Americanas pode ser investigada por informação privilegiada
Na véspera do anúncio do rombo de R$ 20 bi no balanço da Americanas, investidores compraram derivativos para se proteger da queda da ação
atualizado
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Abalada por um rombo de R$ 20 bilhões em seu balanço financeiro, a Americanas poderá ainda ser investigada pela prática de insider information, termo em inglês para a divulgação de informação privilegiada. Fontes ouvidas pelo Metrópoles dizem que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável por fiscalizar o mercado, abrirá um processo para apurar o vazamento de informações.
Horas antes de a empresa comunicar ao mercado a existência de “inconsistências contábeis” em seus demonstrativos financeiros, um grupo de investidores comprou derivativos para se proteger de uma eventual desvalorização das ações da Americanas, antecipando a queda de mais de 70% do valor dos papéis na Bolsa de Valores nesta quinta-feira (11/1).
O derivativo é um título negociado no mercado financeiro. No caso relatado, trata-se de uma put (uma opção de venda a descoberto). Na prática, esse é um instrumento usado por investidores para se proteger ou até para lucrar com a queda das ações de determinada empresa.
O que chamou a atenção de analistas foi o volume. Em poucas horas, foram vendidos mais de R$ 600 mil em derivativos da Americanas. Esse é um valor até 10 vezes maior do que o registrado em outros dias do mesmo mês.
Até que os fatos do rombo no balanço viessem à tona, apostar na queda das ações da Americanas não fazia sentido.
A empresa vinha de uma valorização de 30% na Bolsa, motivada pela troca de comando. Sergio Rial, ex-presidente do Santander, assumiu a presidência da Americanas na semana passada, com a missão de renovar a empresa, que vinha de um longo período de vendas menores e resultados financeiros magros. Depois de identificar o rombo de R$ 20 bilhões, apenas 10 dias depois de sentar na cadeira de presidente, Rial renunciou.
Aposta bilionária
Agora, caberá à CVM apurar se a negociação dos derivativos foi feita por um investidor que soube do rombo no balanço antes de a Americanas comunicar formalmente o mercado. Em casos como esse, a autarquia pode pedir às corretoras e bancos que forneçam os dados do cliente que fez a operação e rastrear a possível relação com executivos e funcionários da Americanas.
No caso dos derivativos da Americanas, as movimentações mais volumosas teriam sido feitas por um investidor que tem conta na corretora XP.
“A CVM certamente vai buscar saber quem fez e qual foi a motivação para uma compra tão atípica. Mas o que podemos dizer até aqui é que, do dia para a noite, essa pessoa fez um bom dinheiro”, confidenciou um analista de mercado, na condição de anonimato.
Tomando como base a desvalorização de mais de 70% das ações da Americanas, o comprador dos títulos de derivativo poderia multiplicar o valor investido por dez. Ou seja: a aposta de R$ 600 mil poderia se transformar em R$ 6 milhões.