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Adriano Pires: mercado penaliza Petrobras, que “abandonou disciplina”

Para o economista, que quase assumiu a presidência da Petrobras em 2022, política de preços da companhia “virou uma caixa-preta”

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Pedro França/Agência Senado
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. Ele fala em comissão no Senado, diante de microfone - Metrópoles
1 de 1 O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. Ele fala em comissão no Senado, diante de microfone - Metrópoles - Foto: Pedro França/Agência Senado

A queda anual de 47% no lucro líquido da Petrobras, no segundo trimestre de 2023, não pode ser explicada apenas pela desvalorização do preço do barril do petróleo e tem a ver com uma interferência política cada vez maior na companhia. A avaliação é do economista Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e considerado um dos principais especialistas do país no setor de energia.

Em entrevista ao Metrópoles, Pires – que foi indicado para assumir a Petrobras em 2022, mas recusou o convite – afirma que a companhia vem falhando em pelo menos três pontos básicos, considerados primordiais pelo mercado para demonstrar solidez e credibilidade aos investidores.

“Uma empresa como a Petrobras tem sempre de mostrar para o mercado que possui três qualidades: disciplina de capital, uma política de preços coerente com o que acontece no mercado e uma política clara de distribuição de dividendos. A Petrobras, neste período do governo Lula, não cumpriu nenhum desses requisitos. E aí o mercado penaliza”, diz o economista.

“A Petrobras parou com o programa de venda de ativos e quer rever o acordo do Cade (assinado em 2019, que previa a venda de refinarias), com critérios exclusivamente ideológicos. Além disso, há notícias de que a empresa está inchando ainda mais, abrindo escritório no Rio Grande do Norte e na Bahia, sem grande preocupação com os custos. Isso tudo mostra que a empresa abandonou a disciplina de capital”, explica Pires.

Segundo o diretor do CBIE, a mudança na política de preços da Petrobras para os combustíveis, com o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI), que vinculava as tarifas à flutuação do valor praticado no mercado internacional, também foi um péssimo sinal e influenciou no resultado negativo do segundo trimestre.

“Quando fizeram a mudança, ficou claro que a paridade vai valer quando o petróleo estiver caindo de preço. Quando o petróleo subir, ela não vale mais e aí volta o populismo. O mercado sempre se assustou em relação a esse assunto, desde a eleição, porque o presidente Lula sempre falou que a política nova seria ‘abrasileirar’ o preço”, afirmou. “O resultado da Petrobras mostra claramente que o mercado vai olhar a Petrobras como uma empresa que abandonou a disciplina de capital. A política de preços virou uma caixa-preta.”

Além da redução no lucro no segundo trimestre, a Petrobras viu diminuir também o valor dos dividendos distribuídos aos acionistas. O valor total a ser pago é de cerca de R$ 15 bilhões, o que representa uma redução de 39% em relação ao primeiro trimestre (R$ 24,7 bilhões) e de 83%, na comparação com o mesmo período do ano passado (R$ 87,8 bilhões).

“Sem disciplina de capital, sem uma política de preços de mercado, a quantidade de dividendo dividido diminui”, afirma Pires.

Queda no preço do barril de petróleo

Ainda de acordo com Adriano Pires, a redução de 31,1% no preço médio do petróleo Brent entre abril e junho, na comparação com o mesmo período do ano passado (para US$ 78,39), é um dos fatores que levaram à queda no lucro da empresa – mas está longe de ser a única explicação.

“Obviamente, a queda de lucro da Petrobras também tem a ver com a queda no preço do barril. Essa é uma explicação de mercado. Agora, se a empresa mantivesse a sua disciplina de capital, se mantivesse o programa de venda de ativos, uma política de preços de mercado e uma política de dividendos clara e transparente, mesmo com a queda do preço do barril, a redução do lucro não seria tão grande”, diz Pires.

“Quando o mercado começa a observar que as decisões da empresa são tomadas estritamente pela lógica ideológica e que o pessoal abandonou a aritmética, aí não dá”, prossegue o economista. “Ideologia não se discute, cada um tem a sua. Mas administrar uma empresa do tamanho da Petrobras só com ideologia não vai dar certo. Já vimos isso. Não se pode repetir os mesmos erros do passado.”

Mercado teme interferência política

Ao Metrópoles, Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset, com passagens por BTG Pactual e RPS Capital, atribuiu a queda no lucro da Petrobras, principalmente, ao recuo no preço do petróleo. Porém, segundo ele, os efeitos da nova política de preços da estatal devem começar a causar impacto negativo nos próximos meses.

“Na minha avaliação, a queda da lucratividade ainda não foi resultado das mudanças na paridade. Esse efeito deverá se concretizar nos resultados dos próximos trimestres”, diz Leal de Barros. “Os números atuais são resultado da redução das margens internacionais de refino do óleo diesel e do recuo na cotação do petróleo.”

Para Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, apesar da queda no lucro, o balanço da Petrobras “mostrou números sólidos referentes ao segundo trimestre”. No entanto, ele cita uma possível “interferência política” na companhia como um fator de risco.

“Nos patamares atuais de preço e lucro e diante do aumento da possibilidade de interferência política, o risco em relação ao retorno desse investimento já não nos parece mais tão atrativo”, afirma Hungria.

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