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Banco Central: Campos Neto vai capitular a Lula?

Nesta semana, o BC define a taxa básica de juros no Brasil. O governo pressiona por uma redução. Os técnicos dizem que ela não virá

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1 de 1 Imagem colorida mostra Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metropoles

A esmagadora maioria dos especialistas não acredita na possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), reduzir a taxa básica de juros do país, a Selic, fixada em 13,75% ao ano, na próxima reunião do órgão, que acontece nesta semana, entre terça (21/3) e quarta (22/3). “Caso haja uma queda, será uma surpresa maiúscula para o mercado”, diz o economista Fabio Giambiagi, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV). “E ninguém com quem tenho conversado trabalha com essa hipótese.”

Se essa é a perspectiva entre os técnicos, na política, porém, a situação é diferente. O presidente Lula, além de integrantes do governo e do PT, notadamente, a presidente do partido, a deputada federal Gleise Hoffmann, têm feito críticas diretas e constantes ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Os ataques são uma forma de pressão para que o Copom reduza a Selic o quanto antes, o que poderia acelerar o ritmo da atividade econômica no Brasil.

Para o professor Ricardo Rocha, da escola de negócios Insper, em São Paulo, essa briga política cria “uma névoa em torno desse processo”, mas ela ainda é insuficiente para levar o Copom a alterar a taxa. “O Banco Central só pode baixar os juros quando a inflação der sinais concretos de que vai cair”, diz. “O problema é que isso não está acontecendo.”

Para analisar a trajetória da inflação, Giambiagi, do FGV Ibre, usa um dado que fornece números menos suscetíveis a sazonalidades, como o aumento momentâneo de determinado item de consumo. “Esse indicador mostra que a inflação ficou em 5,3%, em novembro, e atingiu 7,9%, em fevereiro”, diz. “Se fosse o contrário, se ela estivesse caindo, até poderíamos pensar numa redução da Selic. Mas com essa trajetória ascendente, como já disse, o corte na taxa pelo Copom seria uma imensa surpresa e os bancos centrais, em geral, não gostam de provocar surpresas.”

Apesar da inflação, que, no jargão dos economistas, continua “desancorada”, as discussões sobre uma eventual redução da Selic ganharam espaço no noticiário econômico. Isso ocorreu, principalmente, por conta de três fatores. Um deles foi o escândalo da Americanas, em janeiro, a partir do qual os grandes bancos nacionais, todos credores da varejista, puxaram o freio de mão na concessão de empréstimos no mercado. Juros mais baixos poderiam aliviar esse cenário.

Crise bancária global

A outra circunstância que jogou lenha no debate da Selic foi a forte ameaça de crise bancária internacional, na semana passada, com a quebradeira de bancos nos Estados Unidos, caso do Silicon Valley Bank (SVB), e o perrengue do Credit Suisse, na Europa, que acabou sendo adquirido pelo UBS. Um colapso no sistema bancário global também agravaria a restrição ao crédito.

Por fim, o terceiro fator que poderia pressionar para baixo os juros no Brasil seria o projeto do novo arcabouço fiscal, preparado pelo Ministério da Fazenda, em discussão no governo. O conjunto de medidas deve substituir o teto de gastos, criado em 2016.

Para os técnicos, contudo, nenhum desses três fatores se tornou, até aqui, suficientemente forte – ou mesmo, concreto – para justificar a redução imediata dos juros. “O arcabouço fiscal ainda não foi apresentado ao mercado e não sabemos quais medidas vai adotar”, afirma Giambiagi. “Mesmo que isso já tivesse acontecido, o projeto ainda precisaria passar pelo Congresso.”

Para a economista Silvia Matos, do FGV Ibre, a crise bancária internacional também não justifica uma queda emergencial dos juros no Brasil. Ao menos, até o momento. Ela acrescenta: “De fato, só será possível baixar os juros se a inflação der sinais de desaceleração intensa. Infelizmente, não temos esse quadro. Se ele (o Banco Central) decidir fazer isso já, poderá colocar em risco a sua credibilidade.”

Pressão da indústria

Pressões pela queda da taxa, porém, também partem de setores ligados à produção, mais expostos às restrições no crédito. Igor Rocha, economista da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), é um dos técnicos que defendem a redução da Selic desde já. “O Brasil tem a maior taxa de juros reais do mundo e isso apesar de a inflação brasileira ser muito mais baixa do que em países como a Colômbia, o Chile, o México e o Peru”, diz.

Para Rocha, a tentativa de reduzir a inflação com juros altos é inócua e só “coloca em situação ainda mais grave a indústria nacional de transformação”. Mesmo assim, ele não acredita em uma queda da Selic já nesta semana. “Se vier, será de 0,25 ponto percentual”, afirma. “Mas, se houvesse um corte de 2 pontos percentuais, isso não mudaria em nada a situação da inflação.”

Na avaliação dos técnicos, o debate sobre os juros vai além desta semana. Ele continuará no país e a taxa poderá ser reduzida numa das outras seis reuniões do Copom neste ano, previstas entre maio e dezembro. É por isso que, para Fabio Giambiagi, a ata do encontro de terça e quarta será, como define, “importantíssima”. Nesse documento, é feita uma análise do cenário econômico e são emitidos sinais sobre as decisões futuras em torno da política monetária do Banco Central.

Hoje, há consenso no mercado de que a Selic, fixada em 13,75%, cairá no Brasil entre julho e agosto, embora essas previsões mudem à medida que a incerteza econômica aumenta ou diminui no país. Os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central acreditam que a taxa deve terminar 2023 em 12,75%.

 

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