Ata elimina chance de corte maior e é dura com fiscal, dizem analistas
Segundo economistas e agentes do mercado, ata do Copom reforça discurso do comunicado e afasta aumento do ritmo de cortes da Selic
atualizado
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A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve o tom do comunicado que acompanhou a decisão do colegiado de reduzir a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 12,75% ao ano, na semana passada.
Segundo analistas ouvidos pela reportagem do Metrópoles, a ata do Copom elimina completamente qualquer possibilidade de aumento do ritmo de cortes da Selic nas próximas reuniões. Parte do mercado especulava sobre uma eventual redução de 0,75 ponto percentual na reunião de dezembro.
“É uma ata que estende toda a discussão que já estava no comunicado. Sinaliza que um corte de 0,75 ponto percentual não faz sentido agora. Isso sai totalmente do cenário”, diz Marco Caruso, economista-chefe do PicPay.
“O recado é que há espaço para um corte parcial dos juros, reduzindo um pouco o grau de aperto das condições monetárias, mas longe de querer ir para pontos expansionistas”, afirma o economista.
Para Ricardo Jorge, sócio da Quantzed, a ata “ressalta que é necessário ter serenidade e moderação no processo de flexibilização monetária, indicando que o comitê vai ser cauteloso com o ritmo de corte da taxa de juros”.
Preocupação com o fiscal
Segundo Ricardo Jorge, um dos destaques da ata do Copom é a manifestação clara do comitê de que ainda há grande preocupação com a questão fiscal no país.
“Eles chamam atenção justamente para essa questão do fiscal e como isso pode impactar na ancoragem das expectativas inflacionárias. Foi um comunicado bem duro em relação à inflação, ao fiscal e ao cenário externo incerto”, avalia.
Ata do Copom
Na ata, divulgada nesta terça-feira (26/9), o Copom afirma que a inflação no Brasil tem mostrado uma “dinâmica corrente mais benigna”, mas chamou atenção para o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais” e as “incertezas sobre a estabilização da dívida pública” no país.
A autoridade monetária afirmou que essas incertezas “têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.
“O Comitê avalia que parte da incerteza observada nos mercados, com elevação de prêmios de risco e da inflação implícita, estava anteriormente mais em torno do desenho final do arcabouço fiscal e atualmente se refere mais à execução das medidas de receita e despesas compatíveis com o arcabouço e o atingimento das metas fiscais. Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, diz o Copom.
De acordo com o comitê, “não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado”.
“O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva. Tal confiança viria apenas com uma alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação, tais como uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”, diz a ata.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, prossegue o Copom.
“O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”