Arminio: Governo Lula “pode desembocar em outro desastre econômico”
Em entrevista à Folha, Arminio Fraga, economista do Real que apoiou Lula durante a campanha, demonstra preocupação com rumos da economia
atualizado
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Arminio Fraga, um dos criadores do Plano Real e um dos economistas que apoiaram Lula durante a campanha, demonstrou preocupação com os rumos do novo governo.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada ontem (7/1), Fraga reforçou não se arrepender do voto depositado no novo presidente, alegando que foi uma escolha mais pela preocupação “com o que aconteceria à democracia do Brasil com Bolsonaro do que o que Lula faria na economia, mesmo não tendo clareza quanto a isso”.
Apesar do voto de confiança, o economista não poupou críticas aos primeiros recados passados pelo novo governo, especialmente quando o assunto são as medidas para a economia.
“Tenho sido cuidadoso com o pouco que falo e escrevo, esperando posicionamentos do ministro Fernando Haddad e de seus parceiros na economia para, então, fazer uma análise mais embasada. Mas há no ar sinais de que as coisas podem desembocar em outro desastre econômico, e isso de fato me preocupa”, disse o economista.
Retrocesso
Os sinais, segundo Fraga, estariam na insistência do governo em multiplicar os gastos públicos sem se preocupar em comunicar de forma clara quais serão as contrapartidas adotadas, além da defesa de políticas que já se mostraram equivocadas, como a intervenção do governo na Petrobras e outras empresas públicas.
“[É um erro] mexer no que promete grandes avanços, caso do marco do saneamento. Voltar para trás na Lei das Estatais. Usar, Deus sabe como, os bancos públicos. Usar a Petrobras em manipulações que quebraram a empresa no passado. Será que isso vai acontecer de novo? O que a gente escuta indica que é bem possível”, criticou o economista, que também foi presidente do Banco Central durante o último governo de Fernando Henrique Cardoso.
Sobre o fiscal, Fraga disse que há uma expectativa de que Haddad apresente um novo arcabouço para conter o déficit previsto para os próximos anos. Poderiam ser “metas [fiscais] para os dois anos seguintes, que levem o saldo primário [a diferença entre arrecadação e despesas do governo] ao terreno confortavelmente positivo, que, na minha avaliação, teria de ser no mínimo 2% do PIB”.
O economista criticou a incapacidade de Lula e dos aliados petistas fazerem um mea-culpa sobre os erros econômicos cometidos principalmente durante os governos de Dilma Rousseff. Ele citou o buraco fiscal causado pela aceleração de gastos e pelas pedaladas fiscais, e lembrou a crise econômica que sucedeu tais decisões.
“Mesmo que não se ajoelhe no milho e se faça um mea-culpa, seria bom que se mostrasse através da prática que as lições foram aprendidas”, avaliou Arminio Fraga.