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Americanas: comitê interno alega sigilo e não responde a questionamentos do Safra

Há duas semanas, banco enviou notificação a órgão interno que investiga a fraude na varejista, colocando em dúvida a atividade do grupo

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Fachada da loja Americanas em brasília - Metrópoles
1 de 1 Fachada da loja Americanas em brasília - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O comitê criado pela Americanas para apurar a fraude de mais de R$ 20 bilhões da varejista recusou-se a responder à maior parte das questões sobre a atividade do grupo feitas pelo Banco Safra, um dos principais credores da companhia. Em resposta às indagações da instituição financeira, formalizadas há duas semanas, o coordenador do comitê, o advogado Otávio Yasbek, alegou que são sigilosos os trabalhos realizados pelo núcleo interno de investigação.

“Tal sigilo não apenas é comum em investigações dessa natureza, como também se destina a preservar o bom andamento e a integridade dos trabalhos”, disse Yasbek. “Quando do término dos trabalhos e da sua comunicação para a companhia, caberá a esta, com base em critérios próprios, definir a forma de utilização dos resultados e da sua eventual divulgação. Por tais motivos, não é cabível a divulgação de tais fatos/conclusões, pelo Comitê, para quaisquer terceiros”.

O advogado observou ainda que o “comitê atua de forma independente, estritamente técnica, e conduz os seus trabalhos de acordo com uma metodologia própria, definida segundo as melhores práticas forenses e as especificidades de uma investigação de alta complexidade”.

Na resposta, Yaskeb acrescentou que as principais medidas de investigação adotadas até o momento “englobam a análise de dados provenientes de comunicações e de aparelhos de todas as pessoas abrangidas pela investigação (o que inclui funcionários, executivos e conselheiros da companhia)”. A avaliação por parte do comitê interno da atuação de funcionários e executivos já era conhecida (leia abaixo). Yasbek não informou, contudo, quais integrantes do conselho – ou de qual período – estariam sendo examinados.

Acionistas

Em 10 de agosto, os representantes legais do Safra, do escritório Warde Advogados, enviaram ao comitê uma notificação na qual queriam saber, especificamente, se o grupo adotou algum tipo de medida para investigar tanto integrantes do conselho de administração como os acionistas de referência da empresa – os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira (Beto Sicupira) e Marcel Telles.

Num dos trechos do documento, divulgado com exclusividade pelo Metrópoles, o Safra questionou se as investigações alcançaram, em especial, “o sr. Carlos Alberto Sicupira, que, como é de conhecimento comum, exercia rígido controle sobre a varejista”, cita o texto.

Os advogados do banco justificaram o pedido de esclarecimentos com base em fato relevante divulgado pela Americanas, em 13 de junho. Nele, apontava a notificação, a empresa havia reconhecido pela “primeira vez que as ‘inconsistências contábeis’ (termo usado pela Americanas em sua primeira manifestação sobre o episódio, em janeiro) eram, como já sabiam todos, simples fraudes contábeis”.

Culpa da diretoria

O fato relevante indicava que a maracutaia teria sido praticada, exclusivamente, por membros da diretoria anterior da companhia. Todos os nomes dos supostos envolvidos foram citados. Os documentos obtidos até então evidenciariam ainda “os esforços da diretoria anterior da Americanas para ocultar do conselho de administração e do mercado em geral” a verdadeira condição contábil da varejista e a fraude praticada.

O Safra questionou essa versão. “Como era mesmo de se esperar”, destacou a notificação do banco, “o documento preparado pela administração da companhia, por ordem – não há como ser diferente – dos seus acionistas, logo cuidou de isentar de qualquer responsabilidade os membros do conselho de administração e os controladores da Americanas, imputando toda a culpa pela multibilionária fraude contábil a um punhado bastante preciso de ex-funcionários”.

A seguir, o banco se referiu com ironia a esse núcleo de ex-funcionários apontados como autores da fraude: “Além de terem formado um grupo fechado para promover a maior fraude contábil do mercado brasileiro em uma das mais evidentes companhias nacionais, ainda teriam empenhado engenhosos esforços para, por mais de uma década, e de forma surpreendentemente exitosa, ludibriar o conselho de administração da companhia”. E arremata: “Conselho que, conquanto seja formado por alguns dos mais respeitados e experimentados executivos do país, teria sido, por pelo menos uma década, ‘enganado’ pelo seleto grupo de diretores”.

A notificação aponta também que, “em paralelo a tudo isso”, em 1º de agosto, depôs à CPI da Americanas, em curso na Câmara dos Deputados, Carla Ballangero, sócia da KPMG, responsável pela auditoria da Americanas até 2019. “No seu depoimento, a sra. Ballangero informou, com todas as letras, que desde pelo menos o ano de 2019, a administração da Americanas tem ciência de existência de indícios graves de fraude na contabilidade da companhia”.

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