Americanas: operação da PF não faz menção a trio de bilionários
Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, acionistas da Lojas Americanas, não são citados em pedido de busca e aprensão
atualizado
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São Paulo – Ao pedir a prisão de dois ex-executivos e buscas e apreensões contra 14, a Polícia Federal não fez menção ao trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, acionistas de referência da Lojas Americanas e sócios da 3G Capital Partners.
A ausência deles não significa que não podem vir a ser implicados na investigação. A Operação Disclosure, deflagrada nesta quinta-feira (27/6), é a primeira relacionada a crimes financeiros relacionados a quem atuou na rede varejista.
A operação pode ter desdobramentos a depender do avanço das investigações, como a possibilidade de outros investigados delatarem ou novas provas serem encontradas em celulares e material apreendido nas casas dos ex-executivos.
Os delatores que fizeram acordos para colaborar com investigações são do chamado quinto escalão da empresa. Suas informações foram valiosas para que a Polícia Federal chegasse à responsabilidade de executivos até do primeiro escalão, caso de Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas.
“Bode expiatório”
Gutierrez não é delator, mas sua tese de defesa nos últimos tempos é de que os bilionários participaram ativamente da gestão da empresa e que ele não passa de “um conveniente bode expiatório para ser sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas do capitalismo brasileiro”.
Essas declarações constaram em cartas enviadas à CPI da Americanas no Congresso, e não dão um passo muito além sobre a conduta do trio. Não se sabe, porém, qual será a estratégia de defesa dele após ser alvo um mandado de prisão e incluído na difusão vermelha de procurados pela Interpol. Ele está há meses na Espanha.
“Verdes e vemelhos”
Com base na delação de ex-diretores, a Polícia Federal obteve acesso a documentos que mostram a existência de um arquivo chamado “verdes e vermelhos”, que fazia parte de um “kit de fechamento trimestral”. Nele, constava a expectativa de crescimento por parte de analistas de mercado. Segundo as delações, quando elas não eram atingidas, a diretoria mudava os resultados “para não frustrar as expectativas de mercado”. Ou seja, trata-se do caderno da fraude.
No caso de Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, ficou evidente a venda de R$ 158 milhões em ações quando, segundo a PF e os delatores, ele já tinha conhecimento das fraudes e de sua eventual publicidade. Ele é suspeito de uso de informações privilegiadas no mercado financeiro e apontado como integrante de uma associação criminosa.
Ao todo, como mostrou o Metrópoles, executivos da Americanas venderam R$ 258 milhões em ações quando sabiam que a crise iria estourar. Todos foram alvo de buscas e apreensões.
As investigações são recheadas de mensagens, e-mails e outros documentos sobre adulteração de balanços da Americanas. Os delatores afirmaram que a prática era comum há anos no alto escalão da empresa, que acabou em uma recuperação judicial com dívidas de R$ 40 bilhões.
A defesa de Miguel Gutierrez afirma “que não teve acesso aos autos das medidas cautelares deferidas nesta quinta-feira (27) e por isso não tem o que comentar”. “Miguel reitera que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”.