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Aposta nos bancos digitais aumenta com expectativa de queda de juros

Daí o salto de quase 45% a até 75% das ações de fintechs como o Nubank e o banco Inter na Bolsa de Valores

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Nos últimos meses, o noticiário em torno Nubank parece ter entrado num “modo bipolar”. Em meados de maio, o banco digital reportou um lucro de US$ 182,4 milhões no primeiro trimestre de 2023, valor que superou em 18 vezes o resultado obtido no mesmo período em 2022. No início de junho – e, à primeira vista, paradoxalmente –, a mesma empresa anunciou a demissão de quase 300 funcionários.

Na avaliação de Carlos André Vieira, analista de ações do TC, plataforma de assessoria a investidores, embora os dois fatos – o lucro e as demissões – soem contraditórios, eles são típicos do momento pelo qual passa o Nubank, momemto que também marca o ciclo de expansão dos demais bancos digitais, chamados igualmente de fintechs (empresas de tecnologia na área de finanças).

Vieira observa que o modelo de negócios dessas fintechs abarca duas grandes fases. A primeira delas é a de atração de clientes. E ela ocorre de forma tão agressiva que parece que se dá  a qualquer preço. É preciso ter sangue frio para conviver com altos níveis de inadimplência da clientela, porque essa é a hora de oferecer vantagens à freguesia, como a ausência de tarifas para uma série de operações, além de crédito para quem não tem histórico bancário.

A etapa seguinte é a da conquista da rentabilidade. Chega a vez de apresentar resultados. O foco volta-se para os melhores clientes, aqueles com bom histórico de crédito, que vão consumir um maior número de produtos do portfólio do banco.

“O Nubank entrou nessa fase, sem sair da primeira, o que é normal no setor. Esses dois momentos não são excludentes”, diz Vieira. “Assim, começou a apresentar resultados, mas ainda tem de cortar custos. Daí, os anúncios do lucro e das demissões quase simultâneo.”

Clientela de 80 milhões

O Nubank, cujas ações começaram a ser negociadas em 9 de dezembro de 2021, em Nova York, tem hoje uma base com 80 milhões de clientes. Inclui as operações no Brasil, México e Colômbia. Mas os brasileiros representam a imensa maioria desse contingente. Eles somam quase 75 milhões.

Até o início de 2023, a fintech praticamente não havia saído de debaixo das asas dos investidores. No primeiro trimestre deste ano, além do lucro, apresentou uma rentabilidade de 11% (calculada pela relação entre lucro e patrimônio líquido). “Antes disso, ela não existia, era zero”, afirma Vieira. “Esse foi um resultado muito relevante.”

Crédito imobiliário

Outras fintechs, destaca o analista do TC, ainda não atingiram esse patamar. O banco Inter, por exemplo, tem perfil um pouco diferente, embora atue na mesma faixa de mercado. Enquanto o Nubank foca na oferta de cartões de crédito, o Inter mantém parte da carteira voltada para o crédito imobiliário.

Trata-se de um banco ligado à construtora MRV, da família Menin, que atua fortemente em programas de construção de casas populares. “As carteiras de crédito imobiliário são mais seguras, mas têm um retorno menor do que os cartões de crédito”, diz Vieira. “Assim, oferecem uma rentabilidade menor.”

Para o analista, o C6 Bank, outro exemplar do unverso das fintechs nacionais, vem mais atrás nessa corrida. Em 2022, o conglomerado registrou um prejuízo de R$ 2,4 bilhões, dos quais R$ 2,2 bilhões do banco em si, uma piora de 223% em relação ao ano anterior. Entre 2021 e 2022, diz Vieira, se a receita do C6 avançou pouco mais de três vezes, a inadimplência e o custo de captação de recursos para a oferta de crédito aos clientes subiram quatro vezes. “Com isso, ele perdeu margem”, afirma o analista do TC.

Valor de mercado

Apesar de os resultados do conjunto não serem sempre vistosos, o mercado continua apostando nos bancos digitais. No fim de março, a cotação do Nubank (dada pela soma do valor das ações) alcançou US$ 32,1 bilhões. Na ocasião, instituições tradicionais valiam menos, segundo o mesmo critério. O Bradesco era cotado a US$ 31,9 milhões, o Banco do Brasil, a US$ 25,88 bilhões e o Santander, a US$ 22,23 bilhões. Acima do banco digital, só o Itaú, avaliado em US$ 48,37 bilhões.

De acordo com dados da Economatica, as ações do Nubank negociadas no Brasil subiram 75% neste ano e em Nova York, 85,6%. No caso do Inter, os números foram, respectivamente, 43,6% e 33,7%. Na Bolsa brasileira (B3), as do Itaú avançaram quase 30%.

E por que os papéis de alguns de algumas dessas fintechs sobem tanto? “O mercado está pagando adiantado por uma aposta no crescimento desses bancos”, diz Vieira. “Isso acontece porque os investidores estão olhando para a frente, vendo um cenário de queda de juros, que favorece a retomada do crédito por parte dos consumidores em geral, algo essencial para a atividade dessas instituições.”

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