Americanas: executivos fraudavam para inflar as próprias remunerações
Ao pedir busca e apreensão contra ex-executivos, delegado da PF afirmou que diretores usavam fraude para manutenção de bônus milionários
atualizado
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São Paulo – Ao pedir buscas e apreensões contra ex-executivos da Lojas Americanas na Operação Disclosure, a Polícia Federal afirmou que as fraudes nos balanços contábeis tinham como motivação a manutenção de bônus milionários à cúpula da rede varejista.
Em 10 trechos da investigação, seja na explicação de como as fraudes eram cometidas de maneira geral ou na individualização das condutas, investigadores mencionaram as remunerações de diretores como a grande motivação para inflacionar os lucros reportados pela empresa.
“Ora, se sabiam que os resultados eram deficitários, como poderiam receber bônus milionários atrelados aos resultados? A resposta é simples: praticando fraudes por muitos anos, que causaram prejuízos milionários, especialmente aos minoritários que viram suas economias desaparecer”, disse o delegado Andre Gustavo Veras de Oliveira, da Polícia Federal no Rio de Janeiro.
“Resultado fictício”
Segundo a PF, as fraudes estão comprovadas por centenas de e-mails. “Por meio deles, verifica-se que, mês a mês, todos recebiam os resultados reais, tomavam conhecimento do refino dos números (versões que modificavam linhas do balanço), elegiam um resultado fictício e tomavam conhecimento do resultado fraudulento”, afirmou em documento.
Delatores apontaram que o ex-CEO Miguel Gutierrez, apontado como parte do primeiro escalão na “hierarquia da fraude”, tinha conhecimento do “arquivo verde e amarelo”, usado como uma espécie de “régua” para que a varejista fraudasse resultados de acordo com as expectativas do mercado.
“Assim sendo, Miguel Gutierrez não só tinha conhecimento dos resultados verdadeiros como também sabia dos fraudados, que serviram de base para recebimento de bônus milionários, e principalmente, recebia o suporte e contava com a coautoria de todos os indivíduos abaixo citados.”
Maior fraude da história
Ao todo, 14 pessoas são investigadas pela Operação Disclosure. O grupo investigado é responsável pela maior fraude da história do mercado financeiro do Brasil, estimada em cerca de R$ 25,3 bilhões.
Segundo a decisão judicial que autorizou a operação policial, a PF atribui aos investigados “manobras fraudulentas” destinadas a alterar “os resultados reais da empresa”.
O objetivo, de acordo com a PF, era “receber vantagens indevidas com o pagamento de bônus por metas atingidas, e elevar de forma ilícita a cotação das ações das Americanas, pois, assim, gerariam ganhos financeiros não justificados, visto que alguns dos investigados tinham participação acionária nas empresas”.
Segundo investigadores, as manobras “causaram grande prejuízo para os demais acionistas, principalmente aos minoritários, que, em razão da falsa saúde financeira das empresas, operavam transações acionárias com preços inflacionados”. Os crimes investigados são os de manipulação de mercado e uso de informação privilegiada.
A defesa de Miguel Gutierrez afirma “que não teve acesso aos autos das medidas cautelares deferidas nesta quinta-feira (27/6) e, por isso, não tem o que comentar”. “Miguel reitera que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”.