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Após ataque de Lula, mercado teme racha político em decisão do Copom

Para especialistas, críticas duras do presidente contra Campos Neto elevam as chances de dissenso na definição de hoje do valor da Selic

atualizado

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Foto: Raphael Ribeiro/BCB
imagem colorida da reunião do Copom, do Banco Central, em janeiro de 2024 - Metrópoles
1 de 1 imagem colorida da reunião do Copom, do Banco Central, em janeiro de 2024 - Metrópoles - Foto: Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Os analistas de mercado convivem com uma razoável certeza e uma considerável dúvida sobre o que acontecerá na reunião desta quarta-feira (19/6) do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Ao final do encontro, previsto para terminar às 18h30, o Copom anunciará o valor dos juros básicos do país, a Selic.

A maioria desses especialistas acredita que a taxa permanecerá nos atuais 10,50% ao ano. Nesse aspecto, há convicção. Em contrapartida, boa parte hesita em dizer se a decisão será unânime ou se haverá um novo racha na votação do órgão, à semelhança do que ocorreu no mês passado.

Essa incerteza aumentou na terça-feira (18/6) depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Entre outras coisas, disse Lula, em entrevista à rádio CBN, que Campos Neto não tem autonomia e “trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país”.

O economista Alexandre Schwartsman, consultor e ex-diretor do Banco Central, afirma que “ainda acredita” que a votação do Copom sobre a Selic ocorrerá por consenso. Ele reconhece, contudo, que a manifestação do presidente da República sobre Campos Neto complicou tal possibilidade. 

Custo do consenso

“A fala do Lula acabou aumentando o custo para os integrantes do Copom de compor com o presidente do Banco Central”, diz Schwartsman. “Isso porque quem votar com o Campos Neto vai reduzir consideravelmente as chances de se tornar presidente do BC [Campos Neto deixa o cargo no fim deste ano].”

Na avaliação de Schwartzman, tal problema é “especialmente problemático” para o atual diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo. Ele é um dos votantes do Copom e foi indicado para o cargo pelo atual governo. Seu nome aparece com frequência na lista de possíveis sucessores de Campos Neto.

Dilemas internos

Rodrigo Romero, economista da Levante Inside Corp, tem opinião semelhante. “Alguns membros do Comitê, como Galípolo, que aspiram a posições futuras de liderança, podem ser influenciados pelas expectativas do governo”, diz. “A decisão de votar com o presidente atual do BC pode ser vista como um voto contra as preferências do governo, gerando dilemas internos.”

Já Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), não acredita no consenso. “O racha vai continuar porque o Copom tem hoje dois grupos com pensamentos diferentes”, afirma. Um deles, para Gomes, “protege os investidores”. O outro, indicado pelo governo Lula, acredita que é preciso reduzir os juros para fomentar o desenvolvimento. “O racha vai continuar até que essa situação se desfaça”, afirma.

Consenso por quê?

E por que uma parte expressiva dos economistas acredita que uma decisão unânime do Copom é importante? Ou, dito de outra forma, quais são os riscos que essa turma vê num eventual dissenso entre integrantes do órgão? 

Para esses especialistas, o perigo é que o mercado acredite que a taxa básica de juros não é definida com base em critérios técnicos e, nesse sentido, a decisão está sujeita a influências políticas – situação que potencialmente poderia se agravar com a posse de um presidente do BC indicado pelo governo, a partir do início de 2025..

Mais inflação

Assim, para Alexandre Schwartsman, se houver um novo racha, as “expectativas de inflação vão aumentar”. “Isso significa que a taxa de juros mais longa vai subir na antecipação de uma inflação mais elevada”, afirma. 

Rafael Cardoso, economista-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, nota que a ausência de unanimidade na decisão do órgão do BC aumentaria o nível de incerteza da economia para o ano que vem. 

Prova de coesão

Rodrigo Romero, da Levante, observa que, com a unanimidade, seria dado o sinal contrário. Nesse caso, o BC demonstraria “independência e foco na estabilidade de preços”, além de “coesão para ancorar as expectativas inflacionárias”. Ele acrescenta que essa seria uma forma de o órgão “restabelecer sua credibilidade, demonstrando compromisso com a convergência da inflação à meta”, que é de 3%. 

Votam no Copom oito diretores e o presidente do BC. No último encontro, entre 7 e 8 de maio, quatro integrantes indicados pelo atual governo do PT posicionaram-se a favor do corte de 0,50 ponto percentual da Selic. Os outros quatro, além de Campos Neto, optaram pela redução de 0,25 ponto percentual, que prevaleceu.

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