Analistas já não acreditam em corte da Selic até o fim de 2025
As novas previsões do mercado de juros básicos a 10,50% no próximo ano mostram uma acentuada deterioração do cenário econômico do país
atualizado
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reúne-se na próxima semana para definir a taxa básica de juros do país, a Selic. Sempre que esses encontros se aproximam, proliferam no mercado discussões sobre se vai haver redução dos juros – e de que tamanho ela será. Agora, porém, o tom dessa conversa está mudando.
Isso porque alguns analistas já não estão preocupados se a Selic vai cair ou não na próxima reunião do Copom. Na verdade, eles acreditam que não haverá qualquer corte nos juros básicos do Brasil até o fim de 2025.
Note-se que, ainda em 2024, além da próxima semana, o Copom vai se reunir mais quatro vezes, em julho, setembro, novembro e dezembro. No próximo ano, devem ocorrer pelo menos outros oito encontros. Ou seja, até o fim de 2025 haverá cerca de nove oportunidades de baixa da Selic, mas, para parte do mercado, elas vão passar em branco.
Foi nesses termos, por exemplo, que foi feita uma recente revisão da estimativa da Selic, assinada pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita. “Em meio às expectativas de inflação crescentes (já parcialmente desancoradas), atividade econômica resiliente e maiores incertezas doméstica e externa, entendemos que não há mais espaço para cortes adicionais de juros”, diz o técnico. “Portanto, revisamos nossas projeções para a taxa Selic, de 10,25% ao ano para 10,50%, ao final de 2024 e 2025.”
Racha no Copom
No texto, o banco observa que o Copom volta a se reunir nos dias 18 e 19 de junho, após “semanas de volatilidade intensa nos mercados – inclusive em função do dissenso que ocorreu na decisão anterior”. Essa é uma menção ao racha que ocorreu no último encontro do órgão, em maio.
Na ocasião, quatro integrantes do Copom, todos indicados pelo atual governo, votaram a favor de um corte de 0,50 ponto percentual da Selic. Os outros cinco membros do Comitê, entre eles o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, optaram pela redução de 0,25 ponto, que prevaleceu, fixando a Selic em 10,50% ao ano.
Câmbio e inflação
O relatório do Itaú observa ainda que a “taxa de câmbio voltou para as máximas do ano, descolada de seus pares”. Além disso, para o banco, a “medida ampla de risco-país, calculada com base em preços de ativos e seu desempenho relativo, voltou a subir”, o mercado de trabalho segue aquecido e as projeções do mercado para a inflação aumentaram. “Com essas condições, mesmo com um câmbio eventualmente mais comportado do que os valores recentes, entendemos que não há mais espaço para cortes adicionais de juros”, conclui a análise.
Política mais restrita
Na mesma linha vai o relatório assinado pelo economista-chefe da XP, Caio Megale. “Os desafios da política monetária aumentaram desde a última reunião do Copom. As expectativas de inflação subiram – afastando-se ainda mais da meta de 3,0% – devido ao cenário global adverso, incertezas fiscais domésticas, mercado de trabalho apertado e questões de credibilidade do banco central”, diz o texto. “Isso significa que a política monetária precisará ser mais restritiva do que se pensava anteriormente para manter a inflação próxima à meta segundo o modelo do Banco Central.”
Daí, a elevação da estimativa da Selic também para o próximo ano: “Acreditamos que o Copom interromperá o ciclo de flexibilização na próxima reunião (em 10,50%). Diante do nível de incertezas acima do usual, consideramos, por ora, o mesmo patamar para 2025.”
Deterioração
Avaliações desse tipo representam uma guinada estonteante em relação às projeções para a Selic, feitas no início deste ano – e mostram o quanto deteriorou, na avaliação dos analistas, o cenário econômico no país. No primeiro Relatório Focus divulgado neste ano, por exemplo, a previsão do mercado era que a taxa básica de juros estaria em 9% no fim de 2024 e em 8,50% em dezembro de 2025.
Na próxima semana, é quase unanimidade entre os investidores que a Selic será mantida no atual nível de 10,50% ao ano. De acordo com os dados do mercado de Opções de Copom, da Bolsa brasileira (B3), 92% acreditam nessa possibilidade. Apenas 4,5% apostam numa queda de 0,25 ponto percentual. Outros 2,5% já falam em um aumento dessa mesma magnitude e 2% em elevação de 0,50 ponto percentual.