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Americanas: arquivo “verde e vermelho” é base da fraude, diz delatora

Segundo Flávia Carneiro, números da Americanas eram adequados às expectativas de mercado; manobra existia para elevar valor das ações

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1 de 1 Imagem colorida da fachada das Lojas Americanas - Metrópoles - Foto: Igor Estrela/Metrópoles

A base da fraude da Americanas, estimada em R$ 25,2 bilhões, era feita a partir de um arquivo chamado “verde e vermelho”, que integrava o “kit de fechamento” trimestral dos dados da empresa. Ele era usado como uma espécie de “régua” para que a varejista definisse seus resultados de acordo com as expectativas do mercado. A informação foi dada à Polícia Federal (PF) pela ex-executiva da companhia, Flávia Carneiro, em delação premiada. 

As investigações da PF resultaram, na manhã desta quinta-feira (27/6), na Operação Disclosure (“divulgação” ou “revelação”, em inglês), para investigar supostos crimes cometidos por ex-executivos da Americanas. A ação também se baseou na colaboração premiada de Marcelo Nunes, ex-diretor financeiro da empresa. Flávia Carneiro era ex-superintendente de Controladoria da B2W e, posteriormente, também da varejista. 

As delações começaram a ser feitas em novembro de 2023 e, em algumas etapas, contaram com a participação dos auditores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que auxiliaram na elucidação de questões técnicas sobre o caso. 

“Diante da amplitude e complexidade dos fatos, foram necessários vários dias de oitivas, e, em que pesem as intimações tenham se iniciado em novembro, o completo esclarecimento dos fatos só ocorreu com a consolidação das informações prestadas pelos colaboradores”, diz a Polícia Federal (PF). Nesse processo, Nunes e Flávia apresentaram mais de 300 documentos para balizar suas declarações.

“Manobras fraudulentas”

As denúncias, segundo a PF, indicam a ocorrência de “manobras fraudulentas destinadas a elevar a cotação das ações das Americanas, com o fim de obter vantagem indevida através do recebimento de bônus e outras vantagens financeiras”.

Flávia Carneiro afirmou que os gestores da companhia mantinham um arquivo chamado “verdes e vermelhos” ou “estimativa de analistas”, preparado pelo setor de Relações com Investidores (RI) da empresa. Nele, constava a previsão dos analistas sobre o desempenho da varejista. “Havia uma expectativa de mercado para que a cotação das ações chegasse a tal patamar, e esta expectativa era atingida com base nos resultados apresentados pelas Americanas”. 

Lucros artificiais

Segundo a PF, constatou-se na varejista a existência de uma “complexa rede de irregularidades sistematicamente articuladas com o propósito de inflacionar de maneira artificial os lucros reportados pelo Grupo Americanas”. Além disso, “a investigação revelou que, subjacente a essas ações fraudulentas, havia uma dupla motivação por parte dos envolvidos, atuando de maneira simultânea, embora independentemente”. 

Essa motivação visava, segundo a PF,  “atingir metas financeiras internas pré-estabelecidas, o que resultava na obtenção de bonificações para os indivíduos diretamente envolvidos na fraude”. “Em segundo lugar, procurava-se manipular e elevar de forma ilícita o valor de mercado das ações das empresas do Grupo Americanas que operavam na Bolsa de valores”. 

“Ganhos financeiros”

“Essa manipulação garantia ganhos financeiros não justificados para os agentes delituosos, os quais possuíam participações acionárias nas entidades corporativas afetadas”. Acrescenta a Polícia Federal: “Tal conduta ilícita resultou em prejuízos substanciais para os demais acionistas, mormente os minoritários, que, baseando-se na credibilidade e na aparente legitimidade das informações financeiras divulgadas nos balanços trimestrais, efetuavam transações acionárias a preços significativamente inflacionados. Estes investidores operavam sob a falsa premissa da saúde financeira das companhias, uma percepção distorcida pela ocultação intencional das verdadeiras condições econômico-financeiras do Grupo Americanas”. 

De acordo com o relatório da PF, o “impacto nocivo” dessa prática fraudulenta foi “abruptamente evidenciado pela drástica desvalorização no preço das ações no momento em que as irregularidades foram publicamente reveladas ao mercado”. “A divulgação dessas informações expôs apenas uma visão parcial do escopo total da fraude, mas foi suficiente para demonstrar a magnitude do dano causado, tanto em termos financeiros quanto no que se refere à confiança do investidor no sistema de mercado de capitais”, afirma a investigação. 

“Kit fechamento”

Os colaboradores esclarecem que a equipe de Relações com Investidores (RI), preparava o arquivo comparativo, denominado “verdes e vermelhos”, que integrava o “kit de fechamento” trimestral. O documento apresentava comparativos dos números prévios de resultado versus as expectativas do mercado em algumas linhas de maior foco, tais como Receita Bruta, Margem Bruta, EBITDA e Lucro Líquido”. 

Assim, a pedido dos gestores, os números reais eram “artificialmente incrementados, não apenas para ficarem próximos ao orçado, mas também condizentes com as expectativas do mercado”. “É o que se extrai, exemplificativamente, da conversa de WhatsApp enviada por Carlos Padilha, ex-diretor financeiro da companhia, para Flávia, em 20 de abril de 2018, afirmando que “Fabien [diretor executivo de Relações com o Investidor da Americanas] me retornou dizendo que não está bom, margem, resultado financeiro e lucro. Ele te falou isso? A ideia de vcs sentarem é pra ajudar”. “Como se vê, Padilha relata demanda do diretor de Relações com o Investidor por números falsos que atendessem melhor à expectativa dos investidores”, diz o relatório da PF.

Capital de giro

Segundo as denúncias feitas pelos colaboradores, a evolução do capital de giro em relação aos períodos anteriores de divulgação era uma métrica importante para a Americanas. “Havia um acompanhamento mensal, conforme já explicado acima. Nos trimestres, principalmente, a colaboradora [Flávia] recebia de Carlos Padilha a meta a ser perseguida para a divulgação de resultados”, dia a PF.

A defesa de Miguel Gutierrez afirma “que não teve acesso aos autos das medidas cautelares deferidas nesta quinta-feira (27) e por isso não tem o que comentar”. “Miguel reitera que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”.

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