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Americanas diz que BTG foi cúmplice em maquiagem contábil de R$ 20 bi

Em ação na Justiça de São Paulo, a defesa da Americanas alegou que o BTG não informou à auditoria (a PwC) a existência de dívidas

atualizado

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Lemann e Esteves
1 de 1 Lemann e Esteves - Foto: Reprodução/Divulgação

No mais novo capítulo do embate judicial entre a Americanas e o BTG Pactual, a varejista anexou documentos ao processo que corre no Trinbunal de Justiça de São Paulo, para acusar o banco de ter sido conivente com o rombo de R$ 20 bilhões no balanço.

A tese defendida pela Americanas é que o BTG também não informou a auditoria contábil, feita pela PwC, sobre a existência de dívidas que não foram lançadas da forma correta nas demonstrações financeiras da varejista. A informação foi divulgada inicialmente pelo jornal O Estado de S.Paulo.

“O BTG também teve participação nos atos que culminaram no cenário periclitante atual. Aliás, não apenas participação, mas conivência e culpa”, dizem os advogados da Americanas.

Em nota enviada ao Metrópoles, o BTG Pactual negou qualquer culpa sobre os problemas contábeis. O banco diz que “é completamente inconcebível alegar que o BTG Pactual iria compactuar com prática que poderia comprometer a sua exposição junto à companhia” (leia a íntegra do posicionamento do banco no final da matéria).

Na semana passada, a Justiça concedeu ao BTG Pactual uma liminar para manter bloqueada a soma de R$ 1,2 bilhão em contas das Americanas, como garantia do pagamento de dívidas da varejista com a instituição financeira.

Segundo os advogados da Americanas, o banco teria recebido pedidos de carta de circularização da PwC, para averiguar a existência e o tamanho de dívidas contratadas pela Americanas com o BTG.

Carta de circularização é um documento usado pela auditoria para checar se as informações prestadas pela empresa auditada são fidedignas. Por exemplo: a Americanas informa à PwC possuir um financiamento de tal valor com determinado banco. A auditoria, então, pede ao banco uma carta de circularização para atestar que o valor do financiamento e as condições informadas pela empresa estão corretas.

De acordo com os defensores da Americanas, ao responder à PwC, o BTG não teria mencionado as operações de risco sacado (um adiantamento de recebíveis que os bancos forneciam à varejista, para que ela pagasse fornecedores), “possivelmente por considerar tal operação de ‘Risco Sacado’ como sendo meramente comercial e não uma dívida financeira”, opinam os advogados da empresa.

O banco trava uma disputa judicial com a Americanas há semanas, a fim de provar a irresponsabilidade da gestão da varejista e para reaver os mais de R$ 3 bilhões concedidos em empréstimos para a empresa.

Tese já foi defendida pelos acionistas de referência

No último dia 22, os sócios bilionários da Americanas divulgaram uma nota para falar do problema contábil que engoliu a empresa. No documento, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, donos de 31% das ações da varejista, dizem que não sabiam de nada e jamais admitiriam uma manipulação contábil.

“Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade”, disseram eles.

Foi uma tentativa de dividir a responsabilidade pelo ocorrido. Os sócios dão a entender que nem a auditoria e nem os bancos acusaram qualquer irregularidade, mesmo tendo, em tese, todas as condições para fazer isso.

“Portanto, assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto”, escreveram Lemann, Sicupira e Telles.

Os bilionários dizem que o comitê independente contratado pela Americanas para apurar os fatos avaliará “a eventual quebra de simetria no diálogo entre os auditores e as instituições financeiras”.

Por quebra de simetria pode-se entender uma eventual troca de informações incompletas, seja porque os bancos prestaram as informações sobre os financiamentos eram insuficientes, seja porque a auditoria foi menos diligente do que deveria ao exigir tais informações.

BTG nega responsabilidade

Em nota, o BTG reforçou que a responsabilidade pela prestação correta de informações para a auditoria era da Americanas, não dos credores.

Leia abaixo a íntegra do posicionamento do banco:

Como já esclarecido por outros bancos, a elaboração e aprovação de demonstrações financeiras que espelhem a realidade da companhia são responsabilidade única, exclusiva e não transferível da própria companhia e sua administração, incluindo sua diretoria e seu conselho de administração.

O BTG Pactual sempre tratou as suas operações com a Americanas de forma transparente, tanto que os saldos das operações foram regularmente reportados para o Sistema Central de Risco, mantido pelo Banco Central. Tais informações são plenamente acessíveis pela empresa devedora e terceiros autorizados por ela.

É completamente inconcebível alegar que o BTG Pactual iria compactuar com prática que poderia comprometer a sua exposição junto à companhia. A leviana criação de narrativas no intuito de atribuir aos Bancos qualquer tipo de responsabilidade neste lamentável episódio tem por objetivo desviar a atenção do problema central.

O BTG Pactual tem a firme convicção da correção de suas práticas e não se furtará a fazer valer todos os seus direitos.

Por fim, cumpre lembrar, que passadas três semanas desde o reconhecimento – pela própria Americanas – de práticas irregulares, nenhuma atitude efetiva foi tomada no sentido de sanar os problemas, capitalizar a Companhia ou atuar de maneira construtiva na recuperação da empresa e preservação de empregos e fornecedores.

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