Ao atacar o BC, Lula busca culpado para o baixo crescimento do PIB
Essa é a opinião do economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, o primeiro a prever o confronto entre o governo federal e o Banco Central
atualizado
Compartilhar notícia
As previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de riquezas do país) estão em torno de 1,5% para este ano, ante 3,1% em 2022. Para justificar esse baixo crescimento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria encontrado um culpado: a taxa de juros básicos da economia, a Selic, fixada em 13,75% ao ano pelo Banco Central (BC). “Essa é a principal razão dos ataques do presidente ao BC”, avalia o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Em 7 de janeiro, ou seja, apenas uma semana após a posse do novo presidente da República, Mendonça de Barros afirmou, em entrevista ao Metrópoles, que o governo caminhava para um confronto com o BC. Ele foi o primeiro a antever tal conflito. Desde então, Lula e parlamentares da base petista têm feito sucessivas declarações contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a política monetária em curso e a autonomia do órgão federal.
Agora, Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações de Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do BNDES e ex-diretor do BC, identifica alguns movimentos que buscam atenuar essa tensão. Esses gestos, contudo, estão restritos ao presidente do Banco Central e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Do lado do BC, indica o economista, houve o reconhecimento de que há um esforço do governo para diminuir o risco fiscal do país. E, se isso acontecer, os juros podem diminuir. Essa ressalva, ou “baixada de bola”, como define Mendonça de Barros, está presente na ata publicada na terça-feira (6/2) pelo Comitê de Política Monetária do BC (Copom), na qual o órgão justificou sua decisão de manter os juros em 13,75%.
Haddad, por sua vez, amenizou as críticas que vinha fazendo ao BC. Ele definiu a ata do Copom como “mais amigável” do que pronunciamentos anteriores feitos pelo órgão.
Como apaziguar os ânimos
Agora, observa o economista, há uma saída técnica que pode atenuar ainda mais o problema. Nesta semana, o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), foi de apenas 0,06% em janeiro de 2023, após avançar 0,31% em dezembro de 2022.
Mendonça de Barros nota que houve queda acentuada nos preços do atacado, algo que deve repercutir no varejo nos próximos cinco ou seis meses. “Com base nesse indicador, e enquanto espera a definição do novo arcabouço fiscal do governo (prometida até abril), o BC poderia renunciar momentaneamente a uma ação mais rígida para reduzir a inflação”, diz. “Ou seja, isso poderia levar a uma pequena queda da taxa de juros e, de quebra, apaziguar os ânimos do governo, o que já seria um benéfico para o país.”
O economista, apesar da sugestão de saída para o problema entre governo e BC, vê a situação com ceticismo. Ele tuitou na tarde desta quarta-feira (8/2): “O brasileiro assiste novamente a um presidente em uma guerra feroz – e que certamente vai acabar mal. Bolsonaro negando a vacina contra a Covid e Lula defendendo um pouco mais de inflação”.