabalha no banco há mais de 20 anos e será primeira mulher a ocupar o posto em 214 anos de história da instituição.

Histórico petista

O receio dos investidores tem fundamento. No último governo de Dilma Rousseff, o BB foi um dos bancos usados para aumentar na marra a concessão de crédito. Antes focado no financiamento ao agro, o banco teve seu perfil radicalmente alterado e sofreu com um aumento de inadimplência com o qual não estava habituado.

Segundo um levantamento feito pelo banco Itaú BBA, nos anos de gestão Dilma a participação dos bancos públicos (BB, Caixa e BNDES) no mercado de crédito total foi de 40% para 60%. Depois da saída da presidente, a concessão de recursos do Tesouro para custeio de tal política foi reduzida e os bancos públicos voltaram a ter a mesma participação de antes.

O que preocupa o mercado é que, se Lula decidir assim, há espaço para o governo retomar os tempos de incentivo ao crédito. Ainda de acordo com o Itaú, os bancos públicos teriam mais de R$ 2 trilhões em capacidade de concessão de crédito, se todos os seus índices de Basileia excedentes fossem preenchidos.

“Seria improvável que isso acontecesse de uma só vez, e ainda seriam necessários recursos para expandir o balanço, mas esse é um número significativo dentro do sistema de crédito total de R$ 5 trilhões do Brasil”, analisou a equipe do Itaú BBA em novembro, quando o relatório foi divulgado.

Volta ao passado

Para o BB, a decisão seria um enorme retrocesso. Depois de se recuperar do aumento de inadimplência registrado entre 2015 e 2016, o banco voltou a atuar nas duas frentes em que sempre teve experiência: a concessão de crédito para produtores rurais e para funcionários públicos.

Tal receita levou o Banco do Brasil a fortes resultados trimestrais e ao posto de ação do setor financeiro mais recomendada por analistas do mercado.

“O índice de inadimplência [do BB] permanece em níveis baixos e o índice de cobertura permanece saudável. Isso resultou em um forte resultado de R$ 8,4 bilhões no trimestre, 21% acima da nossa estimativa. O banco também revisou suas projeção para 2022, implicando outro conjunto de fortes resultados para o quarto trimestre”, escreveu a equipe da corretora XP.

Os analistas políticos da casa lembram que a flexibilização da Lei das Estatais permitiria acomodação de uma série de políticos que estarão sem mandato a partir de 2023 em estatais tanto ligadas ao governo federal, quanto nos estados. Por outro lado, mesmo que as indicações políticas se concretizem, levaria tempo para manobrar o transatlântico do BB para outra direção.

“Apesar de termos pouca visibilidade sobre a forma e magnitude desse potencial impacto, um eventual planejamento e proposta de incentivo ao crédito deve ocorrer ao longo de 2023. Até que essas linhas ganhem representatividade em seu balanço, o que não deve ocorrer no curto prazo, vemos um impacto limitado em seus resultados”, diz Renan Manda, analista-chefe do setor financeiro da XP.

Governança fortalecida

Além disso, o banco americano Goldman Sachs tem outra razão para crer em um Banco do Brasil mais protegido de interferências políticas. Em 2019, o estatuto do BB foi alterado para criar regras para a nomeação de presidente e diretores.

Na nova política de sucessão, o presidente deverá ter ao menos 10 anos de experiência em posição sênior no setor de bancos, ou quatro anos como diretor ou executivo de alguma instituição financeira.

Além disso, dos atuais oito membros do Conselho de Administração do banco, quatro são independentes, dois são representantes dos acionistas minoritários e dois são indicados pelo governo. Como qualquer decisão importante passa pelo Conselho, essa seria uma camada extra de segurança.

“Embora nós reconheçamos os riscos potenciais relacionados a mudanças na gestão que são nomeadas pelo governo, achamos que o banco está mais bem protegido contra grandes mudanças em sua estratégia do que no passado, devido à sua política de sucessão e outras melhorias de governança”, avaliaram os analistas do Goldman Sachs.

Os argumentos a favor de um BB blindado parecem prevalecer. Desde que atingiu o vale, no dia 14 de dezembro, os papéis do banco já subiram 13%.

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